Filmes com personagens deslocados não são
incomuns no cinema, o que faz com que um diferencial sempre seja bem-vindo.
Pois bem, Birdman não tem nada de convencional.
É imprescindível, para se falar de Birdman é obrigatório
se falar de Iñárritu que aqui prova porque está entre um dos diretores mais proficientes
de sua geração. É estranho de se dizer, mas Birdman não tem cortes (exceto em
seus segmentos finais, mas aqui está sendo considerado a maior parte da obra),
é um trabalho extremamente hábil e difícil que tem como maior virtude a
transição de uma sequência a outra de forma contínua e imperceptível, o que
adere ao longa extrema intensidade, imersão e realismo que se compilam em
magníficos planos-sequência de vários minutos, a câmera vai, volta, acompanha
um personagem, alterna-se a outro, se intercala entre planos e perspectivas,
move-se pelos cenários sobre diversos ângulos, manipula o espaço em sublinho
das figuras em cena... é primoroso. Muito também se deve a performance do
elenco que se comporta de forma natural e incansável durante a extensa duração
de um take e a absorção de enxurradas de falas para uma única tomada, se alguém
falha tudo tem de voltar do zero. A maneira com que direção e atores estão
entrosados é um deleite de se apreciar.
A montagem eufórica ressaltada bastante
corrobora ao modo de vida do protagonista e cria um ritmo dinâmico onde não há
tempo para explicações que tem seu ápice ao longo de passagens que chegam a ser
claustrofóbicas. O protagonista, Riggan, mesmo sem muitas palavras, tem sua
angústia interior salientada por íntimos enfoques faciais, cacofônicas batidas
de bateria e pela estupenda atuação de Michael Keaton. Tendo como âmago a
desilusão e o saudosismo do apogeu artístico, Birdman não deixa de ser um
estudo de personagem que tem como cerne dilemas internos a respeito do
desejo em contraste com o remorso e a culpa, Riggan é uma pessoa infeliz,
obsessiva e incompleta que busca subterfúgios no teatro. Keaton interpreta com
brilhantismo toda a instabilidade e excentricidades da persona, desde seu
caráter autodestrutivo até seus devaneios imbuídos por um senso de
superioridade e revolta que chega a ser cômico. O design de produção, como
confecção do caos que norteia a áurea do personagem, merece pontos. Ademais, Emma
Stone, como a filha viciada de Riggan, mesmo com menor tempo de tela, se porta
com tamanho talento. Ela convence como uma jovem desajustada e rebelde que tem
seu auge durante um monólogo catártico onde todas as mágoas para com o pai vêm à tona.
Embora tecnicamente irretocável, a película,
que em conceição de roteiro não é lá estritamente inovadora, também peca na
concepção do personagem do Edward Norton. Este jamais funciona sozinho tendo em
vista seu opaco embasamento individual, bem como as subtramas improfundas que o
acercam. Ao menos o ator transparece bastante carisma em seu papel.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
é um filme divertido, de momentos hilários e esteticamente singular que tece
importantes reflexões voltadas ao mundo da arte e a complexidade da
idiossincrasia humana e conflituosa de seu protagonista.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog
Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 29
de janeiro de 2015 (1h 59min)
Direção: Alejandro González
Iñárritu
Elenco: Michael Keaton, Zach Galifianakis,
Edward Norton…
Gêneros: Comédia; Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
Por mais de 20 anos, o ator Riggan Thomson foi
conhecido por interpretar Birdman, um super-herói que se tornou um ícone
cultural. Entretanto, ao recusar-se a gravar o quarto filme com o mesmo
personagem, sua carreira começa a decair. Em uma tentativa de recuperar a fama
perdida e também o reconhecimento do público, ele decide dirigir, roteirizar e
estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway.
Avaliação:
IMDb:
7,8
Rotten:
91%
Metacritic:
88%
Filmow
(média geral): 3,9
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 3,9/5,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Obrigada por compartilhar essa dica! Eu achei um ótimo filme. Adorei esta história, por que além do bom roteiro, realmente teve um elenco decente, elemento que nem todos os filmes deste gênero tem. Acho que é um dos filmes de Michael Keaton que eu mais gostei até agora além de Fome de Poder no ano passado. Birdman é um dos melhores filmes dele, tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. Se alguém ainda não viu, eu recomendo amplamente, vocês vão gostar com certeza.
ResponderExcluirJulieta, obrigado pelo comentário! Realmente Birdman é um filme incrível, muito em função de seu roteiro e os atores extremamente competentes (como citado), além da magistral direção de Iñárritu. Ademais do próprio Michael Keaton, muito me agrada também a performance do Edward Norton. No mais, embora ainda não tenha assistido, Fome de Poder integra minha lista para ser visto e possivelmente logo possa ser discorrido sobre aqui no blog.
Excluir