Estórias sobre relações amorosas despontam como um dos temas mais corriqueiros em Hollywood. Desde melodramas até as mais pífias comédias românticas, o relacionamento a dois se prolifera nas mais variáveis vertentes da sétima arte. Dito isso, História de um Casamento, novo longa da Netflix, é mais um desta leva que se propõe a abordar o assunto.

Sob comando do cineasta Noah Baumbach, o filme possui uma direção centrada e autônoma. Com uma abertura abrupta que não a permite estender-se através de delongas, a película tem um início eufórico marcado por uma narração em voice over de ambos os protagonistas descrevendo as melhores virtudes um do outro. É uma introdução macambúzia, haja visto que o espectador logo em seguida é nocauteado por uma realidade completamente distinta, o que o leva a se martirizar projetando um futuro feliz que nunca ocorrerá.

Outrossim, Noah conduz as cenas com destreza, manipulando os cortes entre um personagem e outro com agilidade, deixando os sentimentos falarem através da sutil aproximação facial da câmera e estreitando cada vez mais os planos como forma de exaltar a intensidade crescente das discussões entre Nicole e Charlie. Também vale frisar o equilíbrio com que a direção manuseia o enredo, permitindo as emoções fluírem em tela, sem qualquer tipo de manipulação sentimental ou coerção por parte do mesmo. Desse modo, quando o longa recorre à comoção como ferramenta narrativa, este encorpa muito mais densidade e relevância sobre o trecho em evidência, o que se justifica pela unicidade do mesmo.

Concernente aos personagens, estes são outro grande trunfo da obra. Embora Nicole e Charlie alicercem as principais pautas do filme, são os coadjuvantes quem roubam a cena. Nora e Jay, advogados da dupla protagonista, dão um show à parte: Jay esbanja carisma e vigor, enquanto Nora demonstra desenvoltura, força, perspicácia e presença de tela; são eles, respaldados pela vitalidade e engajamento cênico de seus intérpretes (Laura Dern e Ray Liotta), que alavancam algumas das melhores e mais jocosas sequências da película. Por sua vez, Sandra e Cassie (mãe e irmã de Nicole, respectivamente), incrementam de forma contagiante a trama em suas ramificações mais leves, estas que, embora individualmente pouco pertinentes, mereciam maior tempo em destaque. Em contraparte, o script não comete esse mesmo relapso no que diz respeito às personas centrais, considerando que o entrecho cadencia com harmonia o tempo dedicado a cada um.

Sobretudo, História de um Casamento é uma produção sobre rancor, ressentimentos, o que poderia ter sido e não foi, uma obra que exprime desalento em todas as nuances que compõem os percalços e sacrifícios exigidos por um vínculo afetivo entre duas pessoas. Nesse sentido, o longa, mais que a apresentação de um mero divórcio, é o retrato fidedigno de uma vida doada ao companheiro, e como esta influencia todas as camadas da rotina de qualquer um dos cônjuges, desde os mais simples desejos pessoais até os dilemas que agregam a profissão de ambos. Ademais, o texto enfatiza a criança que paira entre os confrontos que permeiam a relação desses indivíduos, fazendo repercutir sobre o mesmo todo o desgaste que a separação ocasiona, a turbulência de uma instabilidade repentinamente instaurada e a natural disputa por sua guarda que os pais têm de enfrentar.

Partindo da respectiva crescente dramática, o filme leva o público a desbravar âmbitos que se portam como um adendo do roteiro, fazendo-o refletir sobre as variáveis da vida, como um distanciamento paternal proveniente do fim de um casamento que acontece de maneira muito mais automática do que deveria. Tal plot é abordado com paciência pelo longa, enquanto o relacionamento entre mãe e filho, apesar da menor quantidade de segmentos juntos, tem o amor ali existente bem salientado. Aliás, tratando-se de amor o enredo procura ser o mais autêntico possível, emoldurando um laço matrimonial que não se sustenta mais, porém ainda é pontuado por laivos de dileção mútua, o que exemplifica com genuinidade uma complexa multidimensionalidade de sentimentos humanos.

Embasando a amálgama de conflitos, Scarlett Johansson e Adam Driver têm uma performance digna de nota que delineia consentaneamente as vicissitudes emocionais demandadas pelo texto designado a cada um, passeando organicamente por momentos de raiva, tristeza, arrependimento, catarse e enternecimento. O espaço concedido para os atores brilharem é tamanho que o roteiro articula-se majoritariamente sobre concepções dialógicas, o que, vez ou outra, resulta em blocos verbalmente mais expositivos que o necessário.

Em suma, História de um Casamento é um filme verossímil, que conta com atuações extraordinárias de um elenco competente e uma sinergia tonal dosada com proficiência. Entretanto, nunca é marcante o bastante para carimbar o histórico de um assistente que jamais tenha vivenciado circunstâncias similares às vistas em tela.

Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Netflix): 6 de dezembro de 2019

Direção: Noah Baumbach

Elenco: Adam Driver, Scarlett Johansson, Laura Dern…

Gênero: Drama

Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):

Nicole (Scarlett Johansson) e seu marido Charlie (Adam Driver) estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern), especialista no assunto. Surpreso com a decisão da agora ex-esposa, Charlie precisa encontrar um advogado para tratar da custódia do filho deles, o pequeno Henry (Azhy Robertson).

