You talkin' to
me?
Responsável por uma das mais icônicas frases do
cinema, Taxi Driver, que denota mais uma parceria entre Martin Scorsese e
Robert De Niro (a 2ª de oito, para ser exato), segue a jornada do ex-fuzileiro
naval Travis como taxista pelas ruas de Nova York. Explorando as imundícies das
madrugadas da respectiva cidade, o filme é um dos mais aclamados do diretor,
todavia um dos mais controversos da época consoante sua violência excessiva,
sendo até mesmo vaiado durante a premiação em Cannes. Contudo, convenhamos, se
o mesmo conseguiu ser prestigiado com a Palma de Ouro, é certo que tem algo a
oferecer.
Com uma sequência inicial que ressalta NY sob a
visão do protagonista, esta que logo de cara sugere, com um enfoque nos olhos,
a inconstância mental do personagem, igualmente se vê acompanhada por uma
trilha sonora instrumental e cacofônica que será recorrente ao correr do longa,
da mesma maneira que uma ambientação noturna e iluminação escura. Ao ser
apresentado como um sujeito da noite, Travis, detentor de insônia (que o diga
esses caras malucos que não dormem, como o de Clube da Luta), interpretado
deslumbrantemente por Robert De Niro em um papel bem distinto de outro grande
trabalho do ator, Coração Satânico (leia aqui), transmite magistralmente o
caráter do individuo que beira a insanidade, em específicos momentos chegando a
exaltar aspectos que podem ser considerados doentios e psicopáticos
(principalmente com aquele tresloucado moicano). Servindo como alicerce de
reflexões acerca da solidão e questões existenciais, Travis, consoante o
aprofundamento de sua instabilidade psicológica, constitui um interessante
estudo de personalidade, este que, conforme sua ignorância ao mundo alheio
acaba por tirar conclusões equivocadas sobre certos assuntos e causar bastante
vergonha e constrangimento alheio. Podendo-se traçar determinadas semelhanças
entre Travis e Rorschach (Watchmen), o mesmo ainda age como influência de
ideias que enfatizam a justiça com as próprias mãos e sente na pele a
turbulenta vida dos taxistas de uma babélica cidade, esta representada da forma
mais caótica possível enaltecendo as mais divergentes personalidades podres e
conflitos que se propagam por suas ruas durante a escuridão. Também se deve
notificar uma rápida visão que se tinha sobre os negros da época presente no
entrecho.
Conduzido brilhantemente, o filme, que foge da
maioria dos conceitos convencionais de produções semelhantes ao optar por um ritmo
instigante que surpreende o espectador por sua trajetória, possui como grande prova
deste mérito a deixada de lado de Betsy ao não a impor como um par romântico de
Travis (como aparentava a princípio), esta sendo utilizada apenas para
complemento do desenvolvimento e apresentação da identidade do protagonista. Por
falar em Betsy e levando-se em consideração as passagens hilárias de realce, um
amigo da coadjuvante se destaca, mesmo com pouco tempo de tela, perante sua
involuntária comicidade e dublagem consentânea bem introduzida.
Podendo ser dividida em dois segmentos, a
película, em sua segunda etapa, se permite reflexões de maior acidez e
criticidade ao adentrar um mundo delicado, infeliz e comum. Nesta, com a
alavancagem de Iris como protagonista, menina de 12 anos que trabalha como
garota de programa, o longa aborda temas de maior densidade, como o elo entre
adolescentes e drogas e a imbecilidade dos mesmos, exploração e prostituição
infantil (obviamente), bem como a relação do explorador-explorada envolta por
manipulação, sentimentos irreais e submissão psicológica. Gloriosamente interpretada
por Jodie Foster (na época constantemente acompanhada por uma psicóloga
conforme a performance num ambiente de teor adulto e cenas fortes), Iris também
fica responsável por outro relacionamento notório, este para com Travis, ambos
que desenvolvem um compacto vínculo amigável quase que fraternal ou paternal,
que une duas personas vítimas da vida, uma que já vivenciou os mais distintos
tipos de escória da humanidade, e outra que teve sua inocência roubada cedo
demais.
Tendo como pano de fundo um contexto político e
corrupto, a película ainda rende curiosidades que merecem ser lembradas, como a
cômica cena solo em frente ao espelho que foi improvisada, direção que quase
ficou sujeita às mãos de Brian De Palma, algo que seria interessante, visto que
o cineasta é simplesmente o autor de Scarface (1983 [leia aqui]) e um último
seguimento que rende boas teorias pela internet. Incansável, apoteótico e
extremamente atual, Taxi Driver retrata um mundo insignificante perdido em meio
ao sexo, drogas, sangue, egoísmo e dinheiro. Como bem exposto em outra frase
marcante do filme: "Tá todo mundo ferrado".
Matheus
J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data
de lançamento (Brasil): 22 de março de 1976 (1h 55min)
Direção:
Martin Scorsese
Elenco:
Robert De Niro, Jodie Foster, Harvey Keitel…
Gêneros:
Drama; Policial
Nacionalidade:
EUA
Avaliação:
IMDb: 8,3
Rotten:
99%
Metacritic:
93%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários): 4,4
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10
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