11 de janeiro de 2020

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Ford vs. Ferrari

Pôster


Filmes biográficos fazem parte de um gênero que se prolifera aos montes nos entremeios da indústria cinematográfica. Dentre os títulos de destaque da atual temporada de premiações (como Dois Papas e Meu Nome é Dolemite), Ford vs. Ferrari com certeza é um dos que mais ganha realce. Entretanto, será que o alarde possui embasamento?
De antemão, é impossível discorrer sobre Ford vs. Ferrari é não mencionar as corridas. Limpas, inteligíveis e entusiásticas, as cenas não se limitam a um ângulo ou uma perspectiva única, alternando-se entre vários tipos de plano: aberto, fechado, frontal, traseiro e plano-detalhe, ou focando exclusivamente nas expressões faciais do piloto mediante a efervescência de emoções desperta pela adrenalina da pilotagem. Posto isto, os aspectos técnicos se acentuam, sejam os efeitos práticos que atribuem realidade aos segmentos, a trilha que eleva a atmosfera em vigência e a mixagem de som que fornece vigor a potência dos automóveis.
Remetente ao desafio final, as 24 Horas de Le Mans - evento que preenche grande parcela do terceiro ato - é o grande apogeu do longa. Usufruindo de adventos que constantemente fazem e direção se reinventar e não permitem que a película jamais se torne maçante, James Mangold (diretor) conduz a competição com primor, canalizando a atenção do público em uma diversidade de acontecimentos sobre uma mesma e axiomática circunstância: vencer a corrida. Nesse sentido, o cineasta usa fatores climáticos, elementos de risco e eventuais incidentes para confecção de uma acirrada, tensa e emocionante disputa; ainda que o espectador saiba o que irá acontecer, o roteiro o faz se questionar como, brincando com os sentimentos do mesmo e surpreendendo-o diante das peripécias que permeiam o processo de realização.
Sobretudo, Ford vs. Ferrari é mais que um filme sobre corridas - é sobre dois homens apaixonados por carros em confronto com uma corporativa multibilionária para alcançar seus sonhos. Nesse sentido, as ocorrências se efetuam sem pressa, explorando os detalhes burocráticos, o aprimoramento dos carros e o treinamento de Ken, o que, ao fim, atribui muito mais peso a jornada dos personagens. Contudo, individualmente falando, o arco de Carroll Shelby, apesar da importância e das boas cenas que este agrega, não é condensado pelo enredo, desperdiçando um enorme potencial pincelado desde o trecho de abertura.
Outrossim, a motivação que desencadeia o desenrolar da trama é pífia, mas convincente dentro dos parâmetros estabelecidos pela narrativa e a concepção idiossincrática das personas. Dito isso, os rostos periféricos são operantes e profícuos no que concerne ao tempo de tela disponibilizado a cada um. A única exceção diz respeito a Leo Beebe, que faz o genérico e "malvadão" executivo. Ademais, o script demonstra similar insensibilidade na forma caricata com que retrata os italianos; é raso e desnecessário.
Não obstante, Christian Bale merece muito do mérito até então grifado. O ator interpreta um homem difícil, soberbo e até insolente, dono de uma performance calcada nos maneirismos do personagem, modo de falar, agir e se portar. Além, Bale ludibria a todos como um exímio mecânico e piloto, chegando a conquistar a simpatia do assistente, se não pelo forte caráter, pela dedicação e vontade. Por sua vez, Matt Damon tem uma atuação comum ao correr do longa, com ressalva à cena final; (SPOILERS A SEGUIR) esta, ademais de fortificar a relação entre Carroll e Ken, traz o melhor momento de Damon, arrebatando o público com sua dor e pesar pela morte do amigo.
No mais, o filme estende-se pouco mais que o devido, articulando o acidente de Ken mais como obrigação biográfica do que por necessidade narrativa. (FIM DOS SPOILERS) Entretanto, Mangold presenteia o espectador com um desfecho soturno sem se permitir liberdades criativas para fantasiar fatos amargos, moldando um entorpecente e indigesto clímax respaldado na lugubridade da vida. Vale ressaltar que essa melancolia derradeira é contrabalanceada pelo entrecho com pontuais e eficazes pitadas cômicas.
Em suma, Ford vs. Ferrari é um filme intenso, competente, ajambrado e que se propõe a mais do que meramente entreter usando carros velozes.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 14 de novembro de 2019
Direção: James Mangold
Elenco: Matt Damon, Christian Bale, Caitriona Balfe…
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):
Durante a década de 1960, a Ford resolve entrar no ramo das corridas automobilísticas de forma que a empresa ganhe o prestígio e o glamour da concorrente Ferrari, campeoníssima em várias corridas. Para tanto, contrata o ex-piloto Carroll Shelby (Matt Damon) para chefiar a empreitada. Por mais que tenha carta branca para montar sua equipe, incluindo o piloto e engenheiro Ken Miles (Christian Bale), Shelby enfrenta problemas com a diretoria da Ford, especialmente pela mentalidade mais voltada para os negócios e a imagem da empresa do que propriamente em relação ao aspecto esportivo.

Avaliação:
IMDb: 8,3
Rotten: 92%
Metacritic: 81%
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,9/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8,5
Avaliação

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