15 de fevereiro de 2019

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Vice

Pôster


Aproximadamente um ano atrás Gary Oldman recebia o Oscar de Melhor Ator por sua atuação interpretando um político coberto de maquiagem que exerceu suma influência histórica. Doze meses depois, a história está para se repetir.
Falar sobre Vice é falar sobre Adam McKay. Diretor de longas como Os Outros Caras, Tudo Por Um Furo e, principalmente, A Grande Aposta, o cineasta trás consigo artifícios que marcaram seu último filme e mais uma vez sublinham seu trabalho. Com indubitável destaque para a edição, a película fisga a atenção de seu público a partir da montagem enérgica, cômica e sarcástica que se reinventa a cada cena. Para tal, o longa intercala vídeos e fotos concernentes ao que se passa na trama, usufrui de iconografias, brinca com a percepção do público e desconstrói padrões diegéticos, além de usar metáforas correlacionando assuntos políticos a situações rotineiras como frequente recurso narrativo. A trilha sonora também faz sua parte ao cadenciar o tom lúdico nos respectivos momentos, deixando-se levar pela seriedade de específicos trechos acentuando a intensidade de seus toques.
Apesar de Vice ser, por vezes, demasiado escrachado, a postura justifica-se mediante as propostas satíricas do enredo. Referente à utilização do voice over, o mesmo não pode ser dito, pois embora mantenha o assistente informado e devidamente contextualizado, não o instiga - como é objetivado - para saber a quem a voz pertence, o que no fim se mostra ser alguém desinteressante e dispensável. Contudo, o grande charme do longa está em sua estrutura ímpar que é um eficaz e recreativo método de alimentar o entusiasmo do espectador e mantê-lo entretido. Aliás, é um método que não permite que a trama se torne maçante durante os segmentos mais burocráticos, mas sim possibilita uma abordagem distinta que transforma em diversão as sequências mais banais e entediantes do entrecho.
Acima de tudo, Vice é sobre a ascensão de um alcoólatra fracassado até o posto de um homem privilegiado e suas questionáveis ações em prol da humanidade. Para representação desta jornada, o filme leva uma hora até instaurar o Dick Cheney que será o protagonista, o que se concretiza de forma ágil pelo roteiro ao focar nos principais eventos que culminaram na vice-presidência. Por outro lado, a narrativa torna-se pouco fluida e episódica, sobretudo afetada por bagunçados flashbacks que visam frisar descartáveis e já explorados momentos do passado do personagem.
Quando a personalidade de Dick se estabelece, a produção ganha novos rumos. Com intuito de escrutinar uma figura extremamente importante para o curso do mundo, mas que não muitos conhecem, Vice apresenta um cargo político pouco debatido no cinema, esmiuçando todo o poderio e relevância que o cerca. É neste cenário que a película tece suas críticas, abordando atitudes e posicionamentos radicais do personagem e sua influência ao longo de fatídicos eventos da história dos EUA que se entrelaçam a polêmicos temas que vão desde controversos procedimentos de investigação até a famigerada Guerra do Iraque. Apesar da colocação bem definida do longa a respeito de certas políticas e do próprio Cheney, o assistente se pega refletindo acerca da índole deste e da complexidade de suas decisões. Vale ressaltar que o filme jamais o uniteraliza e que, embora o intuito seja destrinchar os conflitos políticos enfrentados pelo personagem e não fazer um retrato intimista de sua vida, os sucessivos infartos do mesmo servem para humanizá-lo.
Christian Bale está voraz como Dick Cheney. A princípio desestabilizado e inconsequente, o ator incorpora a transformação moral da figura interpretada com bastante destreza, tornando-se progressivamente um homem astuto, sábio, ambicioso, sagaz, preciso, focado e pragmático. Sua maneira de se portar realça toda a envergadura e formalidade do cargo exercido, enquanto sua fala paciente denota a perspicácia e cautelosidade de seu caráter. Amy Adams, como a esposa de Dick, vive uma mulher firme, arguciosa, de postura compacta e retórica persuasiva. A dinâmica que concebe a relação entre tais personas é gloriosa: ambos se respeitam, admiram-se, tomam decisões juntos e têm suas vidas entrelaçadas à do outro. Neste aspecto, Lynne (Amy Adams) é um exemplo de representatividade feminina, pois ela é a responsável pela guinada na vida do marido e por atos influentes na trajetória política do mesmo; se não fosse seu monólogo arrebatador ao início da película, Dick jamais teria mudado.
No que se refere ao elenco de apoio, Steve Carell atua em sua zona de conforto, um tanto quanto arrogante, mas na maior parte do tempo debochado. Sam Rockwell, como George W. Bush, interpreta um presidente operante em sua ingenuidade durante o pouco tempo de tela que lhe é disponibilizado; a atuação, neste caso, é competente com o texto que lhe é atribuída, visto que a performance não requer um grandioso empenho dramático.
Ademais dos quilos adicionais que exaltam o comprometimento de Bale para com o projeto, a maquiagem se mostra um fator fundamental para confecção do envelhecimento e caracterização dos personagens. Como adendo, as subtramas paralelamente impostas ao arco central saturam o enredo, excluso o plot da filha de Dick que promove sucintas, mas pertinentes reflexões sobre homossexualidade, política e conservadorismo.
No mais, Vice é uma produção irreverente, peculiar, divertida, didática e que adere relevância a uma figura da história americana que passou despercebida por milhões.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 31 de janeiro de 2019
Direção: Adam McKay
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell…
Gênero: Comédia
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
Acompanhe a ascensão de Dick Cheney ao se tornar o homem mais poderoso do mundo. Vice-presidente de George W. Bush, ele remodelou os Estados Unidos e o mundo, gerando mudanças que permanecem até os dias de hoje.

Avaliação:
IMDb: 7,2
Rotten: 66%
Metacritic: 61%
Filmow (média geral): 3,5
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,8/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7,5
Avaliação

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