Me Chame Pelo Seu Nome, A Forma da Água,
Dunkirk, Get Out... nesta época de premiações é deprimente se perceber a
quantidade exorbitante de produções frívolas que recebem tanta ovação. Beach Rats
indubitavelmente merece maior atenção do que vem recebendo.
É certo que a premissa da qual o filme parte
não é inovadora, então o que o torna tão especial? Ao manter como protagonista
um jovem enredado pelos conflitos etários, o longa ostenta como imponente
artifício a crua e genuína imersão de seu público e o vínculo que se estabelece
entre protagonista e espectador. Isto é, visto a verossimilhança dos eventos
destacados, se constrói um grau de identificação que, mesmo que o assistente
não tenha passado exatamente pelos mesmos desafios que Frankie, este se vê envolvido
e tocado pelos respectivos. É complexo, real e, acima de tudo, humano.
Para tais realizações, Eliza Hittman usufrui de
inquietos planos faciais que ratificam a angústia do personagem e de sequências
triviais com enfoque individual em Frankie utilitárias do silêncio para
simbolizar a catarse aflitiva do mesmo. Todo esse desespero é incorporado com
primor por Harris Dickinson, ator estreante que, mesmo sem verbalizar seu martírio,
transmite com consentaneidade e transparência toda a contenda emocional de sua
persona sublinhada por seu rico trabalho de expressividades tristes. Somado aos
aspectos em realce, corrobora a maleável trilha sonora que está sempre a
sintonizar os acontecimentos em tela.
Beach Rats, sobretudo, é uma jornada de
autoconhecimento que possui como baluarte o desenvolvimento da sexualidade de
seu protagonista. Diferentemente de muita produção, a película utiliza o desejo
homoafetivo de Frankie como complemento relevante de suas autodescobertas,
concebendo um inteligente embate interno entre o estereótipo social que seu
círculo de convívio lhe atribui e seus mais íntimos anseios. É um laborioso
exercício de auto-repressão, insegurança e autoaceitação, o que se consta por
sua relutância em lidar com o novo mundo, a instabilidade que lhe assola e as questionáveis
ações e tomar de atitudes seguida por uma melancolia que paulatinamente lhe consome.
É uma efígie de desalento, amargor, agonia, exaspero e pungência. Ademais, as
cenas de sexo não são gratuitas, sempre mostrando apenas o necessário e
servindo como ferramenta de espairecimento definitivo acerca da opção sexual de
Frankie, mesmo que ele se mostre reticente em se admitir.
A família do protagonista também é explorada e
possui ênfase na confecção de sua identidade, seja no modo superprotetor com
que se porta à irmã, a ausência da figura paternal por auxiliá-lo neste período
de mudanças e consolidações e a pouca comunicação que procura ter com a mãe
impulsionado pelo sentimento de incompreensão e o peso que recai sobre suas
costas após a morte do pai como sendo o novo "homem da família".
Simone, personagem igualmente bastante frisada ao correr do enredo, tem sua
parcela de importância como indulto e válvula de escape para Frankie (assim como as drogas que por vezes lhe servem de subterfúgio), além de sanar,
mesmo que involuntariamente, as dúvidas que lhe completam o caráter. No mais,
são estes fatores que moldam um estudo de personalidade forte e completo.
Áspero e lídimo, Beach Rats, em suma, é um
perfeito retrato da vida e de seu processo de descobrimentos.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Festival de
Sundance): 23 de janeiro de 2017 (1h 38min)
Direção: Eliza Hittman
Elenco: Harris Dickinson, Madeline Weinstein, Kate
Hodge…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Adoro
Cinema):
Um adolescente sem objetivo do Brooklyn luta
para escapar de sua vida familiar sombria e levantar questões de
autoidentidade, enquanto ele equilibra seu tempo entre seus amigos
delinquentes, uma possível namorada e os homens mais velhos que ele conhece online.
Avaliação:
IMDb:
6,5
Rotten:
85%
Metacritic:
78%
Filmow
(média geral): 3,2
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10
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