A responsabilidade de tutelar, moderar e
ensinar uma classe de adolescentes em polvorosos não é nada fácil. Por isto,
como alusão ao Dia dos Professores, foi escolhido um filme que retrata as
repercussões de um ensinamento distinto e como suas ocorrências podem ir muito
além de uma sala de aula.
Baseado em eventos reais situados na Califórnia
durante os anos 60, A Onda é uma produção que adapta os fatos para o século XXI
em solo alemão. Ao ter como cenário a Alemanha, o longa, por si só, já ganha
peso, pois, como é questionado na própria película, seria possível que uma ditadura
ganhasse força nos dias de hoje, ainda mais em terras germânicas que são marcadas
por um dos regimes políticos mais crueis da história? Como fica claro ao se assistir
o filme, sim. A grande questão aqui é o porquê, será que os erros do passado
não foram capazes de conscientizar o presente?
Ao enfatizar uma geração de jovens
despropositada e ramificada, a produção é hábil ao salientar o desamparo desta desde
as mais triviais circunstâncias, o que logo vem a ser relevante dado os parâmetros
da narrativa. E é ao dar enfoque a tais turbas movidas pela diversão, que o
roteiro se impõe tão contundente, levando o espectador a refletir sobre o
limite do entretenimento e o niilismo da contemporaneidade. Isto é, ao se pegar
uma gama de alunos estafados pelos métodos tradicionais de se ter aula, um
professor ímpar e carismático somado a insatisfação dos contratempos diários, o
resultado não poderia ser outro, porque o ser humano anseia por novidade, escapismo
e significado, e A Onda é brilhante ao destrinchar tais facetas psicológicas de
seus personagens.
Aproveitando o gancho, é profícuo se observar a
confecção de personalidade das figuras que protagonizam a estória, geralmente
fragilizadas e suscetíveis de algum modo. Por isto, mesmo que nos momentos incipientes
o enredo não seja tão engajante quando longe do Sr. Wenger, ainda é pertinente ao
arco central. Entretanto, há um subnúcleo envolvendo dois personagens (Marco e
Lisa) que é completamente dispensável. Fora isto, o ritmo da trama é bastante
fluido, seja no gradativo ganhar de proporções que o movimento toma, seja na
imposição orgânica de reflexões - tanto em sala de aula quanto na transparência
dos acontecimentos em tela - que se referem à autocracia, fanatismo, segregações
e liberdade de expressão.
Com uma trilha sonora calcada no rock'n'roll, o
longa imprime agressividade, além dos recursos sonoros, na movimentação de
câmera frenética acompanhada de planos entrecortados ao decorrer dos segmentos mais
radicais que corroboram com o extremismo conceitual apresentado. Por outro
lado, se destacam certos planos-sequência que enaltecem a apreensão das cenas em
realce (exponencialmente próximo ao excepcional desfecho).
No mais, A Onda é uma obra ácida, importante e
atemporal.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 21
de agosto de 2009
Direção: Dennis Gansel
Elenco: Jürgen Vogel, Frederick Lau, Max Riemelt…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Alemanha
Sinopse (Adoro Cinema):
Em uma escola da Alemanha, alunos têm de
escolher entre duas disciplinas eletivas, uma sobre anarquia e a outra sobre
autocracia. O professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é colocado para dar aulas
sobre autocracia, mesmo sendo contra sua vontade. Após alguns minutos da
primeira aula, ele decide, para exemplificar melhor aos alunos, formar um
governo fascista dentro da sala de aula. Eles dão o nome de "A Onda"
ao movimento, e escolhem um uniforme e até mesmo uma saudação. Só que o
professor acaba perdendo o controle da situação, e os alunos começam a propagar
"A Onda" pela cidade, tornando o projeto da escola um movimento real.
Quando as coisas começam a ficar sérias e fanáticas demais, Wenger tenta acabar
com "A Onda", mas aí já é tarde demais.
Avaliação:
IMDb: 7,6
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários): 4,5
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9,5
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