27 de maio de 2017

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Taxi Driver

Pôster


You talkin' to me?
Responsável por uma das mais icônicas frases do cinema, Taxi Driver, que denota mais uma parceria entre Martin Scorsese e Robert De Niro (a 2ª de oito, para ser exato), segue a jornada do ex-fuzileiro naval Travis como taxista pelas ruas de Nova York. Explorando as imundícies das madrugadas da respectiva cidade, o filme é um dos mais aclamados do diretor, todavia um dos mais controversos da época consoante sua violência excessiva, sendo até mesmo vaiado durante a premiação em Cannes. Contudo, convenhamos, se o mesmo conseguiu ser prestigiado com a Palma de Ouro, é certo que tem algo a oferecer.
Com uma sequência inicial que ressalta NY sob a visão do protagonista, esta que logo de cara sugere, com um enfoque nos olhos, a inconstância mental do personagem, igualmente se vê acompanhada por uma trilha sonora instrumental e cacofônica que será recorrente ao correr do longa, da mesma maneira que uma ambientação noturna e iluminação escura. Ao ser apresentado como um sujeito da noite, Travis, detentor de insônia (que o diga esses caras malucos que não dormem, como o de Clube da Luta), interpretado deslumbrantemente por Robert De Niro em um papel bem distinto de outro grande trabalho do ator, Coração Satânico (leia aqui), transmite magistralmente o caráter do individuo que beira a insanidade, em específicos momentos chegando a exaltar aspectos que podem ser considerados doentios e psicopáticos (principalmente com aquele tresloucado moicano). Servindo como alicerce de reflexões acerca da solidão e questões existenciais, Travis, consoante o aprofundamento de sua instabilidade psicológica, constitui um interessante estudo de personalidade, este que, conforme sua ignorância ao mundo alheio acaba por tirar conclusões equivocadas sobre certos assuntos e causar bastante vergonha e constrangimento alheio. Podendo-se traçar determinadas semelhanças entre Travis e Rorschach (Watchmen), o mesmo ainda age como influência de ideias que enfatizam a justiça com as próprias mãos e sente na pele a turbulenta vida dos taxistas de uma babélica cidade, esta representada da forma mais caótica possível enaltecendo as mais divergentes personalidades podres e conflitos que se propagam por suas ruas durante a escuridão. Também se deve notificar uma rápida visão que se tinha sobre os negros da época presente no entrecho.
Conduzido brilhantemente, o filme, que foge da maioria dos conceitos convencionais de produções semelhantes ao optar por um ritmo instigante que surpreende o espectador por sua trajetória, possui como grande prova deste mérito a deixada de lado de Betsy ao não a impor como um par romântico de Travis (como aparentava a princípio), esta sendo utilizada apenas para complemento do desenvolvimento e apresentação da identidade do protagonista. Por falar em Betsy e levando-se em consideração as passagens hilárias de realce, um amigo da coadjuvante se destaca, mesmo com pouco tempo de tela, perante sua involuntária comicidade e dublagem consentânea bem introduzida.
Podendo ser dividida em dois segmentos, a película, em sua segunda etapa, se permite reflexões de maior acidez e criticidade ao adentrar um mundo delicado, infeliz e comum. Nesta, com a alavancagem de Iris como protagonista, menina de 12 anos que trabalha como garota de programa, o longa aborda temas de maior densidade, como o elo entre adolescentes e drogas e a imbecilidade dos mesmos, exploração e prostituição infantil (obviamente), bem como a relação do explorador-explorada envolta por manipulação, sentimentos irreais e submissão psicológica. Gloriosamente interpretada por Jodie Foster (na época constantemente acompanhada por uma psicóloga conforme a performance num ambiente de teor adulto e cenas fortes), Iris também fica responsável por outro relacionamento notório, este para com Travis, ambos que desenvolvem um compacto vínculo amigável quase que fraternal ou paternal, que une duas personas vítimas da vida, uma que já vivenciou os mais distintos tipos de escória da humanidade, e outra que teve sua inocência roubada cedo demais.
Tendo como pano de fundo um contexto político e corrupto, a película ainda rende curiosidades que merecem ser lembradas, como a cômica cena solo em frente ao espelho que foi improvisada, direção que quase ficou sujeita às mãos de Brian De Palma, algo que seria interessante, visto que o cineasta é simplesmente o autor de Scarface (1983 [leia aqui]) e um último seguimento que rende boas teorias pela internet. Incansável, apoteótico e extremamente atual, Taxi Driver retrata um mundo insignificante perdido em meio ao sexo, drogas, sangue, egoísmo e dinheiro. Como bem exposto em outra frase marcante do filme: "Tá todo mundo ferrado".
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 22 de março de 1976 (1h 55min)
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Robert De Niro, Jodie Foster, Harvey Keitel…
Gêneros: Drama; Policial
Nacionalidade: EUA

Avaliação:
IMDb: 8,3
Rotten: 99%
Metacritic: 93%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários): 4,4
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10
Avaliação

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