É inegável que Hollywood vive um dos episódios
mais obscuros e nefastos de sua história. Felizmente, por enquanto, o lado
artístico ainda pode ser apreciado.
Embora Lady Bird não seja um filme apoteótico,
de atuações memoráveis ou roteiro inusitado, este tem como maior mérito um
aspecto o qual muitas produções trabalham em segundo plano ou nem sequer se
mostram dispostas em concebê-lo: o contágio de seu espectador. É indiscutível,
Lady Bird é cativante, e isto se dá principalmente pela simplicidade e franqueza
de seu entrecho que, sob condução da diretora estreante Greta Gerwig, não opta
por um minucioso estudo introspectivo de personagem, mas sim pelo explorar de
situações rotineiras que consegue ser tão profundo quanto. É modesto, mas
funcional, funcionalidade que se deve ao senso de familiaridade com que se
desenvolvem os eventos em tela imbuídos por um compacto fator de recognição
para com o público.
O ritmo imposto pelo longa, a princípio
aparentemente um tanto quanto afobado, logo se torna habitual ao espectador e
serve como transparência do turbilhão de situações cotidianas de Christine que
corrobora em cadência com a curta duração da película sem jamais se tornar
maçante. Tal dinamismo é de fácil degustação e entretenimento mediante o
carisma do enredo fruto dos divertidos acontecimentos retratados, diversão
adequada perfeitamente ao reconhecimento do assistente para com as vivências de
uma garota de 17 anos, o espectador se vê em cena conversando e fazendo coisas
bobas com os colegas, enfrentando os impasses que a escolha de uma faculdade
acarreta, os empecilhos consequentes de uma amizade verdadeira em contraste com
o desejo de se ser popular, os sentimentos e sensações de se estar com o primeiro namorado(a)... Lady
Bird, acima de tudo, é um filme de transformações e novas experiências.
De modo mais íntimo e conflituoso, destaca-se
bastante o âmbito familiar de Christine, em especial sua mãe. Como de praxe, o
longa mantém sua característica verossimilhança ao estabelecer uma relação maternal
envolta por confrontos e marcada pela distinção de ideais e valores que
consegue ser tão natural ao representar emoções antagônicas, como a ternura e a
raiva, em uma só cena. A complexidade deste relacionamento é
extremamente real, abrangendo discussões onde comentários impensados vem à tona
e atitudes drásticas são tomadas, com o ego inerente à condição humana
sobrepondo o amor mútuo e impedindo que um simples pedido de desculpas possa
ser pronunciado. Afinal, quem nunca divergiu dos princípios da mãe, falou
alguma besteira e ficou um tempo sem falar com ela? São estes aspectos que
fazem de Lady Bird tão crível, a singela efígie da vida e seus dilemas.
No mais, as atuações são convincentes e
consentâneas as exigências dos respectivos papeis, sem nada de excepcional a
ressaltar. O visual tem um ar bem genuíno, sem a prevalência de algum tom ou
mistura, podendo se confundir determinados enquadramentos com uma foto amadora
tirada de um lugar qualquer, e a trilha sonora, que encontra-se sempre
presente, é enérgica e colabora com o vigor jovial em realce.
Lady Bird não é original ou inovador, mas
instiga, entusiasma, é sincero e define um forte vínculo de identificação com
seu público.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Leia Também:
Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 15
de fevereiro de 2018 (1h 34min)
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts…
Gêneros: Drama; Comédia
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Christine
McPherson (Saoirse Ronan) está no último ano do ensino médio e o que mais
deseja é ir fazer faculdade longe de Sacramento, Califórnia, ideia firmemente
rejeitada por sua mãe (Laurie Metcalf). Lady Bird, como a garota de forte
personalidade exige ser chamada, não se dá por vencida e leva o plano de ir
embora adiante mesmo assim. Enquanto sua hora não chega, no entanto, ela se
divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro,
típicos rituais de passagem para a vida adulta e inúmeros desentendimentos com
a progenitora.
Avaliação:
IMDb:
7,7
Rotten:
99%
Metacritic:
94%
Filmow
(média geral): 4,0
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,0/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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