O último filme que teve como protagonista um baterista que deixou a todos boquiabertos, foi Whiplash. Responsável por apresentar uma das melhores performances da década e um enredo entusiasmante em consonância a uma direção impecável, o longa deixou o mundo cinéfilo com saudades. Paralelamente, O Som do Silêncio (Sound of Metal), película de estreia do diretor Darius Marder, também possui um baterista como personagem principal e, apesar da trama seguir rumos bem diferentes da obra de Damien Chazelle, sua qualidade é incontestável.

A priori, vale dizer que O Som do Silêncio é uma produção extremamente imersiva. A cena de abertura atesta exatamente isso, inserindo o espectador em um visceral show de heavy metal, onde este é convidado a experimentar as mesmas sensações do personagem Ruben que está entregue ao concerto. É uma sequência introdutória singela, mas que já denota a perícia do filme em submergir seu público em uma rica experiência fílmica sensorial.

Dito isso, a maneira com que Marder usa o som para contar sua estória é bastante hábil e eloquente. Os efeitos sonoros emulam as fases que compõe a perda de audição de Ruben, desde os vagos sons que ele consegue ouvir até os momentos de repentina surdez. Nesse sentido, o assistente se vê na pele do personagem e compartilha de sua aflição na luta por escutar algo, principalmente sendo alguém que toda a vida pôde ouvir e subitamente teve um de seus sentidos primordiais roubados, o que é acentuado tendo em vista a profissão exercida por este. Por conseguinte, o espectador é facilmente convencido a investir nessa estória, visto que desde o princípio se estabelece um laço empático com Ruben que leva o público a vibrar com cada conquista do personagem.

Outrossim, ao dar ênfase a uma seara socialmente desdenhada, o roteiro faz com que assistentes e personagens sejam pegos desamparados em meio as interações dos demais semblantes em tela que, por sua vez, se comunicam através de Libras. Os trechos não contêm legenda, estimulando o espectador a se interessar pelo aprendizado da língua, além de ser uma forma inteligente e inclusiva de subverter uma situação comum no dia a dia de pessoas com diferentes graus de deficiência auditiva. Posto isto, muitos dos coadjuvantes são responsáveis por esse gancho, edificando a trama conceitual e estruturalmente.

Concernente à dupla protagonista, Ruben e Lou, desde o primeiro instante a química que rege a relação entre eles é envolta por muito amor e verdade. É um namoro bastante genuíno que serve de base para o desenvolvimento central de Ruben e como aditivo dramático de escolhas narrativas feitas posteriormente. As atuações de ambos os intérpretes também devem ser exaltadas. Olivia Cooke (Lou) transmite com vigor toda a angústia, impotência e preocupação de sua persona frente às circunstâncias vigentes, mas é Riz Ahmed (Ruben) quem brilha. Dono de uma performance acachapante, o ator exprime de modo veraz as transições emocionais exigidas pelo papel; ele começa confuso e receoso com a nova condição, o que logo se transforma em raiva, negação e, finalmente, resignação.

Destarte, O Som do Silêncio é sobre a jornada empedernida de autoconhecimento de um homem, aceitação, recomeço e desapego. Dentro desse quesito, o script não se limita a abordar apenas as consequências que a perda da audição acarreta ao Ruben, desenhando, por outro lado, um cenário mais amplo que contempla todas as nuances da vida deste e tecem um retrato fidedigno da realidade. Desse modo, os arcos que abrangem o relacionamento de Ruben com a namorada e seu vício em heroína, apesar de sutilmente pincelados, servem para dar camadas ao personagem e impor reflexões acerca do papel que exercemos na vida das pessoas e até que ponto somos benéficos para quem amamos.

No mais, O Som do Silêncio é uma obra dura e amarga, porém mais que arrebatadora para despontar como um dos melhores trabalhos audiovisuais de 2020.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog

 

Ficha Técnica:

Data de lançamento (Amazon Prime): 04 de dezembro de 2020

Direção: Darius Marder

Elenco: Riz Ahmed, Olivia Cooke, Lauren Ridloff...

Gênero: Drama

Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):

Em Sound of Metal, um jovem baterista teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. Duas paixões estão em jogo: a música e sua namorada, que é integrante da mesma banda de heavy metal que o rapaz. Essa mudança drástica acarreta em muita tensão e angústia na vida do baterista, atormentado lentamente pelo silêncio.

