25 de dezembro de 2019

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Ad Astra

Pôster


Interestelar, A Chegada, Blade Runner 2049... ao se analisar alguns dos títulos sci-fi que estrearam nos últimos anos, chega-se a conclusão que esta tem sido uma década qualitativamente prolífera para o gênero. Nesse sentido, Ad Astra é o incumbido da vez de preservar a boa fama de seus precedentes. Será que ele consegue?
Levando-se em consideração que um bom filme de ficção científica consegue equilibrar as infinitas possibilidades que o gênero oferece, mantendo os pés calcados na realidade, Ad Astra merece ponto por usufruir dessa virtude. Ainda que o roteiro não use conceitos ou terminologias complexas, este se permite desenrolar passeando por vertentes claramente fictícias, mas que não fogem ao absurdo ou às expectativas criadas mediante um futuro próximo. É esse estreito distanciamento com a percepção de mundo que nos é real, que se responsabiliza por estabelecer um vínculo de maior estofo com o assistente, ganhando camadas mais densas conforme o destrinchar da complexidade humana e seus sentimentos.
Dito isso, Ad Astra é uma obra sobre traumas, isolamento, desapego à humanidade e, acima de tudo, sobre as relações humanas. Partindo desse princípio, o longa utiliza a paternalidade como axioma para o debate de temas vinculados a abandono, incapacidade de seguir em frente e um ostracismo autoinoculado, olhando, em primeira instância, para o interior de seus personagens e suas angústias. Em um segundo momento, o enredo volta-se para o espaço - onde o entrecho está exponencialmente alicerçado - e se vê divagando acerca de pautas que questionam a obsessão do ser humano em alcançar os limiares do universo e, consequentemente, o preço cobrado por esta.
Para transmissão das respectivas emoções, a direção recorre ao uso de flashbacks como forma de veicular sua trama. O arranjo destes é sutil e propositalmente desordenado, salientando a turbulência emocional de Joy e insinuando os efeitos conseguintes desta sem se deixar levar por exposições gratuitas. Aliás, exposição é algo com que a película lida de modo incerto, demonstrando, por um lado, eficácia ao explorar os sentimentos do protagonista através de suas avaliações psicológicas - o que é estruturalmente orgânico e viável -, e, por outro, pecando ao martelar em um voice over que se articula como facilitação narrativa para ratificar conceitos já sacramentados.
Traçando um paralelo com o artifício supracitado, é evidente que Ad Astra possui imensa preocupação com a capacidade de discernimento de seu espectador. A película visa insistentemente à conquista do público em sua totalidade, objetivando tornar o texto sempre o mais palatável e dinâmico possível. Para tal, acovarda-se em meio à sequências mais frenéticas, que apesar de bem dirigidas (como a dos piratas e dos primatas), existem somente para cativar uma seara mais popular. Os vários planos que constituem uma mesma cena é outro elemento imposto com o intuito de criar a falsa sensação de agilidade, enquanto o voice over, anteriormente citado, inclui-se também com a finalidade de enxertar euforia a segmentos considerados mais "chatos" e "monótonos".
Por outro lado, a preferência por planos gerais e de maior amplitude panorâmica difundem com grandeza e volume a vastidão negra do espaço e a magnitude dos planetas. Outrossim, embora o filme não especifique em que ano a trama se passa, o mesmo imprime o senso futurístico a partir de aparatos tecnológicos que estão à frente do nosso tempo, bem como por intermédio da inserção de informações que corroboram a vigência de parâmetros de uma época futura. Nesse aspecto, o design de produção destaca-se na confecção de detalhes cenográficos, auxiliado pelo figurino característico que evoca eficazmente a atmosfera dos desígnios exercidos pela profissão de Joy. Ademais, a cinematografia é belíssima, realçando com esmero as particularidades de cada planeta ou similar novo visitado, chegando muitas vezes a tecer enquadramentos lisérgicos e oníricos.
Por fim, convém enaltecer a atuação de Brad Pitt, provavelmente em um dos melhores papeis de sua carreira. Ao interpretar um homem frio, macambúzio e solitário, Pitt tem uma performance de muita introspecção, focada principalmente nas dores latentes de seu personagem. No mais, Tommy Lee Jones, apesar do pouco tempo de tela, convence como um indivíduo velho, reticente e repleto de suspeitas.
Em suma, Ad Astra é uma produção intrigante e apurada que tem o potencial enfaticamente reduzido perante um esforço constante e desnecessário em se fazer mais interessante e entusiástica para atingir uma maior parcela do público.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 26 de setembro de 2019
Direção: James Gray
Elenco: Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Ruth Negga…
Gênero: Ficção científica
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Google):
Um homem viaja pelo interior de um sistema solar sem lei para encontrar seu pai desaparecido - um cientista renegado que representa uma ameaça à humanidade.

Avaliação:
IMDb: 6,8
Rotten: 84%
Metacritic: 80%
Filmow (média geral): 3,4
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,6/3,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
Avaliação

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