Avaliação:

IMDb: 8,2

Rotten: 95%

Metacritic: 93%

Filmow (média geral): 4,2

Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,8/4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 7,5

História de um Casamento

Estórias sobre relações amorosas despontam como um dos temas mais corriqueiros em Hollywood. Desde melodramas até as mais pífias comédias românticas, o relacionamento a dois se prolifera nas mais variáveis vertentes da sétima arte. Dito isso, História de um Casamento, novo longa da Netflix, é mais um desta leva que se propõe a abordar o assunto.

Sob comando do cineasta Noah Baumbach, o filme possui uma direção centrada e autônoma. Com uma abertura abrupta que não a permite estender-se através de delongas, a película tem um início eufórico marcado por uma narração em voice over de ambos os protagonistas descrevendo as melhores virtudes um do outro. É uma introdução macambúzia, haja visto que o espectador logo em seguida é nocauteado por uma realidade completamente distinta, o que o leva a se martirizar projetando um futuro feliz que nunca ocorrerá.

Outrossim, Noah conduz as cenas com destreza, manipulando os cortes entre um personagem e outro com agilidade, deixando os sentimentos falarem através da sutil aproximação facial da câmera e estreitando cada vez mais os planos como forma de exaltar a intensidade crescente das discussões entre Nicole e Charlie. Também vale frisar o equilíbrio com que a direção manuseia o enredo, permitindo as emoções fluírem em tela, sem qualquer tipo de manipulação sentimental ou coerção por parte do mesmo. Desse modo, quando o longa recorre à comoção como ferramenta narrativa, este encorpa muito mais densidade e relevância sobre o trecho em evidência, o que se justifica pela unicidade do mesmo.

Concernente aos personagens, estes são outro grande trunfo da obra. Embora Nicole e Charlie alicercem as principais pautas do filme, são os coadjuvantes quem roubam a cena. Nora e Jay, advogados da dupla protagonista, dão um show à parte: Jay esbanja carisma e vigor, enquanto Nora demonstra desenvoltura, força, perspicácia e presença de tela; são eles, respaldados pela vitalidade e engajamento cênico de seus intérpretes (Laura Dern e Ray Liotta), que alavancam algumas das melhores e mais jocosas sequências da película. Por sua vez, Sandra e Cassie (mãe e irmã de Nicole, respectivamente), incrementam de forma contagiante a trama em suas ramificações mais leves, estas que, embora individualmente pouco pertinentes, mereciam maior tempo em destaque. Em contraparte, o script não comete esse mesmo relapso no que diz respeito às personas centrais, considerando que o entrecho cadencia com harmonia o tempo dedicado a cada um.

Sobretudo, História de um Casamento é uma produção sobre rancor, ressentimentos, o que poderia ter sido e não foi, uma obra que exprime desalento em todas as nuances que compõem os percalços e sacrifícios exigidos por um vínculo afetivo entre duas pessoas. Nesse sentido, o longa, mais que a apresentação de um mero divórcio, é o retrato fidedigno de uma vida doada ao companheiro, e como esta influencia todas as camadas da rotina de qualquer um dos cônjuges, desde os mais simples desejos pessoais até os dilemas que agregam a profissão de ambos. Ademais, o texto enfatiza a criança que paira entre os confrontos que permeiam a relação desses indivíduos, fazendo repercutir sobre o mesmo todo o desgaste que a separação ocasiona, a turbulência de uma instabilidade repentinamente instaurada e a natural disputa por sua guarda que os pais têm de enfrentar.

Partindo da respectiva crescente dramática, o filme leva o público a desbravar âmbitos que se portam como um adendo do roteiro, fazendo-o refletir sobre as variáveis da vida, como um distanciamento paternal proveniente do fim de um casamento que acontece de maneira muito mais automática do que deveria. Tal plot é abordado com paciência pelo longa, enquanto o relacionamento entre mãe e filho, apesar da menor quantidade de segmentos juntos, tem o amor ali existente bem salientado. Aliás, tratando-se de amor o enredo procura ser o mais autêntico possível, emoldurando um laço matrimonial que não se sustenta mais, porém ainda é pontuado por laivos de dileção mútua, o que exemplifica com genuinidade uma complexa multidimensionalidade de sentimentos humanos.

Embasando a amálgama de conflitos, Scarlett Johansson e Adam Driver têm uma performance digna de nota que delineia consentaneamente as vicissitudes emocionais demandadas pelo texto designado a cada um, passeando organicamente por momentos de raiva, tristeza, arrependimento, catarse e enternecimento. O espaço concedido para os atores brilharem é tamanho que o roteiro articula-se majoritariamente sobre concepções dialógicas, o que, vez ou outra, resulta em blocos verbalmente mais expositivos que o necessário.

Em suma, História de um Casamento é um filme verossímil, que conta com atuações extraordinárias de um elenco competente e uma sinergia tonal dosada com proficiência. Entretanto, nunca é marcante o bastante para carimbar o histórico de um assistente que jamais tenha vivenciado circunstâncias similares às vistas em tela.

Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Netflix): 6 de dezembro de 2019

Direção: Noah Baumbach

Elenco: Adam Driver, Scarlett Johansson, Laura Dern…

Gênero: Drama

Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):

Nicole (Scarlett Johansson) e seu marido Charlie (Adam Driver) estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern), especialista no assunto. Surpreso com a decisão da agora ex-esposa, Charlie precisa encontrar um advogado para tratar da custódia do filho deles, o pequeno Henry (Azhy Robertson).

Avaliação:

IMDb: 8,2

Rotten: 95%

Metacritic: 93%

Filmow (média geral): 4,2

Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,8/4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 7,5