12 de outubro de 2018

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Ilha dos Cachorros

Pôster


Wes Anderson está de volta! Quatro anos após o lançamento de seu último longa, o egrégio diretor retorna sob o comando de uma animação, a segunda da carreira. Será que a aposta é acertada, ou terá falhado o esdrúxulo cineasta?
Todas as características proeminentes de um filme do Wes Anderson estão presentes em Ilha dos Cachorros, o que atribui à produção um imediato caráter autoral. Marcada por planos simetricamente centrados, travellings horizontais e movimentos afunilados, visual ímpar e colorido, enfoque individual com close em um determinado personagem a frente dos outros com desfoque ao fundo, brigas enevoadas a lá desenhos animados... a película utiliza uma estética insigne para contar sua estória, esporadicamente usufruindo de recursos que vão além dos já citados, como a divisão do entrecho em capítulos, tela entrecortada mostrando distintas perspectivas ou eventos, descrições extradiegéticas em japonês, âmbito imaginativo dos personagens e outros mais. Acima de tudo, Ilha dos Cachorros é uma obra de aspectos insólitos.
A ambientação dos palcos narrativos também são singulares e minuciosas. Tendo como cenário terras nipônicas, o longa exerce contraste entre as vívidas colorações urbanas e os acinzentados, amarronzados e escuros tons que permeiam a ilha, ademais desta possuir uma confecção sórdida e poluta que realça suas divergências com a cidade. A mitologia dos cães igualmente é bem construída, seja no repertório de seus ancestrais, no modo com que se divide a ilha, em seus trejeitos e até na maneira com que se comunicam. Ademais, considerando que os personagens caninos são aqueles que estabelecem maior elo com o espectador, os habitantes humanos - como forma de salientar tal aproximação especificamente com os cachorros - falam japonês sem que se use a legenda, o que também serve para reiterar a autenticidade da cultura retratada. Partindo desta vertente, vale ressaltar a trilha sonora à base de tambores que corrobora para concepção da atmosfera nipônica.
Ilha dos Cachorros é uma película de muitas camadas. A princípio uma grande aventura de um garoto em busca de seu cão, o longa se mostra ser uma espécie de alegoria que pode ser interpretada de muitas formas, desde as mais simples concernentes aos maus-tratos aos animais, diferença entre classes, refugiados e polarizações sociais. Indo mais a fundo, percebe-se até mesmo alfinetadas de teor político, como críticas ao extremismo e corrupção, enquanto, por outras nuances, se constata vínculos a teorias da conspiração envolvendo acobertamentos de cura farmacêutica, e reflexões de cunho filosófico referentes ao avanço da tecnologia e a modernização no trabalho.
Uma das principais qualidades do filme está no carisma de seu enredo e não em sua comicidade, visto que, apesar de ser uma animação, este não é engraçado e nem tem pretensão de ser. Entretanto, algumas figuras assaz contagiantes que o público é levado a acompanhar durante extensa parte da trama, em certo momento são simplesmente esquecidas, o que não as permite ter um digno final. No mais, mesmo que esta seja uma produção onde a importância está nas mensagens tecidas e os personagens não possuem grande embasamento, Noz-Moscada e Kobayashi ainda são mais desafortunados que os demais, já que a cadela encontra-se bastante dispersa quanto ao caminhar da estória, e o prefeito tem sua índole, até então estritamente unidimensional, drasticamente alterada ao decorrer dos minutos derradeiros em uma empreitada que não condiz com a personalidade até então apresentada.
Ilha dos Cachorros é uma obra de acometidas conceitualmente atuais e relevantes; em suma, um filme divertido e maduro.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 19 de julho de 2018
Direção: Wes Anderson
Elenco: Bryan Cranston, Liev Schreiber, Edward Norton…
Gênero: Animação
Nacionalidades: Alemanha e EUA

Sinopse (Google):
Atari Kobayashi é um garoto japonês de 12 anos de idade. Ele mora na cidade de Megasaki, sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi. O político aprova uma nova lei que proíbe os cachorros de morarem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo. Mas o pequeno Atari não aceita se separar do cachorro Spots. Ele convoca os amigos, rouba um jato em miniatura e parte em busca de seu fiel amigo. A aventura vai transformar completamente a vida da cidade.

Avaliação:
IMDb: 8,0
Rotten: 90%
Metacritic: 82%
Filmow (média geral): 4,2
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,8/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Avaliação

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