9 de dezembro de 2019

Kontaminantes ☣ , O Relatório , Filmes , Suspense-filme ,

O Relatório

Pôster


Spotlight, A Grande Aposta, Vice... a abordagem de eventos controversos que à sua maneira marcaram a história dos Estados Unidos parece ser um dos temas preferidos de Hollywood. Dentre os novos títulos que passaram a agregar esta vasta safra, destaca-se O Relatório, filme que se propõe a explorar o famoso caso da descoberta de metodologias escusas utilizadas pela CIA para coagir prisioneiros à transmissão de informações que poderiam futuramente impedir atentados terroristas.
A priori, a agilidade com que executa-se o roteiro é o elemento que efetua maior eficácia no longa. Incumbida de engrenar a trama, a montagem caracteriza-se pela imposição de um dinamismo narrativo que se alterna entre a apresentação dos fatos investigados - o que se dá por meio do uso de flashbacks - e a investigação em si liderada pelo personagem Daniel Jones. De similar forma, articula-se o frenesi judicial que molda o palco dos derradeiros embates entre CIA e Senado.
Outra grande virtude da obra se resume à sua concepção visual. Isto é, a película se intercala entre colorações que, cada qual ao seu modo, transmitem um espírito diferente, seja o azul que exprime o isolamento demandado pelo trabalho exercido por Daniel, o amarelo manchado que difunde o desconforto dos salões de tortura, e tons metálicos salpicados por um pontual branco e preto que evocam os requintes dos ambientes mais formais. Da mesma maneira, o filme, conforme a autenticidade com que constrói seus cenários, imprime com sucesso a enervante atmosfera que compõe os interrogatórios ministrados pela CIA, desde o sofrimento lancinante que aflige os cativos e o ar claustrofóbico dos ínfimos recintos em que os mesmos são interrogados, até a inquietante sonoridade à base de trechos de trash metal que permeia majoritariamente a confecção do polêmico procedimento.
O Relatório também possui méritos, em parte, no que diz respeito à explanação do enredo. Usufruindo de uma linguagem de fácil assimilação, o texto é inteiramente compreensível, pecando somente na redundância de informações já consolidadas que, consequentemente, terminam subestimando o público. A nequice é repetidamente projetada pela senadora Feinstein, personagem patética usada como intermédio do script para questionamentos acerca de afirmações que Daniel acabara de fazer. Aproveitando a deixa, a intérprete da mesma (Annette Bening) é tão insossa quanto à persona incorporada, totalmente aquém das vocações políticas que a personagem deveria ter e jamais chegando a convencer o telespectador da genuinidade de qualquer palavra que saia de sua boca.
Por sua vez, Adam Driver é o oposto da atriz com quem contracena. Único rosto interessante do longa, Daniel, vivido pelo respectivo, demonstra aptidão como um homem convicto, obstinado e envolto pelo trabalho e por suas pesquisas. Completamente avesso aos métodos conduzidos pela CIA, o assistente sente seu repúdio, revolta e ânsia por justiça. É sobre essa ferrenha personalidade que a película ensaia acometer reflexões de maior peso vinculadas aos efeitos físico-mentais que a obsessão de Dan pode despertar, o que é pincelado com superficialidade e não denota a pujança necessária para se elencar um patamar acima.
Outro núcleo explorado de forma supérflua é o que constitui as pautas éticas da conduta adotada pela agência de inteligência dos Estados Unidos. Embora presentes, tais debates nunca alcançam a relevância esperada, sendo impostos mais por obrigatoriedade e cumprimento de alguma norma preestabelecida pelos roteiristas, do que por complemento pertinente e previamente trabalhado pelo entrecho. Nesse sentido, os integrantes do serviço supracitado são todos nefastos, gananciosos e unilaterais; as únicas exceções são uns poucos personagens que, isentados do programa, auxiliam as investigações de Daniel, evidenciando uma típica facilitação narrativa do gênero.
Ao tomar como ponto de partida uma cadeia de eventos que incriminam e expõem os relapsos de todo um sistema que, teoricamente, se apresenta como o mais perfeito do mundo, é de se esperar neutralidade e rigor no tratamento do caso, todavia não é o que acontece. Por outro lado, a produção opta por enaltecer e glorificar seus "heróis injustiçados", inferindo a velha ideia de que os Estados Unidos são uma nação clemente e altruísta que reconhece seus próprios erros e encontra uma forma de prosperar independente dos percalços. Sobretudo, o longa, apesar do caráter informativo e o ritmo enérgico, em nenhum momento é instigante o bastante para fazer o espectador pesquisar por conta própria o caso mais a fundo.
No mais, O Relatório tem uma ótima atuação central e uma montagem assaz empolgante, mas é genérico e conta uma estória de cunho temporário na memória do público, este que, salvo uma mudança aqui e outra acolá, já viu inúmeras produções similares.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog

Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 7 de novembro de 2019
Direção: Scott Z. Burns
Elenco: Adam Driver, Annette Bening, Jon Hamm…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):
Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a CIA passou a adotar o uso da tortura como meio de obter informações de pessoas consideradas ameaças ao país. Trabalhando para a senadora Dianne Feinstein, o agente Daniel J. Jones inicia, em 2007, uma investigação interna acerca de denúncias sobre a destruição de fitas de interrogatório por parte da CIA, divulgadas através de reportagem publicada pelo jornal New York Times. Com muita dificuldade em conseguir os documentos necessários, Daniel dedica-se ao relatório por quase uma década, sem saber se um dia as descobertas por ele feitas serão expostas ao público.

Avaliação:
IMDb: 7,2
Rotten: 82%
Metacritic: 66%
Filmow (média geral): 3,4
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,2/2,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6,5
Avaliação

Nenhum comentário:

Postar um comentário