Oitava versão cinematográfica do livro Little Women, Adoráveis Mulheres é a
segunda incursão de Greta Gerwig atrás das câmeras. Mas por que a diretora
resolveu adaptar um romance que já foi tantas vezes trazido às telonas?
Independente da resposta ou se você já tenha
assistido aos filmes anteriores, é fato que a cineasta dá vida a uma obra
notória. Apesar do início afoito, confuso e desorganizado, o longa se ajambra
aos poucos, contando uma estória no presente e no passado conectada pelos
mesmos semblantes. Dito isso, os flashbacks
- recurso utilizado pela película - servem para estabelecer o vínculo entre o
quarteto de irmãs, as vocações e os sonhos de cada uma e expor a forma com que
muitas das principais figuras se conheceram; é uma introdução paulatina e
arguciosa que visa prioritariamente alicerçar o elo que concatena público e personagens.
Nesse sentido, Adoráveis Mulheres é sobre o que
foi e o que poderia ter sido, sobre crescimento, desilusões e sonhos ruídos.
Para tecer esse contraste temporal e de perspectivas, o filme usufrui de distintas
ferramentas, tal como a fotografia que, no passado, usa cores quentes para expressar
as esperanças de uma época repleta de expectativas, e nos tempos atuais, tons
mais frígidos para externar o desalento e frustração de uma realidade não planejada.
Outro artifício a que o longa recorre, diz respeito a maneira com que Greta manuseia
uma mesma situação em tempos divergentes para criar uma ponte narrativa orgânica
e inventiva, tendo como diferença o comportamento das personagens mediante a
respectiva circunstância, o que atribui, em decorrência, peso a reação das
mesmas.
É interessante observar como o enredo pauta
temas socialmente relevantes e contemporâneos sobre uma trama datada do século
retrasado, abrangendo debates sobre casamento, desigualdade social e,
exponencialmente, o papel da mulher na sociedade. Corroborando, vale frisar que
as discussões se alavancam a partir da construção bem elaborada de personagens,
isto é, todos são conflituosos, possuem arcos pertinentes, tempo de tela e
personalidades bem definidas; até os rostos periféricos têm plots condensados, o que salienta a humanidade
do entrecho e intensifica a experiência como um todo.
Por sua vez, o elenco é excepcional, talentoso,
e a química que os une contagiante. Ainda que Emma Watson interprete com
consentaneidade a doçura do papel que lhe designaram, e Saoirse Ronan viva com
primazia a impetuosidade e as angústias da figura incorporada, é Florence Pugh
quem se destaca. Considerando que Adoráveis Mulheres é sobre o amadurecimento
de suas protagonistas, tal quesito evidencia-se principalmente através da
performance de Florence, que vai de uma jovem infantil e birrenta, a uma mulher
formada, contida e madura. Já Eliza Scanlen, embora condizente ao caráter tímido
e inocente de Beth, parece se omitir em meio aos ilustres nomes com quem
contracena. Concernente aos demais, Timothée Chalamet é aquele com maior realce;
sua atuação é calcada em polos comportamentais, ou seja, ele pode ser o garoto
mais galante e gentil do mundo, como a pessoa mais boçal e execrável de se
conviver.
Por fim, a reconstituição de época é formidável.
A cenografia, majoritariamente composta por paisagens dionisíacas, é vívida e
bela; o design de produção,
meticuloso; e o figurino, além de dialogar com as condições de vida de cada
personagem, tem como pináculo os formosos vestidos que desenham o visual dos
festejos mais luxuosos da trama. No mais, a trilha é sutil, mas presente, e o
desfecho vem acompanhado por um quê metalinguístico irônico e crítico que deixa
o espectador ruminando sobre determinados litígios do enredo.
Em síntese, Adoráveis Mulheres, apesar do imbróglio incipiente, é uma obra tematicamente importante, atual e que pode
orgulhar-se de ostentar um elenco estrondoso e competente.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 9 de
janeiro de 2020
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Saoirse Ronan, Emma
Watson, Florence Pugh…
Gênero: Romance
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
Nos anos seguintes à Guerra de Secessão, Jo
March e suas duas irmãs voltam para casa quando Beth, a tímida irmã caçula,
desenvolve uma doença devastadora que muda para sempre a vida delas.
Avaliação:
IMDb:
8,2
Rotten:
95%
Metacritic:
91%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 3,3/4,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9,5
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