Dizer que assistir a esta obra é uma
experiência infernal, seria uma brincadeira de mau gosto e pouco justo com o conteúdo,
até porque, mesmo que as duas horas de audiovisual não sejam das melhores,
também não são de todo ruim.
Embora seja inegável que este é o trabalho mais
frágil das adaptações cinematográficas de romances escritos por Dan Brown, Inferno
não se abstém totalmente de méritos. Começando por estes, os primeiros
instantes de produção são intensamente concebidos em uma amálgama de frenesi,
mistério e senso de urgência; o espectador é repentinamente posto no centro de
um turbilhão de acontecimentos sem saber o que se passa, o que incita sua
curiosidade e estimula o ágil ritmo da trama.
Os minutos seguintes, estes que agregam a meia
hora inicial de filme, mantêm o dinamismo ressaltado, seja na introdução
propositada e narrativamente caótica do personagem Langdon que se distingue da
formal apresentação dos outros dois longas, seja inoculando indagações e
dilemas pertinentes a moral dos ideais do "antagonista" Bertrand ou na
inclusão de pequenas pistas que mais tarde terão significativa presença. Enfatizando
as incógnitas alavancadas ao princípio do entrecho, utiliza-se como recurso bruscos
flashbacks com intuito de emular lampejos memoriais, o que serve para sublinhar
a confusão mental de Langdon e a atmosfera escatológica literária da obra
diretriz do enredo: A Divina Comédia.
Bertrand, além de suscitar alguns dos questionamentos
mais relevantes da película, igualmente é um de seus principais rostos. Mesmo
com pouco tempo de tela, o personagem denota bastante carisma, tem motivações
fortes e persuasivas e dissuade o público em prol de suas crenças piamente sustentadas;
o trabalho interpretativo do Ben Foster é vigoroso e notável. Em contraparte,
Felicity Jones está completamente insossa em seu papel, tanto como atriz quanto
como personagem, já que seu arco é previsível, suas falas ridículas e a
transmissão de seus incentivos não convence. O restante do elenco (com exceção
do Tom Hanks) não foge desses parâmetros, toda vez que o Langdon e o Bertrand
não estão em cena o filme resulta-se estafante, com destaque negativo para Vayentha,
persona desprivilegiada pelo texto ao incorporar uma figura 100% descartável
que faz o estereótipo do assassino implacável que está presente em todos os
três longas até então lançados.
Se o primeiro ato de Inferno é eficaz na
concepção labiríntica dos rumos narrativos, o mesmo não se pode dizer das
resoluções "criativas" usadas pelo roteiro, ou seja, a partir do momento
que a inserção de enigmas é preterida pelo solucionar destas, todas e quaisquer
arremetidas do script tornam-se falhas. Incongruências e convencionalidades se
sobressaem, os métodos de exposição são mal-ajambrados e subestimam o
assistente - seja pelo uso excessivo de flashbacks repetidos para esclarecer um
mesmo fator, seja por meio de diálogos e interlocuções mastigadas -, as
tentativas de se estabelecer elos entre os personagens são infelizes, os romances
pífios e saturados e as boas ideias anteriormente impostas se veem improfícuas.
Até a trilha do Hans Zimmer (reputado compositor) é afetada pelo enredo,
considerando que seu auge ao clímax da película tem seu efeito inibido pelas
sequências ruins de luta e correria que a acompanham, geralmente ininteligíveis
e por si só desinteressantes.
Apesar de a obra possuir todos os ingredientes
que uma adaptação das aventuras do professor Langdon requer, tais como um
assassino, pistas a se decifrar, belas arquiteturas, renomados museus, perseguições,
reviravoltas, vilão de fé ferrenha, pitadinhas cômicas... são poucos os que não
irão se decepcionar. Isto é, Inferno, não obstante em desperdiçar
potencialmente a ampla dimensão dos valores éticos propostos, tem uma estória formulaica,
bagunçada, preguiçosa e sem inspiração.
Matheus J. S.
4
Terceira obra cinematográfica correspondente ao
quarto livro estrelado pelo personagem do herói contemporâneo Robert Langdon,
professor universitário versado em simbologia. Criado por Dan Brown, renomado
escritor que alcançou a notoriedade com o best-seller O Código Da Vinci (também
protagonizado por Robert), autor que sempre participa do nosso círculo de
leitura e quando possível conferimos as adaptações.
A grande novidade fica por conta da introdução
que dispensa um preâmbulo da trama, onde o personagem e o público se veem em
uma correria na qual os acontecimentos anteriores e determinantes são revelados
aos poucos. Assim, o trabalho principal de fisgar e cativar o espectador fica
por conta dos personagens coadjuvantes, de apoio e os artifícios de pistas
misturados a arte e história comumente presente nas obras de Brown.
O vilão intelectual traz uma proposta que
coloca em xeque a índole do caráter humano, onde fica a dúvida se os meios
justificam os fins e quem detém os direitos e qual o limite destes, o que acaba
por aliviar a forma de avaliar o personagem que não inspira a repulsa e
antipatia do público. Já o mesmo não se pode dizer da parceira de Langdon nesta
empreitada que, como principal coadjuvante, alguns pontos sobre Sienna ficam
confusos, como a sua estória pessoal e o tipo de relacionamento em que está
envolvida, não é possível definir se é dependente, louco, platônico, seguro ou
pura paixão. Para agravar a situação, tanto personagem e atriz ficam aquém de
razoável e despertam a indignação de quem assiste por falta de vida em tela. Os demais personagens apenas preenchem a tela sem grande importância significativa
para o desenvolvimento da trama.
O outro alicerce seria os enigmas e objetos
relativos aos mesmos, pontos fortes e recorrentes nas obras de Dan Brown que
desta vez pouco entusiasma e parece um compilado de outras obras, mas sem o
mesmo esmero de antes.
Produção exploratória que vem no encalço da sua
versão literária, não empolga e não conquista. Seu melhor ponto refere-se à
questão existencial com que a humanidade tem de lidar.
leonejs. 6,5
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 13
de outubro de 2016
Direção: Ron Howard
Elenco: Tom Hanks, Felicity Jones, Ben Foster…
Gênero: Suspense
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Google):
O simbologista Robert Langdon e uma médica
viajam pela Europa para deter o plano de um lunático de disseminar um vírus
mortal.
Avaliação:
IMDb: 6,2
Rotten:
22%
Metacritic:
42%
Filmow
(média geral): 3,2
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 3,8/2,5
Kontaminantes
(média): 5
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