27 de março de 2021

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Mank


Marcada por produções amplamente aceitas por público e crítica, a filmografia de David Fincher é de causar inveja a qualquer um. Desde grandes clássicos, como Clube da Luta e Seven, passando pelo cult Vidas em Jogo e os mais recentes e conceituados Garota Exemplar e A Rede Social, a carreira do diretor norte-americano ostenta obras dos mais diversos gêneros, possuindo em comum a qualidade e o selo incontestável de sua autoria. Com Mank, seu mais novo lançamento, o cineasta, entretanto, decide se aventurar por um tipo de empreitada inusitada, esmiuçando a vida de um famoso roteirista e o processo criativo por trás de um dos melhores filmes de todos os tempos: Cidadão Kane.
Em primeira análise, é importante frisar que Mank é um longa feito para espectadores seletos. Isto é, diferentemente dos trabalhos anteriores da cinebiografia de Fincher, Mank jamais se propõe a entreter ou discutir pautas sociais em seu enredo, focando, em contraparte, em um período histórico que causou grande impacto em Hollywood e influenciou diretamente a jornada de escrita da película de Orson Welles. É um filme extremamente pessoal que visa homenagear uma das mentes mais brilhantes que o cinema já viu (Herman J. Mankiewicz), funcionando, sobretudo, como ferramenta de estudo da Velha Hollywood, análise política e catalisador de debates acerca de uma das maiores polêmicas que ressurtem da sétima arte.
Dito isso, os aspectos técnicos do longa corroboram a concepção atmosférica em todas as suas nuances, fazendo desta uma autêntica produção com a assinatura dos anos 30 e 40. A fotografia em preto e branco obtém êxito ao atribuir uma roupagem vetusta à película, além de remeter visualmente a obras centenárias que o filme procura emular. Nesse sentido, o figurino e o design de produção são faustosos, exibindo capricho e acuidade até nos mínimos detalhes. Por sua vez, Gary Oldman, na pele do protagonista Herman, tem uma performance hipnótica. Seu personagem é cheio de maneirismos, tem uma língua afiada e um cáustico cinismo que angaria tanto aliados quanto inimigos. Os trechos em que Oldman faz um Mank bêbado e impulsivo são tão convincentes quanto os que ele se encontra sóbrio, ademais do seu linguajar pomposo adicionar camadas a uma interpretação magnética.
No entanto, Mank também possui deméritos. O vai e vem temporal é uma bagunça, o desfecho é muito picotado e a completa imersão no roteiro depende de um amplo conhecimento prévio a respeito do contexto, o que, inevitavelmente, acaba repelindo alguns assistentes. Desse modo, embora o longa tenha sido moldado a partir da perspectiva de um cinéfilo apaixonado pela própria estória, faltam informações para orientar o público leigo, o que torna muitos dos personagens periféricos meros rostos a integrar o elenco de apoio, ainda que desempenhem papeis relevantes ao desenrolar do entrecho. Por outro lado, é válido dizer que a carência de dados serve como estímulo para que o espectador conduza suas próprias pesquisas e tenha um posicionamento sobre os temas tratados.
Por fim, Mank é um filme de nicho que fala sobre política, Hollywood e célebres figuras da indústria cinematográfica, além de contar com uma atuação carismática de Gary Oldman, ser tecnicamente irretocável e suscitar o interesse dos assistentes em saber mais da estória contada.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Netflix): 04 de dezembro de 2020
Direção: David Fincher
Elenco: Gary Oldman, Amanda Seyfried, Lily Collins...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Netflix):
A Hollywood da década de 1930 é vista pelo olhar crítico do roteirista Herman J. Mankiewicz, em meio aos seus esforços para terminar o roteiro de Cidadão Kane.
 
Avaliação:
IMDb: 7,1
Rotten: 82%
Metacritic: 79%
Filmow (média geral): 3,4
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,4/5,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7


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