 

Avaliação:

IMDb: 7,8

Rotten: 91%

Metacritic: 82%

Filmow (média geral): 4,1

Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,0/4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 10

O Som do Silêncio

O último filme que teve como protagonista um baterista que deixou a todos boquiabertos, foi Whiplash. Responsável por apresentar uma das melhores performances da década e um enredo entusiasmante em consonância a uma direção impecável, o longa deixou o mundo cinéfilo com saudades. Paralelamente, O Som do Silêncio (Sound of Metal), película de estreia do diretor Darius Marder, também possui um baterista como personagem principal e, apesar da trama seguir rumos bem diferentes da obra de Damien Chazelle, sua qualidade é incontestável.

A priori, vale dizer que O Som do Silêncio é uma produção extremamente imersiva. A cena de abertura atesta exatamente isso, inserindo o espectador em um visceral show de heavy metal, onde este é convidado a experimentar as mesmas sensações do personagem Ruben que está entregue ao concerto. É uma sequência introdutória singela, mas que já denota a perícia do filme em submergir seu público em uma rica experiência fílmica sensorial.

Dito isso, a maneira com que Marder usa o som para contar sua estória é bastante hábil e eloquente. Os efeitos sonoros emulam as fases que compõe a perda de audição de Ruben, desde os vagos sons que ele consegue ouvir até os momentos de repentina surdez. Nesse sentido, o assistente se vê na pele do personagem e compartilha de sua aflição na luta por escutar algo, principalmente sendo alguém que toda a vida pôde ouvir e subitamente teve um de seus sentidos primordiais roubados, o que é acentuado tendo em vista a profissão exercida por este. Por conseguinte, o espectador é facilmente convencido a investir nessa estória, visto que desde o princípio se estabelece um laço empático com Ruben que leva o público a vibrar com cada conquista do personagem.

Outrossim, ao dar ênfase a uma seara socialmente desdenhada, o roteiro faz com que assistentes e personagens sejam pegos desamparados em meio as interações dos demais semblantes em tela que, por sua vez, se comunicam através de Libras. Os trechos não contêm legenda, estimulando o espectador a se interessar pelo aprendizado da língua, além de ser uma forma inteligente e inclusiva de subverter uma situação comum no dia a dia de pessoas com diferentes graus de deficiência auditiva. Posto isto, muitos dos coadjuvantes são responsáveis por esse gancho, edificando a trama conceitual e estruturalmente.

Concernente à dupla protagonista, Ruben e Lou, desde o primeiro instante a química que rege a relação entre eles é envolta por muito amor e verdade. É um namoro bastante genuíno que serve de base para o desenvolvimento central de Ruben e como aditivo dramático de escolhas narrativas feitas posteriormente. As atuações de ambos os intérpretes também devem ser exaltadas. Olivia Cooke (Lou) transmite com vigor toda a angústia, impotência e preocupação de sua persona frente às circunstâncias vigentes, mas é Riz Ahmed (Ruben) quem brilha. Dono de uma performance acachapante, o ator exprime de modo veraz as transições emocionais exigidas pelo papel; ele começa confuso e receoso com a nova condição, o que logo se transforma em raiva, negação e, finalmente, resignação.

Destarte, O Som do Silêncio é sobre a jornada empedernida de autoconhecimento de um homem, aceitação, recomeço e desapego. Dentro desse quesito, o script não se limita a abordar apenas as consequências que a perda da audição acarreta ao Ruben, desenhando, por outro lado, um cenário mais amplo que contempla todas as nuances da vida deste e tecem um retrato fidedigno da realidade. Desse modo, os arcos que abrangem o relacionamento de Ruben com a namorada e seu vício em heroína, apesar de sutilmente pincelados, servem para dar camadas ao personagem e impor reflexões acerca do papel que exercemos na vida das pessoas e até que ponto somos benéficos para quem amamos.

No mais, O Som do Silêncio é uma obra dura e amarga, porém mais que arrebatadora para despontar como um dos melhores trabalhos audiovisuais de 2020.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Amazon Prime): 04 de dezembro de 2020

Direção: Darius Marder

Elenco: Riz Ahmed, Olivia Cooke, Lauren Ridloff...

Gênero: Drama

Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):

Em Sound of Metal, um jovem baterista teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. Duas paixões estão em jogo: a música e sua namorada, que é integrante da mesma banda de heavy metal que o rapaz. Essa mudança drástica acarreta em muita tensão e angústia na vida do baterista, atormentado lentamente pelo silêncio.

 

Avaliação:

IMDb: 7,8

Rotten: 91%

Metacritic: 82%

Filmow (média geral): 4,1

Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,0/4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 10