Filmes poloneses não costumam figurar entre os
mais vistos pelos espectadores, principalmente entre os brasileiros. No
entanto, quando uma obra faz estardalhaço como Guerra Fria vem fazendo, o
público deixa de lado suas preferências e abre espaço para esse cinema tão
distante. Infelizmente, o novo longa de Pawel Pawlikowski não aproveita sua
oportunidade.
Com um início promissor que apresenta uma
Polônia álgida e letárgica ainda marcada pelas atrocidades da Segunda Guerra
Mundial, o primeiro ato de Guerra Fria desponta como o melhor de toda sua
extensão. Neste, os cidadãos aflitos e desamparados ganham realce ao protagonizarem
uma série de sequências de canto que servem para impor a música como um subterfúgio
do desalento que os cerca. Apesar de toda cantoria, o martírio e a dor pesam em
cada semblante e expressividade destacada.
Logo de cara a fotografia em preto e branco
chama atenção, sobretudo o êxito desta em retratar com genuinidade os derradeiros
anos de uma Polônia quarentista e o limiar de uma nova década. Já a vultosidade
dos figurinos posteriormente inoculados é outro elemento a exaltar. Por sua
vez, os calmos movimentos horizontais e circulares orquestrados pela câmera permitem
um fleumático e completo explorar dos ambientes. Ademais, as distintas cidades visitadas
na estória possuem características próprias que as distinguem umas das outras,
e a coreografia dos atores durante os segmentos em que é requisitada, se mostra
bem ensaiada. Entretanto, os méritos de Guerra Fria acabam por aqui.
A partir do instante em que o relacionamento
entre Wiktor e Zula dá seu primeiro passo, a película despenca para o abismo. Sem
nenhum tipo de desenvolvimento, os personagens concebem uma relação vazia que é
afetada pela problemática passagem de tempo. Autoindulgente e redundante, o constante
passar de anos na trama, acentuado pelo uso de cortes secos, faz com que o
filme nunca tenha uma fluida continuidade, isto é, o enredo simplesmente se
repete diversas vezes influenciado pela narrativa cíclica e a montagem avulsa que
picota deliberadamente os momentos conflitantes do relacionamento central.
O vai e vem do casal é maçante, e as várias
cidades que moldam o palco do respectivo romance só estão lá para ratificar a
prepotência da produção em bancar a confecção de múltiplos cenários. O ritmo
torna-se fastidioso, e as músicas, que até então serviam como eficientes
impulsoras do entrecho, perdem o brilho e começam a saturar. Os atores, embora empenhados
em seus papeis, não podem fazer nada com o texto medíocre que lhes é vinculado,
texto este que se acanha e retém seu potencial crítico ao abranger âmbitos
artísticos e vertentes políticas que, referente à última, é frisada no título.
Apesar da curta duração, o espectador clama
pelo fim da obra, desfecho que chega com a mesma insensibilidade e dispersão de
todo o longa. No mais, a experiência em si é bastante monótona e blasé, visto que
Guerra Fria é um filme covarde, previsível, enfadonho, superficial e bagunçado.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 7 de
fevereiro de 2019
Direção: Pawel Pawlikowski
Elenco: Joanna Kulig, Tomasz Kot,
Borys Szyc…
Gênero: Romance
Nacionalidades: Polônia, Reino
Unido e França
Sinopse (Google):
Durante a Guerra Fria na década de 1950, duas
pessoas de diferentes origens e temperamentos, que são fatalmente
incompatíveis, se apaixonam.
Avaliação:
IMDb: 7,7
Rotten:
93%
Metacritic:
90%
Filmow
(média geral): 3,7
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 3,8/5,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 3,5
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