13 de fevereiro de 2019

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A Favorita

Pôster


Yorgos Lanthimos é um diretor responsável pela autoria de alguns dos filmes mais estrambólicos da atualidade. Com uma carreira notória pela concepção de obras engenhosas e intrépidas, o cineasta grego tem migrado de sua terra natal para países onde o cinema possui maior tradição e repercussão, tais como o Reino Unido e os Estados Unidos. Em A Favorita, terceiro longa de Lanthimos em língua inglesa, o diretor se apropria ainda mais de características que marcam o audiovisual ocidental.
A Favorita é a produção com os pés mais calcados na realidade da cinebiografia de Yorgos. Fato justificado conforme a confecção do roteiro baseado em fatos e escrito por outros que não o próprio Lanthimos (esta é a primeira vez que o diretor não dirige e escreve ao mesmo tempo), a película apresenta uma estória pouco arrojada que inevitavelmente não se abstém de liberdades poéticas, as quais o grego utiliza para imprimir sua imagem. Entretanto, visto que este não possui total liberdade sobre o produto, as poucas investidas audaciosas do texto que carregam apenas um dedinho do mesmo são falhas, ou seja, nem sempre há um equilíbrio de tom entre o plausível e o extravagante, pois o roteiro tem um rosto, e Yorgos outro. Por outro lado, a direção conduzida por atributos singulares é a encarregada de assinalar sobre A Favorita um pouquinho da genuinidade do diretor.
Bruscos movimentos de câmera horizontais e verticais; sobreposição concomitante de cenas; distorções visuais; sequências em slow motion; trilha sonora enervante à base de instrumentos sinfônicos... estes são alguns dos artifícios que o cineasta usa para desconfortar o público e deixar um pouco de si na obra, além do fecho abrupto que desconcerta o assistente e acentua o timing quase que cirúrgico do diretor; o filme começava a se esticar mais que o ideal. Apesar dos aspectos insólitos, o script não corresponde à altura e entrega uma trama acanhada que não omite a impressão de que poderia ousar mais, o que jamais aconteceria se Lanthimos estivesse no comando criativo da produção. Em contraparte, o cineasta tropeça ao dividir a obra em vários capítulos intitulados com alguma frase proferida durante o respectivo; é algo simplesmente presunçoso e despropositado no enredo.
Considerando o que foi dito até agora, também não se pode negar que o roteiro possua méritos. Desinibido na forma com que explora os laços de seu trio principal, A Favorita concebe um intrincado jogo de interesses que permite o destrinchar dos mais primitivos sentimentos humanos: inveja, ciúmes, egoísmo, ganância, cobiça, luxúria, orgulho, amor... O longa articula com assaz naturalidade a versatilidade de emoções e graus pelos quais os relacionamentos centrais transitam, seja nas suspeitas iniciais entre Sarah e Abigail que logo se transformam em rivalidade, nas desconfianças entre Abigail e Anne que mais tarde se tornam uma íntima e abusiva relação velada, e no mútuo afeto entre Anne e Sarah que posteriormente é maculado por incertezas e ceticismo. Outro ponto a realçar diz respeito ao tempo de tela e relevância de cada personagem, isto é, todas exercem suma pertinência no entrecho, são conflituosas e possuem praticamente o mesmo espaço em cena; é quase impossível categorizar uma protagonista e dizer quem se destaca mais.
Neste cenário, o pano político é deixado em segundo plano, servindo somente para contextualizar o período histórico e enfatizar a influência de Sarah e Abigail sobre as decisões da rainha. Falando em período histórico, o design de produção se mostra fiel ao moldar a época retratada e grifar as exuberâncias e lauréis da vida monarca. Em consentaneidade, o figurino faustoso e a maquiagem profusa enaltecem as vestimentas luxuosas e o status opulento da classe exaltada. Ademais, é neste palco narrativo em que se desdobram os momentos mais cômicos da película, sendo que a jocosidade aqui provém do absurdo e das situações pouco comuns ao espectador.
Concernente às atuações, o trio é bastante talentoso. Emma Stone incorpora uma mulher astuta, sagaz e maliciosa; Rachel Weisz vive uma nobre severa e autoritária, mas também perspicaz e detentora de sentimentos; e Olivia Colman interpreta uma rainha exigente, histérica, confusa, impulsiva e emocionalmente maleável e manipulável.
Em suma, A Favorita é um filme esteticamente suntuoso, de direção exótica e que proporciona uma experiência no mínimo intrigante, mas que também ostenta um texto que nunca é tão mordaz quanto deveria.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 24 de janeiro de 2019
Direção: Yorgos Lanthimos
Elenco: Olivia Colman, Rachel Weisz, Emma Stone...
Gênero: Comédia
Nacionalidades: EUA, Reino Unido e Irlanda

Sinopse (Google):
Na Inglaterra do século 18, Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough, exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Anne. Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail, nova criada que logo se torna a queridinha da majestade e agarra com unhas e dentes essa oportunidade única.

Avaliação:
IMDb: 7,8
Rotten: 93%
Metacritic: 90%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,6/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6,5
Avaliação

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