Céu e inferno, anjos e demônios, Deus e Satã,
lobisomens e metamorfos, mortes e ressurreições... sim, já se passaram mais de
12 anos desde a estreia de Supernatural. Dentre os vários monstros enfrentados,
as várias horas dentro do Impala e os mais de 200 episódios, é possível que a
série ainda consiga surpreender?
É evidente para todos que Supernatural jamais
se levou a sério. Mesmo em sua era dourada que abrange as cinco primeiras
temporadas, o programa manteve a comicidade como um eficiente e engajante recurso
narrativo, tanto para conquista do público, quanto para entrelaço das
características idiossincráticas de determinadas personas. Da mesma forma, o
drama sempre encontrou espaço nas entrelinhas do programa, talvez não com a
mesma eficácia e desenvoltura, porém constantemente servindo de diretriz e
atribuindo camadas aos personagens.
Neste novo ano não é diferente, já que a
arremetida se emaranha a personalidade de Mary quanto a sua realocação ao mundo
mais de 30 anos depois de morta. É uma acometida ousada, visto que poderia dar
muito errada considerando que Mary nunca foi um rosto regular na série e que
sua ausência na vida dos filhos sempre gerou repercussões relevantes para o
percurso da produção. No entanto, acaba por ser interessante acompanhar os
conflitos gerados por sua volta e a dinâmica que se exerce acerca da família
Winchester, ora estruturada pelo êxtase dos filhos com o retorno da mãe, ora
abalada pela necessidade de espaço da matriarca.
Supernatural igualmente demonstra zelo ao
refletir a inadequação de Mary, seja em seu estranhamento ao lidar com
elementos comuns da atualidade, mas distintos de sua época, seja na concepção
dos dilemas que sua figura maternal representa tanto para si, quanto para seus
filhos. Corroborando, os anseios de Dean e Sam concernentes a segurança de Mary
e o medo de serem deixados são frequentemente frisados e bem arquitetados.
Nestas empreitadas, o roteiro é muito humano e inteligente, pois o espectador
compreende, se apieda e torce por ambos os lados encontrarem felicidade, ainda
que angustiadamente inerte sem poder de intervenção.
Outros novos rostos também são apresentados,
estes que agregam a corporação dos Homens de Letras britânicos. Seus ideais
metódicos, radicais e irredutíveis contrastam com os dos Winchesters e moldam
um dos principais plots da temporada, ademais de haver uma explicação plausível
para só agora estes darem suas caras. Dentre seus membros, os mais destacados
são Davies e Ketch - personas bastante carismáticas -, além de Lady Bevell,
figura veementemente realçada durante o início da temporada que posteriormente
é simplesmente esquecida e tem um retorno abrupto como forma barata de dar um
desfecho a personagem; torna-se dispersa e banal.
A volta de Lúcifer, uma das figuras mais
icônicas da série, não pode deixar de ser mencionada. A princípio sob a pele do
rockeiro Vince Vincent, o personagem não efetua o mesmo efeito contagiante que
o ator Mark Pellegrino tem sobre o público, nem mesmo quando este incorpora o
presidente dos EUA. Não que os atores sejam ruins, mas é que o coração dos fãs
será eternamente do Mark, além deste, como intérprete do Diabo, ser insuperável
em sua mescla perfeita de malícia, sarcasmo e carisma. O arco do personagem
está inerentemente vinculado a outras três subtramas bem desenvolvidas: a de
Crowley e sua disputa pelo trono do Inferno; a de Castiel e sua culpa em
permitir com que o príncipe das trevas vague livremente pela Terra; e a da
Kelly e os dilemas de se estar grávida do Capeta.
Falando em Kelly e em um eventual nascimento do
Anticristo, a acometida é uma das mais obstinadas do ano, bem como tensa e
reflexiva conforme as indagações que surgem da circunstância: um ser deve ser
julgado, sem nem mesmo ter nascido, pelo repertório maléfico de seu pai e por
sua natureza supostamente nefasta? Ademais, é a partir deste plot que se
estabelece o fechamento impactante da temporada repleto de promessas para o ano
seguinte.
A 12ª temporada de Supernatural ainda vem com
toques nostálgicos ao trazer de volta semblantes conhecidos do assistente, tais
como Jody, Claire, Alex, Eillen, Aaron e Gavin, sem falar do encerramento que
certas tramas a muito iniciadas conquistam, como a que envolve a Sociedade
Thule. Rowena, por sua vez, tem poucas aparições, mas nada pertinente que
justifique seu aparecer.
No mais, mesmo que a maioria dos fillers seja
passável, alguns episódios se sobressaem individualmente. Celebrating The
Life of Asa Fox (12x06) dá aula em sua cenografia minimalista e
atmosférica; First Blood (12x09) concebe um empolgante jogo de gato e rato
que tem como cereja do bolo uma referência ao ilustre personagem Rorschach (Watchmen); Regarding
Dean (12x11) é hilário e triste ao mesmo tempo, expõe todo o talento de
Jensen Ackles e relembra a todos porque Dean é o personagem mais engraçado da
série; e Stuck in the Middle (With You) (12x12) é uma consentânea
homenagem a Cães de Aluguel em todos seus aspectos estéticos e estruturais.
A 12ª temporada de Supernatural, portanto, não
é a melhor do programa e muito menos a pior, possui boas guinadas, continua a
entreter e prova que a série ainda tem lenha pra queimar.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 13 de setembro
de 2005
Criado por: Eric Kripke
Com: Jensen Ackles, Jared Padalecki, Misha Collins...
País: EUA
Gênero: Fantasia
Status: Em Andamento
Duração (aproximadamente): 40
minutos
Sinopse (Adoro Cinema):
Desde que era pequeno, Sam Winchester (Jared
Padalecki) tentava escapar do próprio passado. Após a misteriosa morte de Mary
(Samantha Smith), o pai de Sam passou a procurar vingança contra as forças do
mal que mataram a esposa, destruindo qualquer ser maligno que cruze o seu
caminho. Ao contrário de Sam, Dean (Jensen Ackles), irmão mais velho, sempre
quis seguir os passos do pai. Sam está determinado a se livrar do "negócio
da família", mas sua vida está prestes a tomar os rumos que ele não
desejava, quando ele fica sem escolhas a não ser unir-se ao irmão.
Avaliação (12ª Temporada):
IMDb
(2005- ): 8,5
Filmow
(média geral): 4,0
Adoro
Cinema (usuários): 4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6,5
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