4 de janeiro de 2020

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O Farol

Pôster


Pode-se dizer que A Bruxa é, até então, um dos filmes que mais dividiu o público durante a década. Mais do que isso, a obra de Robert Eggers foi uma das responsáveis por inaugurar o que vem sendo chamado de Pós-Terror, uma espécie de subgênero que preza primordialmente o desenvolvimento psicológico de seus personagens e foge de convenções de gênero para amedrontar o espectador. Quatro anos mais tarde, o cineasta volta aos holofotes com O Farol, nova produção que vem gerando tanto estardalhaço quanto.
Reiterando o que foi dito, O Farol não é um longa que se apropria de artifícios comuns para estimular apreensão no assistente. Posto isto, a película faz praticamente uma reinvenção do jumpscare, usando o som estridente de determinados objetos repentinamente inoculados após um corte, para fazer com que o público tenha um sobressalto. É eficiente, haja visto que o espanto provém da introdução de ferramentas habituais ao dia a dia, ao mesmo tempo que personifica sobre a ilha a imagem de um ser vivo e monstruoso.
Nesse sentido, o filme caracteriza-se pela poderosa utilização do som. A edição e a mixagem deste sublinham o furor das ondas e da intempérie, ao passo que a trilha é marcada por uma espécie de sinal ou alarme constante extremamente tétrico. Corroborando, a cenografia cria um ambiente completamente desconvidativo, bruto, apartado e solitário, pontuado por um terreno lamacento e a demanda por muito trabalho. Destarte, o local, além de misterioso por si só, tem a aura frisada mediante a fotografia em preto e branco que enaltece a atmosfera lúgubre, enquanto a iluminação oscilante delineia a ilha e os personagens sob contornos fantasmagóricos.
Outro item a realçar-se em O Farol, é o aspecto anacrônico. A escolha pelo formato em 35 mm e a cinematografia supracitada são adereços visuais que individualmente já conferem ao longa uma aparência lírica. No entanto, o quê poético é enfatizado perante os monólogos de Thomas Wake (Willem Dafoe) que, ademais de muito bem encenados, carregam consigo um tom erudito; é curioso, singular e pitoresco. Curioso também são as histórias contadas por este e suas superstições, considerando que elas fomentam o clima labiríntico e deixam o espectador ainda mais embasbacado.
Não obstante, tratando-se da nova obra de Robert Eggers, o assistente jamais tem convicções quanto ao enredo. Ao beber de influências lovecraftianas e recorrer ao uso de elementos oníricos e quiméricos, o diretor mistura fantasia e realidade em uma epopéia fílmica sobre o homem e seus limites, para pautar temas como isolamento, abstinência sexual e os efeitos psicocomportamentais que uma rotina exaustiva e monótona pode afligir sobre o ser humano. (SPOILERS A SEGUIR) Entretanto, para se compreender efetivamente as principais alegorias da película, é necessário que o público possua um prévio conhecimento do mito de Prometeu, o que é orquestrado sem quaisquer diretrizes pelo roteiro, empobrecendo, consequentemente, a experiência de espectadores leigos, sem que estes tenham culpa. (FIM DOS SPOILERS)
Centrando isso tudo, estão Thomas Wake e Ephraim Winslow, dupla que convive sob tensão e violência. Todavia, esta é mais uma camada que o texto lida com melindre e estranheza, embasando tal agressividade por meio de falas, gestos e comportamento. Dito isso, a comicidade do longa é surtida do tolhimento de certas cenas, articulando-se de maneira exótica e bastante subjetiva.
Sobretudo, esta é uma produção calcada no talento de seu elenco, que, no caso, resume-se a dois nomes. Willem Dafoe vive com aptidão um indivíduo de modos rústicos, rabugento, inflexível e grosseiro, enquanto Robert  Pattinson incorpora um homem mais contido, que adere a uma crescente paranoia e a maleabilidade de emoções exigida pelas sucessivas circunstâncias insólitas que vem a se deparar; é igualmente uma atuação de muita fisicalidade endereçada aos desígnios que sua persona encontra-se atribuída na ilha.
Em suma, O Farol é um filme ímpar, estrambótico e interpretativo, mas estiloso o suficiente para conquistar até aqueles que se sintam mais inseguros para dizer que não entenderam algo do que acabaram de assistir.
              
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 2 de janeiro de 2020
Direção: Robert Eggers
Elenco: Robert Pattinson, Willem Dafoe…
Gênero: Terror
Nacionalidades: EUA e Canadá

Sinopse (Google):
Início do século XX. Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha isolada, contrata o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir o ajudante anterior e colaborar nas tarefas diárias. No entanto, o acesso ao farol é mantido fechado ao novato, que se torna cada vez mais curioso com este espaço privado.

Avaliação:
IMDb: 8,0
Rotten: 92%
Metacritic: 83%
Filmow (média geral): 4,0
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,5/5,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8
Avaliação

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