31 de outubro de 2019

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A Maldição da Residência Hill

Tv


Estórias sobre casas mal-assombradas se proliferam aos montes nos entremeios do entretenimento. Entre livros, filmes e séries, um dos novos integrantes desta vasta safra chama-se A Maldição da Residência Hill e faz parte dos títulos originais concebidos pelo catálogo da Netflix. Resta saber o que o programa episódico tem de novo a oferecer.
A Maldição da Residência Hill é uma série funcional, e isto se deve a eficiência com que a mesma manuseia seus atributos para moldar o entrecho. Um destes é a estrutura não linear que abrange concomitantemente dois tempos distintos abordando circunstâncias diferentes sobre o mesmo núcleo de personagens. Em face disso, a série utiliza ferramentas narrativas para veicular a ótica assistente de modo inteligente e natural, ou seja, são comuns as vezes que o enredo alterna eventos similares em épocas díspares para tecer a ponte entre as mesmas. Não obstante, o ritmo paulatino, a sutil impressão de detalhes e a manutenção de elementos característicos do gênero aplicados de forma inventiva conferem ao programa um espírito tradicionalista, porém tomado por um novo frescor.
Nesse sentido, a utilização de jumpscares (um dos recursos com maior recorrência em produções do mesmo biótipo), ainda que presente, articula-se na maior parte do tempo de maneira lacônica, visto que sua execução evidencia-se em momentos fortuitos e obtêm êxito ao assustar o espectador da forma mais inesperada possível. Criaturas medonhas também possuem seu espaço na série, não de modo gratuito, tampouco medíocre, porém de maneira arguta estimulando o medo e apreensão do público. Isto é, o pavor não provém do visual horrendo dos monstros, mas sim de suas breves aparições ao fundo das cenas que acentua-se pelo passo moroso e carregado com que caminham, em outras palavras, as sequências mais aterradoras são exatamente aquelas em que seres humanoides disformes e desfocados com apenas uma parte do corpo meramente visível são vistos perambulando aos arredores dos personagens. Sobretudo, convém frisar que a tensão ganha ênfase mediante o que se desconhece das respectivas criaturas; o espectador não sabe suas intenções e, principalmente, se são reais.
No que concerne ao âmbito especulativo da série, A Maldição da Residência Hill esbanja enorme destreza ao flertar com vertentes ambíguas e brincar com a perspectiva assistente acerca do que é ou não verdadeiro. Nesse aspecto, o programa trabalha uma trama repleta de camadas que podem ser interpretadas tanto de modo literal com o que se vê em tela, como de forma alegórica remetente as contendas internas dos personagens. Dito isso, as metáforas pinceladas pelo enredo empreendem alusões vinculadas à instabilidade emocional e psicológica das figuras em cena que servem para representar os mais diversos temas, tais como depressão, suicídio, obsessão, perda da inocência e vícios. Vale ressaltar que o programa usufrui deste mesmo viés para moldar o arco pessoal de cada personagem, exercendo sobre os mesmos uma enorme teia que concatena a família protagonista, bem como todos os seus laços, rupturas e ressentimentos.
Mais que um horripilante terror, A Maldição da Residência Hill é uma série notória por conta de sua consistência dramática. Reiterando os tópicos supracitados, o eixo central do programa concentra-se no desenvolvimento de suas personas, o que acontece de modo gradual e com muita paciência do roteiro, considerando que este leva episódios inteiros somente para introduzir um personagem. Tal empreitada o permite focar em subnúcleos de maneira individual, criando, portanto, um texto ordenado e que, além de fortificar o elo espectador-personagem, reconhece a profundidade que cada semblante em destaque merece. Também é em meio a esse cenário que se intensificam os vários confrontos familiares respaldados pelo drama singular de cada membro, drama que se salienta consoante a verossimilhança retratada na tátil dinâmica que compacta os integrantes da respectiva esfera sanguínea; a genuinidade apresentada é tão orgânica, humana e autêntica que é automático o público mostrar-se empata com os conflitos em tela, desde aqueles mais tensos envolvendo cônjuges até os mais íntimos envoltos em conturbados relacionamentos fraternais. Ademais, é a natureza carnal desses conflitos que os tornam tão tangíveis, afinal, eles se alicerçam em sentimentos como rancor, culpa, medo, ganância, solidão, luto e ansiedade.
Tocante à direção, o episódio "Two Storms" é o exemplo perfeito de proficiência técnica. Enquanto a mansão Hill vista de fora não inspira grande assombro, o diretor (Mike Flanagan), no respectivo capítulo, usa os cômodos internos da casa para espavorir o assistente, levando-o a passeios em corredores sombrios por intermédio de planos-sequência e travellings prolongados que servem para intensificar a angústia vigente. Flanagan é bastante sagaz ao brincar com as expectativas dos telespectadores, seja usando a iluminação a seu favor ou a sonoplastia que evoca sons suspeitos e indistinguíveis em ambientes adjacentes que jamais são oticamente constatados e semeiam uma ameaça velada extremamente inquietante. Esse episódio também se responsabiliza por alguns dos segmentos mais estarrecedores de toda a série e alguns dos diálogos mais fluidos e bem encenados, tendo como único pecado um trecho envolvendo a Theo que é desnecessário e um tanto quanto forçado.
Outrossim, a hábil direção, referente ao programa como um todo, frequentemente esbanja a capacidade de deixar o público com uma pulga atrás da orelha, seja estendendo-se por episódios acerca das incógnitas que permeiam um determinado objeto, seja prezando movimentos de câmera que se aproximam gradativamente do semblante dos personagens como se estes estivessem sempre em situação periclitante. Por sua vez, a maquiagem é precisa ao caracterizar o envelhecimento de certas personas, a fotografia discerne passado e presente por meio da distinção de cores e a trilha trabalha com equilíbrio os toques mais graves e os mais melindrosos. Em contrapartida, uma revelação correspondente ao plot da Shirley é demasiado expositiva e não contém a sutileza adequada; muitos momentos se encarregam de uma migração tonal brusca, onde a transição do terror para blocos mais enternecedores acontece sem a devida tenuidade; e, ao desfecho, o não espairecimento de algumas coisas deixa incômodas pontas soltas.
No mais, o elenco está bem de acordo com o texto que lhes é atribuído, sendo que o expoente atuante dentre eles fica a critério de Carla Gugino. Intérprete de uma mãe mentalmente instável, a atriz vai da mais pura amabilidade à insanidade completa em questão de segundos, incorporando com primor o comportamento lunático da persona, desde o olhar ensandecido até explosões que exaltam o mais incontrolável furor; mesmo quando caridosa com suas proles, há uma loucura latente à espreita.
Em suma, A Maldição da Residência Hill, ainda que falha, é uma série com belas mensagens familiares, que entretém, amedronta, instiga e propõe uma experiência além do que um simples terror poderia oferecer.
Matheus J. S.  7,5

