Se Dunkirk é a representação prática da
Evacuação de Dunquerque, O Destino de Uma Nação é o retrato diplomata e teórico
de tal episódio. Agora, será que Joe Wright acertou em sua empreitada?
Apesar de sua nacionalidade britânica, O
Destino de Uma Nação segue típicos padrões hollywoodianos. De narrativa
previsível e roteiro aflorado, este é um filme que peca especialmente na plumagem
de seu enredo, ou seja, que constitui-se dum entrecho demasiado polido,
apinhado de frases inspiradoras e bonitinhas e um protagonista de ideias
controversas que heroica e orgulhosamente vai contra toda e qualquer oposição
para salvar a honra de seu país. O senso de tragédia da película é
genericamente acentuado por sequências que focam nas expressões atônitas de
civis e a trilha sonora que, dado a notícia de algum evento importante, se
mostra presente como que para intensificar o peso dramático de tal
acontecimento. Extremamente positivo e otimista, O Destino de Uma Nação é uma
produção sentimentalmente manipulativa e ora ou outra emocionalmente compelida
que se esquece da visceralidade da verossimilhança e se aprofunda no glamour
rosado da maquiagem de seus fatos.
O filme, lá com suas aproximadas 2hrs, poderia
ser bem mais enxuto visto o excessivo realce que certos personagens têm durante
uma passagem ou outra que destoa de sua proporcionalidade de destaque em
relação ao correr do longa e que não denotam um embasamento individual que
justifique seu tempo em cena ou sirva para estabelecer um vínculo compacto com
o espectador. Elizabeth, de modo pouco distinto, serve como perfeito exemplo já
que é frequentemente frisada, mas completamente descartável, funcionando apenas
como boa ouvinte dos monólogos de Churchill acerca de seus próprios conflitos,
monólogos - estes sim possuindo sua parcela de relevância - que servem para uma
melhor compreensão do público a respeito da situação confrontosa e posição
delicada em que o político se encontra. Ademais, deve-se ratificar que o longa
se torna demasiado redundante e expositivo ao espairecer determinados fatores
com os quais o assistente já se habituou ao simplesmente interpretar o que se
passa em tela.
Apesar das nequices ressaltadas, O Destino de
Uma Nação também acerta bastante. Embora seu primeiro ato seja monótono, a
película se aproveita do mesmo ao introduzir uma sonoplastia recreativa que
corrobora com o respectivo tom utilizado que é precisamente alinhado a
seriedade de tal cenário representado, enquanto a transição da atmosfera lúdica
para permanente tonalidade dramática se dá de forma natural e imperceptível. No
entanto, o que mais se sobressai é seu conjunto visual, este composto por tons
pretos e marrons que o qualificam como um filme de época e um figurino
característico que dialoga até nos mínimos detalhes com seu design de produção
minuciosamente concebido e que não deixa dúvidas quanto ao período histórico
emulado. Todavia, é de suma importância salientar que todos estes fatores não
teriam expressividade alguma se não estivessem em plena harmonia com outros
elementos que complementam tais aspectos em sublinho, como sua atuação central,
a concepção de seu protagonista e afins. Felizmente, o longa mais uma vez é
pontual.
Interpretado brilhantemente por Gary Oldman,
Winston Churchill é um personagem de camadas, a princípio ranzinza, bastante
exigente e arrogante, mas que tem sua personalidade desmembrada pela magnífica
performance que o permeia e se incumbe da profundidade a qual este é
gradativamente submetido, fazendo com que o espectador se familiarize com sua
figura e venha a conhecer também seu lado bem-humorado e intencionado, além de
passar a ter noção de suas contendas, os dilemas de se ter toda uma nação em
mãos e o fardo que lhe recai as costas reiterado pelas pressões que sofre de
todos os lados. É uma atuação de sutilezas, seja na maneira hesitante, mas
inteligente com que fala exaltada por sua imponência vocal digna do posto que
ocupa, em seus trejeitos, no modo encurvado o qual caminha, na forma incômoda
com que tosse ou em sua respiração pesada que está sempre a lhe acompanhar,
além de ser um homem maleável em seu humor que se alterna entre o instável, irônico,
irritado, rude, resmungão, engraçado e autoconfiante. A maquiagem
que lhe confecciona a persona é deslumbrante, não se percebe que aquele é o
Gary Oldman e, ao invés do ator ser engolido pelo respectivo material, tal
trabalho artístico é dosado a complementar seu excelente desempenho. No mais, é
ele que desponta os principais debates e conferências políticas, um dos pontos
mais fortes da película pela dinâmica contraposição de valores e ideais que
torna inteligível a situação conturbada do país, ademais do personagem se
encarregar de fantásticos discursos ao longo da produção que pecam somente por
serem enfeitados demais e consequentemente pouco naturais que acabam por
absolver sua força e um possível impacto genuíno.
O Destino de Uma Nação, em suma, é um filme
padronizado e de muitas cincas, mas contagiante e exímio em seu patamar
técnico.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
Comente, Compartilhe e Siga Nosso Blog
Leia Também:
Ficha Técnica (Adoro Cinema):
Data de lançamento (Brasil): 11
de janeiro de 2018 (2h 06min)
Direção: Joe Wright
Elenco: Gary Oldman, Kristin
Scott Thomas, Ben Mendelsohn…
Gêneros: Histórico; Drama
Nacionalidade: Reino Unido
Sinopse (Adoro Cinema):
Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a
encarar um de seus maiores desafios: tomar posse do cargo de Primeiro Ministro
da Grã-Bretanha. Paralelamente, ele começa a costurar um tratado de paz com a
Alemanha nazista que pode significar o fim de anos de conflito.
Avaliação:
IMDb:
7,4
Rotten:
86%
Metacritic:
75%
Filmow
(média geral): 3,6
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 4,0/3,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6,5
O heróico, em um cenário de urgência e perigo, só deveria surgir no clímax, mas está presente a todo momento, quebrando o tom da obra. Este filme é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado acho que O Conto é um dos melhores filmes de Laura Dern. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Amei o grande elenco do filme, quem fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações. Sem dúvida a veria novamente.
ResponderExcluirEai Emilio, obrigado pelo comentário. Apesar de não ter gostado tanto do filme, reconheço que ele possui seus méritos, estes vinculados principalmente ao âmbito técnico. Concernente a O Conto, ainda não o vi, mas pesquisarei a respeito e provavelmente o assistirei. Mais uma vez, obrigado pela participação.
Excluir