22 de janeiro de 2020

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Dor e Glória

Pôster


Roma, uma das produções mais aclamadas de 2018, retrata as lembranças da infância de um dos cineastas mais conceituados da atualidade: Alfonso Cuarón. De similar forma, 2019 encarrega-se de apresentar ao mundo Dor e Glória, novo filme do espanhol Pedro Almodóvar que vem sendo considerado sua obra mais intimista, quanto pessoal.
O primeiro passo que o difere do longa supracitado, é o envolvimento que se cria com o espectador. Quase de imediato, este vincula-se aos personagens, importando-se e concatenando-se à rotina dos mesmos, o que é de suma importância, visto que a narrativa hodierna exige um comprometimento preestabelecido entre assistente e protagonista. Ou seja, Dor e Glória jamais se impõe como um audiovisual de grandes ambições, focando, por outro lado, nas casualidades do dia a dia de Salvador e se apropriando de elementos comuns à vida de todos para autenticar efetivamente a experiência do público.
Dito isso, a película alterna-se entre expor, no presente, a vida monótona de um cineasta profissionalmente inerte, e sua infância – por intermédio de flashbacks – apresentando os principais eventos que marcaram tal fase, mesclando e complementando, portanto, tais segmentos organicamente à estrutura óssea do roteiro. Sobretudo, Dor e Glória é sobre as memórias de um homem desamparado ruminando sobre a própria existência, sobre Pedro Almodóvar refletindo sobre si e contando uma estória que, mesmo inegavelmente atrelada a certas liberdades ficcionais, articula-se como um autorretrato contemplativo e confessional. Há uma declaração à sua mãe sobre os sentimentos que moldaram a relação entre eles quando criança; seu aliciamento com a heroína no agora; o eterno amor por Federico; os ressentimentos e mágoas com um dos intérpretes de um antigo filme seu... Integralmente verazes ou não, tais capítulos, como afirmado pelo próprio Almodóvar, são alegorias a trechos de sua vida e cicatrizes que delinearam sua personalidade. 
Bastante pragmática e comedida, a direção do espanhol se atém a um caráter despojado permitindo que as minúcias do cotidiano de Salvador atraiam todos os holofotes: não há grandes truques de câmera, travellings mirabolantes ou insanos planos-sequência. No entanto, há uma cena que contradiz tais parâmetros, onde Pedro recorre a um estilo documental e usufrui de aspectos imagéticos e iconográficos para moldar um bloco mais engenhoso; em contraparte, vale frisar que o mesmo, ainda que inventivo, é avulso e desconexo. Inobstante, o diretor rapidamente se recompõe e presenteia o espectador com uma ótima sequência final: é surpreendente, reveladora e muito bem elaborada.
No mais, Antonio Banderas é o cerne de todo esse trabalho. Intérprete de um homem letárgico, resignado, cansado e abatido por dores e deficiências físicas, o ator tem uma atuação introspectiva calcada muito mais nas angústias internas de sua persona e no que o mesmo resguarda somente para si; o brilhantismo de sua performance não centra-se no que é dito ou externado, mas sim no calvário mudo de uma alma em intensa agonia. Por sua vez, Penélope Cruz, tão talentosa quanto, encarna com proficiência as vestes de uma mulher aguerrida que diariamente batalha para sustentar o filho e o lar.
Por Fim, Dor e Glória é uma obra doce, sensível e minimalista que abarca muito mais conteúdo e grandeza do que Roma sequer chegou perto de fazer pouco mais de um ano atrás.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 13 de junho de 2019
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Penélope Cruz…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Espanha

Sinopse (Google):
Salvador Mallo, diretor de cinema em declínio, relembra sua vida e carreira desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 60. Salvador tem lembranças vívidas de seus primeiros amores, seu primeiro desejo, sua primeira paixão adulta na Madrid dos anos 80 e seu interesse precoce no cinema.

Avaliação:
IMDb: 7,6
Rotten: 97%
Metacritic: 88%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 4,1/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Avaliação

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