Com a recente divulgação dos nomeados ao Oscar,
é louvável que Jojo Rabbit tenha galgado o preconceito, polêmicas e críticas
infundadas para a conquista de seis indicações ao Oscar, incluindo o de Melhor
Filme. Afinal, nada mais justo que uma boa obra sendo prestigiada da forma
devida.
Acima de tudo, Jojo Rabbit é uma sátira sobre o
nazismo que usufrui do absurdo para causar risos e troçar do regime alemão.
Para tal, os soldados são apresentados de forma apalermada, os experimentos
científicos são ironizados e a saudação entre eles ("Heil Hitler")
é debochada, porém, o alvo principal de todo esse escárnio é o próprio Führer;
ele berra, é tonto, ingênuo e histriônico, mas, sobretudo, também é um
"cara" legal, carismático e fácil de simpatizar. Sua personificação
(que acontece apenas na mente de Jojo) representa a inocente visão que o menino
possui da vida, além de materializar uma ideia latente enraizada na cultura alemã
que os faz crer, desde idades mais tenras, no altruísmo, liderança e
grandiloquência de Hitler.
Nesse sentido, o longa molda uma Alemanha
vivendo as consequências de uma falácia, retratando uma legião de jovens que
irão crescer sob pérfidos axiomas, dogmas extremistas e uma deturpação
generalizada de valores e princípios, tais como a banalização da violência, misoginia
e disseminação do antissemitismo. É um eficiente estudo acerca da influência sociocultural que
aflige e tece toda uma nação, acentuando-se perante a manipulação da perspectiva
inóxia de uma criança que idolatra um monstro, cultua a guerra e se atém a um
discurso de ódio e segregação; ainda que tudo seja abordado sob um viés jocoso,
é impossível não lamentar pelas diversas vidas infantis ceifadas por uma falsa idealização
de mundo.
Outro ponto que ganha ênfase, é o equilíbrio
tonal com que a película é cadenciada. Pouco a pouco, o filme ganha contornos
mais densos, o que é sublinhado sutilmente por intermédio da introdução de
elementos cênicos e a inserção de subnúcleos dramáticos. Dito isso, os aspectos
visuais dialogam com a atmosfera vigente, o que é evidenciado conforme a paleta
de cores que, com a chegada do inverno e o texto mais carregado, se transmuta em
matizes mais álgidas. No entanto, tais nuances soturnas são propositalmente
atenuadas conforme a implementação de segmentos mais leves que não permitem o
longa se tornar demasiado lôbrego.
Outrossim, o design
de produção desenha uma Alemanha nazista em toda sua totalidade. A idolatria
por Hitler, o caráter militarista e o ufanismo desvairado consta em todos os
lugares, desde os cartazes espalhados pela cidade e a constante presença de
soldados nas ruas, até a confecção do quarto de Jojo que realça uma
personalidade pueril e obcecada. A película demonstra essa mesma habilidade ao
articular a concepção cenográfica de uma Alemanha sob ataque e de um Estado em
deterioração, tanto através dos destroços quanto dos cadáveres que frisam o
desalento de uma era pontuada por trevas e perversidades.
Por sua vez, a trilha e as atuações merecem
nota. Enquanto a musicalidade eleva a comicidade das sequências, as enternece
ou intensifica a tensão, Roman Griffin Davis engrandece as emoções de sua
persona, tanto sua dor, fissura quanto insipiência. O elenco de apoio
igualmente constitui-se de performances consentâneas, tais como a de Sam Rockwell
que, com apenas uma cena, conquista integralmente o público. Apesar de Scarlett
Johansson estar bem, o rosto feminino de maior destaque é o de Thomasin
McKenzie: sagaz, doce, perigosa e imprevisível, a atriz encarna todas as faces da
figura incorporada, além de ser o principal elo entre as mensagens de amor,
amizade, inocência e liberdade que a obra tem a transmitir.
Em suma, Jojo Rabbit é a mais grata surpresa dessa
temporada de premiações.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 6 de
fevereiro de 2020
Direção: Taika Waititi
Elenco: Roman Griffin Davis,
Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson…
Gênero: Comédia
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
Jojo é um garoto alemão solitário que descobre
que sua mãe está escondendo uma garota judia no sótão. Ajudado apenas por seu
amigo imaginário, Adolf Hitler, Jojo deve enfrentar seu nacionalismo cego
enquanto a Segunda Guerra Mundial prossegue.
Avaliação:
IMDb:
8,0
Rotten:
80%
Metacritic:
58%
Filmow
(média geral): 4,1
Adoro
Cinema (adorocinema): 4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 10
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