Um Homem Chamado Ove, A Juventude, A Grande
Beleza, Amor, Up: Altas Aventuras... não são poucas as produções que
desenvolvem suas tramas a partir de protagonistas mais velhos, como também é o
caso do recente Lucky. Portanto, o quê será que o novo longa tem a dizer?
Utilizando a paciência narrativa como um dos
principais aspectos para o explorar de seu enredo, o filme exerce uma calma
rotineira que estabiliza o senso de cotidiano e situa o espectador à vida do
Lucky, acometida fundamental para o bom maquinar da película e para compreensão
de suas propostas que remetem às simplicidades da vida. Tais fatores se
autenticam pela ênfase numa coloração amarronzada que corrobora com a percepção
de casualidade, pela ambientação caseira, árida realçada por cactos e moradias
modestas, pela trilha sonora ditada por uma gaita, canções mexicanas e a
excelente I See A Darkness de Johnny Cash magistralmente introduzida, bem como
o silêncio, tão expressivo quanto à musicalidade, que se coordena a segmentos
contemplativos com consentaneidade e eloquência. Também deve-se ressaltar que
determinadas sequências aparentam se alongar, propositadamente, mais que o
necessário, assim colaborando com o senso de contemplação e monotonia do
dia-a-dia.
Apostando igualmente forte no recurso dos
diálogos, o longa, que na maioria de suas conversações temas como morte,
passado e o vazio da inexistência vem à tona, transparece com facúndia seu
espírito niilista que se reitera pela frequente constatação da iminência do fim
e o seu enfrentar, o que faz de Lucky, acima de tudo, um filme sobre o chegar
da idade e a aceitação, fator que se enaltece pela ausência de vínculos
específicos ou alguém fundamental na vida do protagonista, ratificando, assim,
que esse é um conto sobre o Lucky e sua vida. No entanto, também é neste ponto
onde se encontra o tropeço de maior destaque da película, ou seja, os próprios
diálogos. Se por um a lado a mesma consegue impor sua essência por meio de tal
artifício (ora ou outra um tanto quanto demasiado expositiva, deve-se sublinhar),
por outro inúmeros palratórios não se desenrolam com uma fluidez verossímil,
bem como certas passagens, que procuram comover mediante algum determinado
contexto, falham em seus objetivos por não denotarem a naturalidade exigida, os
personagens apenas recitam belas frases prontas com obvio intuito emotivo.
Concernente as performances, Harry Dean Stanton
interpreta com contudência um Lucky idoso, de fala lenta e porte vulnerável,
frágil por conta da idade, frustrado pelas incertezas com o corpo e consequentemente
amargo, ora reflexivo, ora ranzinza e ora aberto a desabafar seus conflitos,
que tem seu desempenho acentuado pela posterior morte do próprio ator,
atribuindo um peso a mais ao contexto do entrecho e lhe aderindo um teor quase
que profético, ademais de se elevar a veracidade dos monólogos existencialistas
do personagem e dos receios e desesperanças que o assolam, se tornando, assim,
mais que um simples trabalho, onde sente-se as respectivas angústias na pele do
próprio Harry e se consta uma atuação franca e sincera. Já David Lynch, figura
sempre icônica em suas participações, não convence como um homem ferido pela
recente perda de um amigo, certamente seu talento sendo mais bem aproveitado
dirigindo ao invés de atuando.
Lucky não é um filme inovador - você
provavelmente já viu essa estória - e que peca numa de suas maiores investidas,
mas mesmo assim funciona, entretém e usufrui bem de seus outros atributos.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 7 de
dezembro de 2017 (1h 28min)
Direção: John Carroll Lynch
Elenco: Harry Dean Stanton, David Lynch, Ron
Livingston…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Depois
de fumar por muito mais tempo que todos os seus conterrâneos, o velho ateu
Lucky (Harry Dean Stanton), de 90 anos, está no fim de seus dias, apenas
esperando a morte. Vivendo em uma cidade no deserto, ele inicia sua última
atividade antes de partir: se autoexplorar para enfim encontrar iluminação.
Avaliação:
IMDb:
7,5
Rotten:
98%
Metacritic:
79%
Filmow
(média geral): 4,1
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 3,5/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8
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