30 de março de 2018

Kontaminantes ☣ , Boyhood , Aventura-filme , Filmes ,

Boyhood

Pôster


Richard Linklater mais um ambicioso projeto desenvolvido durante 12 anos, só se pode esperar um resultado estupendo, certo? Na verdade, nem tanto.
Boyhood é como um álbum de fotografias, o recorte de diversas fases e capítulos da vida de um jovem que se compila em formato de filme. No entanto, se por um lado o longa consegue imprimir a passagem do tempo e a mudança de perspectiva de seu protagonista por meio de sua montagem inusitada, o mesmo não obtém êxito ao transparecer as emoções e sentimentos inerentes a cada etapa etária deixada, há transformações físicas e eventos de impacto, mas tais acontecimentos não reverberam de maneira expressiva na personalidade de Mason, eles simplesmente acontecem e são esquecidos. Ademais e todavia, visto que o tempo é um dos primordiais fatores para concepção desta obra, a película acerta em sua acometida de não demarcar sua passagem de forma nítida, deixando com que o espectador o perceba naturalmente pelas mudanças sutis que acercam o cotidiano dos personagens, a fisionomia envelhecida dos atores e pela alternância do visual dos mesmos.
Embora Boyhood seja uma estória sobre o crescer, transformações e amadurecimento que procura tecer importantes reflexões a respeito da vida e o amargo contraste entre as expectativas que se tem do mundo e do futuro para com a "cru" realidade, falta verossimilhança no modo com que o entrecho se desenrola, verossimilhança também ausente nos diálogos que servem como predominante recurso narrativo. Tais confabulações são mal-ajambradas, verbalizam todas boas propostas do filme ao invés de deixá-las fluir com naturalidade permeadas ao enredo, torna-se uma linguagem expositivamente infuncional e demasiado compelida. Em contraparte, as conversações entre o Sr. Mason e seu filho de mesmo nome são um deleite de se ver, ele o ensinando sobre a vida e aconselhando acerca de seus dilemas, a troca de experiências vocalizadas que preenchem a rotina de ambos... é frustantemente discrepante a forma orgânica que se dá a química entre eles, mas não entre os outros personagens. Além, o longa é blasé na confecção da maioria de suas figuras secundárias, muitas até possuem um momento de maior realce, porém que não se justifica posteriormente, falta-lhes espaço apesar das quase 3 horas de filme (talvez uma série, referente a abordagem e aprofundamento de personalidades e arcos, pudesse ser mais viável que um longa-metragem). É o caso dos dois maridos da Olivia, especificamente o segundo sobre o qual o roteiro faz questão de pincelar diversas insinuações para seu caráter "odioso", mas que não se conclui ou fornece concretas explicações, tornando-se assim um personagem vago e potencialmente desperdiçado. Aliás, não há um porquê do script utilizar dois maridos repugnantes para fazer par da Olivia, é modorrento e redundante.
Para se fazer uma película como Boyhood, obviamente se é necessário um elenco competente e dedicado, afinal, gravar ao correr de 12 anos um mesmo filme deve ser no mínimo tedioso e exaustivo, e tal dedicação é vista em tela, principalmente no que diz respeito a Ethan Hawke que interpreta com talento e contundência um pai "solteirão" e despretensioso que logo se vê chefiando uma nova família e envolto por responsabilidades. Patricia Arquette igualmente está muito bem como uma mãe que lida com as contendas da respectiva posição e frequentemente é alvo de infortúnios da vida, seja numa escolha ruim de esposo ou no perder dos filhos para a idade adulta, sua angústia interior chega a ser palpável. Entretanto nada se compara a Ellar Coltrane, possivelmente o ator mais insosso deste século, ele fica com uma única só expressão ao correr de todo o longa que faz com que o público constantemente queira socá-lo. Todavia, embora apático entrecho e protagonista, a trilha sonora é bastante enérgica e dialoga em contexto com os segmentos que a acompanham.
Em suma, Boyhood, apesar de ser um filme difícil de se desgostar, tem como cerne um enredo que não consegue corresponder a genuinidade propiciada por sua edição audaciosa e singular.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog

Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 30 de outubro de 2014 (2h 45min)
Direção: Richard Linklater
Elenco: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
Acompanhe a vida do garoto Mason durante um período de doze anos, da infância à juventude, analisando seu relacionamento com os pais, suas descobertas, experiências e seus conflitos.

Avaliação:
IMDb: 7,9
Rotten: 97%
Metacritic: 100%
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,3/5,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
Avaliação

Nenhum comentário:

Postar um comentário