A série nos apresenta logo nos primeiros episódios a residência Hill e acontecimentos estranhos que ocorrem nela e em volta dos personagens principais. Neste momento ela já promete ser mais que uma série comum, além de nos deixar extremamente curiosos para saber o que irá acontecer com os protagonistas e quais assombrações e perigos existem naquela mansão. Infelizmente, ao decorrer dos episódios, percebemos que ela não consegue manter sua qualidade inicial, mas, mesmo decaindo, ela continua sendo cativante e possui episódios muito bons.
Ao dizer que sua qualidade vai decaindo, não quero dizer que todo episódio é melhor que seu sucessor. Por exemplo, o sexto episódio talvez seja um dos melhores, mas ao decorrer desses, o número de cenas que possuem algum detalhe negativo vai aumentando. Esses pontos negativos se referem a circunstâncias sem explicação, cenas que não influenciam em nada, coisas que só aparecem e são citadas após vários episódios, entre outros acontecimentos.
A Maldição da Residência Hill possui uma boa história, uma atmosfera condizente a ela e personagens bem trabalhados, mas também possui pontos negativos, estes que tiram um pouco de seu brilho. É uma série muito boa, mas infelizmente não possui nada de inovador, sendo recomendada para todos, até para aqueles que não gostam de terror, pois seu gênero mais predominante é o suspense, assim, é principalmente recomendada para os amantes do mesmo.
Murillo J. S.  7

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 12 de outubro de 2018
Criada por: Mike Flanagan
Com: Michiel Huisman, Carla Gugino, Henry Thomas…
País: EUA
Gênero: Terror
Status: Renovada
Duração: 42-71 minutos

Sinopse (Wikipédia):
No verão de 1992, Hugh e Olivia Crain com seus filhos Shirley, Steven, Theodora e os gêmeos Luke e Neo, se mudam para a Mansão Hill. O objetivo é reformar a velha mansão para depois vendê-la por um preço mais alto. Entretanto, elementos sobrenaturais presentes na casa vão interferir nos planos dos Crain de maneira trágica e deixar marcas profundas na família.

Avaliação (1ª Temporada):
IMDb (2018- ): 8,7
Rotten: 93%
Metacritic: 79%
Filmow (média geral): 4,4
Adoro Cinema (usuários): 4,6
Kontaminantes (média): 7
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