Astro dos anos 80 e 90, Eddie Murphy não tem se
destacado ultimamente frente aos holofotes. Entretanto, Meu Nome é Dolemite,
uma das novas apostas da Netflix, parece engajada em mudar isso.
A começar por suas principais virtudes, o filme
ganha pontos pela representação caprichosa da cultura afro-americana, o que se
dá através da caracterização de seus indivíduos e um estilo de vida correspondente
a um povo em constante processo de empoderamento. Nesse âmbito, realça-se a
variação de estilos de cabelo prezando as qualidades ingênitas de seus
correligionários, as cores vibrantes de seus trajes associadas a formosos
adereços, além da corriqueira presença em bares, discotecas e boates que se
articulam como única forma de entretenimento para uma seara frequentemente vítima
de preconceitos.
Contudo, apesar de tais elementos poderem ser
constatados visualmente, eles jamais ganham um espaço considerável no texto.
Isto é, embora fique claro que os personagens vivem em uma sociedade
etnicamente polarizada e desprovida de representatividade - como bem insinuado
durante o primeiro ato -, o longa jamais se propõe a destrinchar efetivamente
tais temas, preterindo-os por uma trama prioritariamente vinculada a comédia,
mas que também nunca consegue ser tão engraçada quanto deveria. O mesmo pode
ser dito da maneira com que a película aborda o cinema blacksploitation,
apresentando-o de modo estritamente entusiástico, sem explorar o impacto
sociocultural exercido pelo respectivo subgênero como o estopim de um marco nos
anos 70.
Sob um olhar mais circunscrito, Meu Nome é
Dolemite volta-se para seu protagonista e a trajetória deste rumo ao estrelato,
no entanto persistindo nas falhas supracitadas. Ou seja, ainda que a ignorância
do mesmo correlacionada ao âmbito cinematográfico propicie a confecção de sequências
hilárias, o roteiro, toda vez que começa a dramatizar pouco mais o arco da
persona e dar-lhe camadas, tão logo desvirtua-se por intermédio de facilitações
narrativas e retorna a um terreno de maior comodidade.
Por outro lado, não há digressões quando o
assunto é Eddie Murphy, haja visto que sua performance é o ponto alto do filme.
Interpretando uma figura que corrobora sua imagem de comediante sacramentada
nas telonas, o ator possui um timing cômico excelente e uma desenvoltura
em palco que facilmente contagia o público. Ademais, o intérprete demonstra a
mesma aptidão ao incorporar os receios e frustrações do personagem.
Com relação ao elenco, vale frisar as icônicas participações
de Snoop Dogg, Bob Odenkirk, Chris Rock e Wesley Snipes, este canastrão e detentor
de vários cacoetes. Dentre os rostos periféricos, Lady Reed, apesar de bruscamente
inserida ao entrecho, é a única que faz parte de algo que mais se aproxima de
uma subtrama sólida. No mais, convém sublinhar o espírito otimista do longa e
seu desfecho inspirador.
Em suma, Meu Nome é Dolemite tem um primeiro
ato repleto de potencial, cenas engraçadas e uma atuação cânone extraordinária.
Porém, a obra jamais é inteiramente jocosa ou intimista o suficiente, terminando
por ser um passatempo raso que nunca se permite lapidar suas vertentes mais
brutas.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 25
de outubro de 2019
Direção: Craig Brewer
Elenco: Eddie Murphy, Wesley
Snipes, Mike Epps…
Gênero: Comédia
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Netflix):
Los Angeles, anos 1970. Depois do sucesso do
seu indecente alter ego, Dolemite, o comediante Rudy Ray Moore arrisca tudo
para chegar às telonas.
Avaliação:
IMDb: 7,3
Rotten:
97%
Metacritic:
76%
Filmow
(média geral): 3,9
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 3,9/5,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 6,5
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