Após o instantâneo sucesso que os irmãos Josh e
Benny Safdie obtiveram em 2017 com Bom Comportamento, os diretores voltam aos
holofotes da indústria cinematográfica com Uncut Gems. Responsáveis por
alavancar a carreira de Robert Pattinson após o fiasco que foi Crepúsculo, os
diretores parecem fazer o mesmo com Adam Sandler, como vem sendo difundido
pelos mais renomados críticos. Agora, será que essa acachapante recepção se
justifica?
A priori, vale frisar que Uncut Gems é um filme
de roteiro convencional. Essa asserção diz respeito ao script sob uma
visão holística, sobretudo as diretrizes que impulsionam o enredo e estão
calcadas nas simplórias desventuras de um joalheiro. Dito isso, Uncut Gems pode
ser resumido com as palavras recém escritas, uma obra inane, sem um escopo
relevante e que não encontra seu nicho no âmbito do entretenimento e nem em
qualquer outro. Não há mensagens a serem transmitidas, uma estória concreta a
ser contada ou o usufruto de qualquer tipo de diversão.
Para não ser injusto, o roteiro não é um
completo desastre, é apenas insosso, medíocre e, em certos quesitos, incompleto.
Isso fica claro ao se analisar a subtrama de Howard com sua família, esta que
se estabelece de forma avulsa e supérflua somente com insinuações picotadas de
um divórcio iminente e uma relação distante com os filhos. Por outro lado, os
primórdios da narrativa merecem nota por atirar o espectador em meio à trama
sem se alongar por explicações baratas, o que, embora a princípio confuso, realça-se
pela contextualização orgânica.
Outrossim, o terceiro ato ganha pontos pela
concepção de um clímax tenso, eletrizante e que faz despertar no assistente a
mais elevada ansiedade. Díspar de outros blocos do filme, este possui uma
emenda final satisfatória, inesperada e até chocante; certamente o auge do
longa. Ademais, a comicidade, quando requisitada, funciona bem, oriunda de
situações constrangedoras nas quais Howard acaba se metendo.
Consoante a ausência de pujança do roteiro,
espera-se que os personagens se empoderem e supram a adinamia do texto.
Entretanto, não é o que acontece, haja visto que as personas são insípidas, não
possuem arcos engajantes e a química entre os mesmos em momento algum contagia
o público a ponto de fazê-lo se importar com qualquer mazela que venha afligi-los.
Isso também se enquadra no que diz respeito a Howard, um protagonista que, por
vezes, chega a ser chato e detestável,
seja por conta de suas atitudes controversas e pouco inteligentes, seja pelo
caráter fraco e desinteressante.
Por sua vez, a direção se encarrega de
transmitir o dinamismo do entrecho, fazendo-o com uma câmera bastante inquieta,
mas faltando identidade para expressar um selo autônomo dos cineastas que a
manuseiam. O uso de planos mais fechados também é recorrente, manifestando-se
como uma espécie visual da vida periclitante que Howard leva; é quase
claustrofóbico, como se o personagem não tivesse paz ou tempo para respirar. Ademais,
a direção se faz presente em um excerto que, salvo o desfecho, desponta como o
mais empolgante de toda a película. Passa-se durante um leilão, onde se imprime
todo o frenesi das ofertas e o vai e vem das disputas entre os personagens; é
um trecho nervosamente cômico, principalmente conforme as eventuais circunstâncias
dependentes do resultado desse evento.
Diferentemente do que vem sendo propagado, Adam
Sandler tem uma atuação oscilante, com lapsos de talento que atendem aos picos
emocionais da figura incorporada, mas que se ofuscam perante um irritante e
contínuo sorrisinho no rosto que delata uma performance canastrona.
No mais, a trilha exalta a vigência atmosférica
das cenas, com a predominância de estilos voltados ao hip-hop e toques
eletrônicos que compactuam com os parâmetros impostos em tela. Tocante à
cinematografia, o longa tem um visual colorido assaz marcante, mas que não
recebe respaldo de quaisquer vertentes do script.
Em suma, Uncut Gems, apesar de um ou outro acerto,
é um filme ordinário e esquecível.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (EUA): 25 de
dezembro de 2019
Direção: Benny Safdie e Josh
Safdie
Elenco: Adam Sandler, Julia Fox,
The Weeknd…
Gênero: Policial
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Wikipédia):
Howard Ratner (Adam Sandler), um joalheiro e
viciado em jogos de azar, deve encontrar uma maneira de pagar suas dívidas
antes que seja tarde demais.
Avaliação:
IMDb: 8,1
Rotten:
93%
Metacritic:
89%
Filmow
(média geral): 4,0
Adoro
Cinema (adorocinema): 4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 5
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