9 de fevereiro de 2019

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Bohemian Rhapsody

Pôster


Divergências criativas, problemas de set, troca de diretores... pois bem, pode-se dizer que a produção caótica de Bohemian Rhapsody não fez bem ao resultado final.
Bohemian Rhapsody é um filme repleto de irregularidades. Tendo como intuito abordar quinze anos da banda Queen desde sua criação até a performance no Live Aid, o longa se atropela e articula uma narrativa episódica. Apesar das duas horas e quinze, a produção, que jamais se entrega plenamente à veracidade dos eventos retratados ou se assume definitivamente como uma ficção somente inspirada por fatos, tem um ritmo apressado que visa à maior abordagem possível de capítulos marcantes da carreira da banda e seu líder. Todavia, visto que a obra atenua e omite certos detalhes da respectiva biografia, a maioria das ocorrências realçadas são tratadas com superficialidade, já que não denotam completa genuinidade e logo são sobrepostas por algum outro acontecimento que o roteiro insiste em inocular à trama mesmo sem espaço.
Considerando que os quinze anos são basicamente explorados de forma corrida e glamourizada, muita coisa interessante se perde no caminho. Não há tempo para o espectador estabelecer um vínculo com o protagonista, e os pequenos detalhes que enriquecem a trajetória do Queen são deliberadamente deixados de lado: o nome da banda simplesmente surge; o icônico visual de Freddie é inferido abruptamente e a aceitação deste por parte do público, visto que ele é ridicularizado em seu primeiro show como vocalista, se dá de modo antinatural e repentino. A maneira aflorada com que o script lida com as situações impõe à película um caráter extremamente inverossímil, ou seja, tudo dá certo, praticamente não há empecilhos e o assistente jamais é convidado a desbravar as entrelinhas do texto. Embora eventuais contratempos existam, a forma patente e emplumada com que o filme se desenvolve nunca permite estes ganharem real peso dramático e surpreender o espectador.
A concepção da banda também é falha. Sem antes firmar uma relação convincente entre os membros do grupo, o longa os apinha todos juntos num palco e tenta vender a ideia de uma "família"; não há química, os personagens são cuspidos na trama e a banda milagrosamente se forma e alcança o topo. Para o público que não sabe quem são os integrantes do Queen, é quase impossível recordar os nomes dos membros além do Mercury, já que nenhum possui embasamento e estes só estão lá para completar o arco do protagonista. Para uma produção que quer ser a cinebiografia do Queen, Bohemian Rhapsody individualiza exacerbadamente um rosto de seu elenco.
Conforme a existência de subtramas no entrecho, algumas são profícuas e outras não. O subnúcleo familiar de Freddie e os conflitos com seu pai são introduzidos ao início da película e depois esquecidos, ganhando uma cena pretensiosamente comovente próximo ao fim para dizer que o plot teve um desfecho. A contração da AIDS e a homossexualidade de Mercury estão na obra, no entanto sem nunca ser o foco, o que por um lado é positivo, mas por outro se tornam apenas mais dois elementos avulsos sem aprofundamento; não há consonância entre relevância e método de abordagem. Em contraparte, o relacionamento de Freddie com Mary, que começa de modo convencional, evolui, ganha camadas e se transforma numa complexa amizade; é o vínculo entre personagens mais bem destrinchado e coeso do filme.
Após tantos aspectos negativos sublinhados, está na hora de abranger as melhores qualidades de Bohemian Rhapsody. Rami Malek, astro do longa, está muito bem incorporando a montanha-russa de emoções da vida de um Freddie Mercury exótico, obstinado, ambicioso, arrojado, de trejeitos singulares e vigorosos; até a fala do ator ganha uma conotação sonora diferente. A caracterização e a maquiagem que compõe os integrantes da banda se mostra precisa ao deixá-los semelhantes ao Queen verdadeiro. Ademais, a confecção dos shows é bastante frenética e impetuosa, com imprescindível destaque para o Live Aid que é o auge da produção. Com a apresentação de alguns dos maiores sucessos da banda e uma reprodução fiel de Malek ao emular gestos e movimentos do vocalista interpretado, o espetáculo denota uma incrível interação entre público e músicos, além da edição imprimir um timing incansável de captura do telespectador, transmitir com eloquência toda a energia presente no momento e encerrar a obra em sua melhor forma.
Bohemian Rhapsody, em suma, tem uma atuação central dedicada e vinte minutos finais de tributo à banda Queen, porém o filme se compromete com um roteiro inchado, medíocre, afoito, raso e romantizado.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Reino Unido): 24 de outubro de 2018
Direção: Bryan Singer
Elenco: Rami Malek, Gwilym Lee, Lucy Boynton…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse:
Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon formam a banda de rock Queen em 1970. Quando o estilo de vida agitado de Mercury começa a sair de controle, o grupo precisa encontrar uma forma de lidar com o sucesso e os excessos de seu líder.

Avaliação:
IMDb: 8,2
Rotten: 62%
Metacritic: 49%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,6/3,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 3,5
Avaliação

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