Richard Linklater mais um ambicioso projeto
desenvolvido durante 12 anos, só se pode esperar um resultado estupendo, certo?
Na verdade, nem tanto.
Boyhood é como um álbum de fotografias, o
recorte de diversas fases e capítulos da vida de um jovem que se compila em
formato de filme. No entanto, se por um lado o longa consegue imprimir a
passagem do tempo e a mudança de perspectiva de seu protagonista por meio de
sua montagem inusitada, o mesmo não obtém êxito ao transparecer as emoções e
sentimentos inerentes a cada etapa etária deixada, há transformações físicas e
eventos de impacto, mas tais acontecimentos não reverberam de maneira expressiva
na personalidade de Mason, eles simplesmente acontecem e são esquecidos.
Ademais e todavia, visto que o tempo é um dos primordiais fatores para
concepção desta obra, a película acerta em sua acometida de não demarcar sua
passagem de forma nítida, deixando com que o espectador o perceba naturalmente
pelas mudanças sutis que acercam o cotidiano dos personagens, a fisionomia
envelhecida dos atores e pela alternância do visual dos mesmos.
Embora Boyhood seja uma estória sobre o
crescer, transformações e amadurecimento que procura tecer importantes
reflexões a respeito da vida e o amargo contraste entre as expectativas que se
tem do mundo e do futuro para com a "cru" realidade, falta
verossimilhança no modo com que o entrecho se desenrola, verossimilhança também
ausente nos diálogos que servem como predominante recurso narrativo. Tais
confabulações são mal-ajambradas, verbalizam todas boas propostas do filme ao
invés de deixá-las fluir com naturalidade permeadas ao enredo, torna-se uma
linguagem expositivamente infuncional e demasiado compelida. Em contraparte, as
conversações entre o Sr. Mason e seu filho de mesmo nome são um deleite de se
ver, ele o ensinando sobre a vida e aconselhando acerca de seus dilemas, a
troca de experiências vocalizadas que preenchem a rotina de ambos... é
frustantemente discrepante a forma orgânica que se dá a química entre eles, mas
não entre os outros personagens. Além, o longa é blasé na confecção da maioria
de suas figuras secundárias, muitas até possuem um momento de maior realce,
porém que não se justifica posteriormente, falta-lhes espaço apesar das quase 3
horas de filme (talvez uma série, referente a abordagem e aprofundamento de
personalidades e arcos, pudesse ser mais viável que um longa-metragem). É o
caso dos dois maridos da Olivia, especificamente o segundo sobre o qual o
roteiro faz questão de pincelar diversas insinuações para seu caráter
"odioso", mas que não se conclui ou fornece concretas explicações,
tornando-se assim um personagem vago e potencialmente desperdiçado. Aliás, não
há um porquê do script utilizar dois maridos repugnantes para fazer par da
Olivia, é modorrento e redundante.
Para se fazer uma película como Boyhood,
obviamente se é necessário um elenco competente e dedicado, afinal, gravar ao
correr de 12 anos um mesmo filme deve ser no mínimo tedioso e exaustivo, e tal
dedicação é vista em tela, principalmente no que diz respeito a Ethan Hawke que
interpreta com talento e contundência um pai "solteirão" e
despretensioso que logo se vê chefiando uma nova família e envolto por
responsabilidades. Patricia Arquette igualmente está muito bem como uma mãe que
lida com as contendas da respectiva posição e frequentemente é alvo de
infortúnios da vida, seja numa escolha ruim de esposo ou no perder dos filhos
para a idade adulta, sua angústia interior chega a ser palpável. Entretanto
nada se compara a Ellar Coltrane, possivelmente o ator mais insosso deste
século, ele fica com uma única só expressão ao correr de todo o longa que faz
com que o público constantemente queira socá-lo. Todavia, embora apático
entrecho e protagonista, a trilha sonora é bastante enérgica e dialoga em
contexto com os segmentos que a acompanham.
Em suma, Boyhood, apesar de ser um filme
difícil de se desgostar, tem como cerne um enredo que não consegue corresponder
a genuinidade propiciada por sua edição audaciosa e singular.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 30
de outubro de 2014 (2h 45min)
Direção: Richard Linklater
Elenco: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan
Hawke…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
Acompanhe
a vida do garoto Mason durante um período de doze anos, da infância à
juventude, analisando seu relacionamento com os pais, suas descobertas,
experiências e seus conflitos.
Avaliação:
IMDb:
7,9
Rotten:
97%
Metacritic:
100%
Filmow (média
geral): 4,0
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,3/5,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
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