Wes Anderson está de volta! Quatro anos após o
lançamento de seu último longa, o egrégio diretor retorna sob o comando de uma
animação, a segunda da carreira. Será que a aposta é acertada, ou terá falhado
o esdrúxulo cineasta?
Todas as características proeminentes de um
filme do Wes Anderson estão presentes em Ilha dos Cachorros, o que atribui à
produção um imediato caráter autoral. Marcada por planos simetricamente
centrados, travellings horizontais e movimentos afunilados, visual ímpar e
colorido, enfoque individual com close em um determinado personagem a frente
dos outros com desfoque ao fundo, brigas enevoadas a lá desenhos animados... a
película utiliza uma estética insigne para contar sua estória, esporadicamente
usufruindo de recursos que vão além dos já citados, como a divisão do entrecho
em capítulos, tela entrecortada mostrando distintas perspectivas ou eventos,
descrições extradiegéticas em japonês, âmbito imaginativo dos personagens e
outros mais. Acima de tudo, Ilha dos Cachorros é uma obra de aspectos
insólitos.
A ambientação dos palcos narrativos também são
singulares e minuciosas. Tendo como cenário terras nipônicas, o longa exerce
contraste entre as vívidas colorações urbanas e os acinzentados, amarronzados e
escuros tons que permeiam a ilha, ademais desta possuir uma confecção sórdida e
poluta que realça suas divergências com a cidade. A mitologia dos cães
igualmente é bem construída, seja no repertório de seus ancestrais, no modo com
que se divide a ilha, em seus trejeitos e até na maneira com que se comunicam.
Ademais, considerando que os personagens caninos são aqueles que estabelecem
maior elo com o espectador, os habitantes humanos - como forma de salientar tal
aproximação especificamente com os cachorros - falam japonês sem que se use a legenda,
o que também serve para reiterar a autenticidade da cultura retratada. Partindo
desta vertente, vale ressaltar a trilha sonora à base de tambores que corrobora
para concepção da atmosfera nipônica.
Ilha dos Cachorros é uma película de muitas
camadas. A princípio uma grande aventura de um garoto em busca de seu cão, o
longa se mostra ser uma espécie de alegoria que pode ser interpretada de muitas
formas, desde as mais simples concernentes aos maus-tratos aos animais,
diferença entre classes, refugiados e polarizações sociais. Indo mais a fundo, percebe-se
até mesmo alfinetadas de teor político, como críticas ao extremismo e
corrupção, enquanto, por outras nuances, se constata vínculos a teorias da
conspiração envolvendo acobertamentos de cura farmacêutica, e reflexões de
cunho filosófico referentes ao avanço da tecnologia e a modernização no
trabalho.
Uma das principais qualidades do filme está no
carisma de seu enredo e não em sua comicidade, visto que, apesar de ser uma
animação, este não é engraçado e nem tem pretensão de ser. Entretanto, algumas
figuras assaz contagiantes que o público é levado a acompanhar durante extensa
parte da trama, em certo momento são simplesmente esquecidas, o que não as
permite ter um digno final. No mais, mesmo que esta seja uma produção onde a
importância está nas mensagens tecidas e os personagens não possuem grande
embasamento, Noz-Moscada e Kobayashi ainda são mais desafortunados que os
demais, já que a cadela encontra-se bastante dispersa quanto ao caminhar da estória,
e o prefeito tem sua índole, até então estritamente unidimensional,
drasticamente alterada ao decorrer dos minutos derradeiros em uma empreitada
que não condiz com a personalidade até então apresentada.
Ilha dos Cachorros é uma obra de acometidas
conceitualmente atuais e relevantes; em suma, um filme divertido e maduro.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 19
de julho de 2018
Direção: Wes Anderson
Elenco: Bryan Cranston, Liev
Schreiber, Edward Norton…
Gênero: Animação
Nacionalidades: Alemanha e EUA
Sinopse (Google):
Atari Kobayashi é um garoto japonês de 12 anos
de idade. Ele mora na cidade de Megasaki, sob tutela do corrupto prefeito
Kobayashi. O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de morarem no
local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha
repleta de lixo. Mas o pequeno Atari não aceita se separar do cachorro Spots.
Ele convoca os amigos, rouba um jato em miniatura e parte em busca de seu fiel
amigo. A aventura vai transformar completamente a vida da cidade.
Avaliação:
IMDb: 8,0
Rotten:
90%
Metacritic:
82%
Filmow
(média geral): 4,2
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 3,8/4,5
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 9
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