8 de fevereiro de 2019

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Pantera Negra

Pôster


Primeiro filme de super-herói da história nomeado à categoria principal do Oscar, Pantera Negra realmente possui méritos, mas será que estes justificam a indicação?
Começando por suas melhores qualidades, Pantera Negra é exímio na concepção de seu palco narrativo, ou seja, Wakanda. Com uma mitologia rica e completa que abrange todos os fatores constituintes de um país crível e conciso, a nação africana possui tradições, um forte repertório, religião e tecnologias próprias; neste âmbito, tudo é muito singular e autêntico. A confecção cultural do respectivo mundo é extraordinária, seja no que se refere ao minucioso design de produção que engloba toda a estrutura de Wakanda e seus aparatos tecnológicos, seja na composição vistosa e característica do figurino que se difere de tribo para tribo, assim como nas particularidades que agregam cada uma destas e lhes identificam, indo dos mais simples elementos até os mais esdrúxulos adereços. Ademais, panoramicamente o país é bastante ímpar e detalhado, realçando uma mescla entre aspectos modernos e nativos que salientam a diversidade e o caráter vivaz deste, sem falar do assíduo trabalho que os realizadores tiveram em tornar tudo isso possível. Igualmente vale ressaltar a trilha sonora ágil e climática que condiz com a exuberância natural de Wakanda.
O antagonista é outro acerto do longa. Interpretado de modo consentâneo por Michael B. Jordan, Killmonger é um personagem que faz frente ao protagonista: imponente, de motivações plausíveis e presença de tela bastante marcante, a persona tem um arco dramático coeso e é o principal responsável pelo viés ideológico da película. Ou seja, é sobre a imagem deste que Pantera Negra faz suas alfinetadas políticas, discutindo temas hodiernos que remetem a ufanismo, soberania étnica, refugiados e, exponencialmente, o papel do negro através da história e sua identidade. Todavia, embora seja um dos melhores personagens do filme, o roteiro impõe um comportamento vilanesco à figura e determinadas atitudes definitivamente maléficas, o que sacramenta sobre o mesmo uma tarja sombria e, de certo modo, o empobrecem; seus motivos são humanos e convincentes, porém, em contraparte, suas ações e personalidade são unicamente nefastas, isto é, o personagem não tem conflitos, dilemas ou sequer ressentimentos.
Pantera Negra também é uma obra que frisa o empoderamento feminino. Com no mínimo três mulheres de destaque, o longa atribui a cada uma delas papeis de suma relevância e especialidades individuais que, sem estas, a produção não seria a mesma. Okoye é a general da guarda de T'Challa que ocupa a patente militar mais alta do reino; Shuri é a mente por trás das inovações tecnológicas referentes ao uniforme e armamentos do irmão; e Nakia, mais que o par romântico do protagonista, é independente e uma hábil guerreira. Entretanto, sua relação com T'Challa jamais encontra a tônica ideal, mostra-se ser um "namoro" desnecessário para o script e que rende momentos bem genéricos. Por outro lado, a dinâmica do líder wakandiano com sua irmã é sensacional: afetuosa, cômica, fluida e de puro companheirismo.
Apesar de não ser uma estória de origem, Pantera Negra é sobre o nascimento do líder de uma nação, a jornada de um herói e suas descobertas. Conforme T'Challa se reconhece como rei e as responsabilidades vigentes, o espectador é convidado a acompanhar sua trajetória, desafios, novas ocorrências e o reino em si a ser comandado; é uma forma orgânica de contextualização do público simultaneamente à evolução do personagem. Embora algumas escolhas do roteiro propiciem o assistente prever circunstâncias futuras do entrecho, a jornada de T'Challa não é desglamourizada, até porque seu arco se relaciona diretamente ao de outro personagem: T'Chaka. Mesmo morto, o antigo rei exerce influência na vida do filho, o que constitui um laço paternal sólido e fortifica um vínculo que, em vida, não pôde ser explorado pelo MCU. É uma empreitada inteligente do script que, além, rende alguns dos segmentos visualmente mais belos da película.
Concernente as sequências frenéticas, o filme as executa com proficiência e alto teor recreativo, contudo, o CGI à la "Play 2" inibe enfaticamente o efeito das mesmas. Outra irregularidade do longa diz respeito a concepção de certas personas: Garra Sônica é bobo e sua função fútil na trama; Everett Ross é esquecível e descartável; e W'Kabi é o típico babaca "vira-casaca", ademais de seu intérprete (Daniel Kaluuya) ter o mesmo desempenho sonolento de sempre. Por falar em atuação, Chadwick Boseman, que na obra interpreta o próprio Pantera Negra, tem uma performance quase que inexpressiva, o que, felizmente, não prejudica em nada a película.  No mais, as tentativas de comicidade por meio do personagem M'Baku são falhas, o que as torna, involuntariamente, burlescas.
Pantera Negra, em suma, é um filme representativo, atual, distinto, autônomo e relevante.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 15 de fevereiro de 2018
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o…
Gênero: Ação
Nacionalidade: EUA

Sinopse:
Após assumir o trono de Wakanda, T’Challa passa a enfrentar os conflitos inerentes do cargo.

Avaliação:
IMDb: 7,4
Rotten: 97%
Metacritic: 88%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,6/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8
Avaliação

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