24 de março de 2021

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Judas e o Messias Negro


Após ser indicado ao Oscar por sua performance em Corra!, Daniel Kaluuya, 3 anos mais tarde, repete o feito com Judas e o Messias Negro. Vencedor do Globo de Ouro e do Critic's Choice Awards de Melhor Ator Coadjuvante, prêmios que são parâmetros para a principal cerimônia da temporada, Kaluuya é o franco favorito a levar a estatueta dourada para casa. Mas será que esse favoritismo se justifica?
Dirigido por Shaka King, Judas e o Messias Negro tem um segmento logo em seu início que já denota a destreza de seu condutor. É um plano-sequência extremamente perspicaz em que o diretor demonstra total controle da câmera, do espaço e do ator que protagoniza a cena. Sobretudo, vale salientar o intuito narrativo que esta possui, seja o de introdução de personagem, quanto de contextualização a respeito de futuros eventos que catalisarão parte da trama. Outrossim, Shaka desempenha similar proficiência ao cadenciar a mescla de gêneros que rege o roteiro.
Entretanto, ainda que o controle tonal seja equilibrado, o primeiro ato possui imperfeições que devem ser notadas. O início do romance entre Deborah e Hampton é narrativamente coercivo, relapso e anticlimático. Mesmo que os atores apresentem uma boa química em tela, a maior parte dos trechos em que ambos são vistos juntos são dispersos e artificiais, reverberando reais efeitos somente quando próximo ao clímax da obra. Por sua vez, a inserção das forças policiais como os grandes antagonistas do filme articula-se logo ao princípio do entrecho, todavia sob uma ótica unilateral e respaldada por um discurso raso e formulaico.
Apesar disso, tal abordagem dialoga sinergicamente com a proposta do longa em fazer uma crítica massiva aos militares e a repressão racista imposta por estes. Dessa forma, a película se dedica a explorar muitas das ações revoltantes exercidas pelos oficiais, acarretando, por conseguinte, um sólido clima de fraternidade entre os personagens que contagia e toca os assistentes. Nesse sentido, o desfecho avassalador corrobora a atmosfera vigente e desperta maior indignação consoante a veracidade dos eventos retratados. É uma forma eficaz que a película encontra para gerar debates e impor sua posição frente aos recentes escândalos envolvendo policiais em solo americano, como o assassinato de George Floyd.
Sobretudo, Judas e o Messias Negro é sobre a trajetória de dois homens que, entrelaçados pelas cordas de um sistema que rivaliza irmão contra irmão, lidam com seus conflitos e interesses de modos bem distintos. Analogamente ao título que diz muito acerca da estória contada, o espectador é levado a acompanhar o trajeto de um emblemático líder que lutou pela causa de seu povo, e os dilemas enfrentados por um indivíduo que optou por trair seus irmãos e o movimento do qual fazia parte. Desse modo, o filme tece um importante exercício de reflexão social e um estudo através da história com um dos momentos mais relevantes do embate étnico-racial contemporâneo.
Concernente às performances, Daniel Kaluuya, na pele de Fred Hampton, tem uma presença marcante e um discurso potente em tela, mas é Lakeith Stanfield quem rouba a cena. Transitando com primazia pelas várias facetas que seu personagem apresenta ao correr do enredo, Lakeith incorpora a dubiedade de sua persona com propriedade; ele sabe ser malandro, demonstrar medos e receios, ficar nervoso e até fingir emoções para manipular os que estão à sua volta. Por fim, o elenco de apoio conta com atuações igualmente vigorosas, sustentadas por pequeninas subtramas que ensejam o núcleo central.
Judas e o Messias Negro, em suma, tem um primeiro ato inconsistente, porém atuações notórias e uma pauta premente que fazem da produção uma experiência fílmica imperdível nos dias de hoje.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 25 de fevereiro de 2021
Direção: Shaka King
Elenco: Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Jesse Plemons...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):
Judas e o Messias Negro é a história de ascensão e queda de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. Um jovem proeminente na política, ele atrai a atenção do FBI, que com a ajuda de William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba infiltrando os Panteras Negras e causando o assassinato de Hampton.
 
Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten: 96%
Metacritic: 85%
Filmow (média geral): 4,1
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,7/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7,5


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