Primeiro filme de super-herói da história
nomeado à categoria principal do Oscar, Pantera Negra realmente possui méritos,
mas será que estes justificam a indicação?
Começando por suas melhores qualidades, Pantera
Negra é exímio na concepção de seu palco narrativo, ou seja, Wakanda. Com uma
mitologia rica e completa que abrange todos os fatores constituintes de um país
crível e conciso, a nação africana possui tradições, um forte repertório,
religião e tecnologias próprias; neste âmbito, tudo é muito singular e
autêntico. A confecção cultural do respectivo mundo é extraordinária, seja no
que se refere ao minucioso design de produção que engloba toda a estrutura de
Wakanda e seus aparatos tecnológicos, seja na composição vistosa e
característica do figurino que se difere de tribo para tribo, assim como nas
particularidades que agregam cada uma destas e lhes identificam, indo dos mais
simples elementos até os mais esdrúxulos adereços. Ademais, panoramicamente o
país é bastante ímpar e detalhado, realçando uma mescla entre aspectos modernos
e nativos que salientam a diversidade e o caráter vivaz deste, sem falar do
assíduo trabalho que os realizadores tiveram em tornar tudo isso possível.
Igualmente vale ressaltar a trilha sonora ágil e climática que condiz com a exuberância
natural de Wakanda.
O antagonista é outro acerto do longa.
Interpretado de modo consentâneo por Michael B. Jordan, Killmonger é um
personagem que faz frente ao protagonista: imponente, de motivações plausíveis
e presença de tela bastante marcante, a persona tem um arco dramático coeso e é
o principal responsável pelo viés ideológico da película. Ou seja, é sobre a
imagem deste que Pantera Negra faz suas alfinetadas políticas, discutindo temas
hodiernos que remetem a ufanismo, soberania étnica, refugiados e,
exponencialmente, o papel do negro através da história e sua identidade.
Todavia, embora seja um dos melhores personagens do filme, o roteiro impõe um
comportamento vilanesco à figura e determinadas atitudes definitivamente
maléficas, o que sacramenta sobre o mesmo uma tarja sombria e, de certo modo, o
empobrecem; seus motivos são humanos e convincentes, porém, em contraparte,
suas ações e personalidade são unicamente nefastas, isto é, o personagem não
tem conflitos, dilemas ou sequer ressentimentos.
Pantera Negra também é uma obra que frisa o
empoderamento feminino. Com no mínimo três mulheres de destaque, o longa
atribui a cada uma delas papeis de suma relevância e especialidades individuais
que, sem estas, a produção não seria a mesma. Okoye é a general da guarda de
T'Challa que ocupa a patente militar mais alta do reino; Shuri é a mente por
trás das inovações tecnológicas referentes ao uniforme e armamentos do irmão; e
Nakia, mais que o par romântico do protagonista, é independente e uma hábil
guerreira. Entretanto, sua relação com T'Challa jamais encontra a tônica ideal,
mostra-se ser um "namoro" desnecessário para o script e que
rende momentos bem genéricos. Por outro lado, a dinâmica do líder wakandiano
com sua irmã é sensacional: afetuosa, cômica, fluida e de puro companheirismo.
Apesar de não ser uma estória de origem,
Pantera Negra é sobre o nascimento do líder de uma nação, a jornada de um herói
e suas descobertas. Conforme T'Challa se reconhece como rei e as
responsabilidades vigentes, o espectador é convidado a acompanhar sua
trajetória, desafios, novas ocorrências e o reino em si a ser comandado; é uma
forma orgânica de contextualização do público simultaneamente à evolução do
personagem. Embora algumas escolhas do roteiro propiciem o assistente prever
circunstâncias futuras do entrecho, a jornada de T'Challa não é
desglamourizada, até porque seu arco se relaciona diretamente ao de outro
personagem: T'Chaka. Mesmo morto, o antigo rei exerce influência na vida do
filho, o que constitui um laço paternal sólido e fortifica um vínculo que, em
vida, não pôde ser explorado pelo MCU.
É uma empreitada inteligente do script que, além, rende alguns dos
segmentos visualmente mais belos da película.
Concernente as sequências frenéticas, o filme
as executa com proficiência e alto teor recreativo, contudo, o CGI à la
"Play 2" inibe enfaticamente o efeito das mesmas. Outra
irregularidade do longa diz respeito a concepção de certas personas: Garra
Sônica é bobo e sua função fútil na trama; Everett Ross é esquecível e
descartável; e W'Kabi é o típico babaca "vira-casaca", ademais de seu
intérprete (Daniel Kaluuya) ter o mesmo desempenho sonolento de sempre. Por
falar em atuação, Chadwick Boseman, que na obra interpreta o próprio Pantera
Negra, tem uma performance quase que inexpressiva, o que, felizmente, não
prejudica em nada a película. No mais,
as tentativas de comicidade por meio do personagem M'Baku são falhas, o que as
torna, involuntariamente, burlescas.
Pantera Negra, em suma, é um filme representativo,
atual, distinto, autônomo e relevante.
Matheus J. S.
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 15
de fevereiro de 2018
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Chadwick Boseman, Michael
B. Jordan, Lupita Nyong'o…
Gênero: Ação
Nacionalidade: EUA
Sinopse:
Após assumir o trono de Wakanda, T’Challa passa
a enfrentar os conflitos inerentes do cargo.
Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten:
97%
Metacritic:
88%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,6/4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 8
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