Sempre que uma produção Netflix estreia, se
criam muitas expectativas, seja com uma possível bomba ou uma potencial
obra-prima. Noite de Lobos, um dos mais recentes lançamentos do serviço de
streaming, chegou ao catálogo com assaz estardalhaço, alardeado por adjetivos
como complexo e indecifrável. Embora o filme realmente trabalhe com aspectos
herméticos, o que se sobressai em Noite de Lobos é um thriller atmosférico com
problemas de ritmo.
O primeiro ato do longa é impecável. Optando
por um cadenciamento lento, ambientações álgidas e pelo prezar de diálogos, os
minutos incipientes da película imprimem um suspense palpável enaltecido pelo
desenvolvimento da relação sublinhada (Russell e Medora) e pelo semear de
mistérios que instigam a atenção do público. A personagem Medora é uma grande
responsável por inocular tal clima, o que se ratifica por sua personalidade
intrigante, emocionalmente letárgica e atitudes estranhas (o pouco tempo de
tela da personagem é lamentável, visto que o desempenho de sua intérprete é
admirável e a dinâmica que se exerce com o Russell é orgânica e merecia maior
textura). Os elementos técnicos, principalmente no que se refere à meticulosa
sonoplastia que atribui ênfase a sons ambientais e a confecção de cenários
pouco iluminados, também corroboram com a áurea labiríntica do limiar do enredo
e com o envolvimento do espectador.
Todavia, a partir do segundo ato, quando há uma
guinada na trama, a película começa a patinar. O roteiro, de imediato, começa a
flertar com vários gêneros, dentre os quais, além do suspense, se realçam o
drama, thriller e ação. Esta maleabilidade funciona avulsamente (destaque para
uma extensa sequência envolvendo um tiroteio), mas não exerce o mesmo efeito
quanto ao conteúdo completo, já que muitos dos respectivos segmentos rompem a
tônica esfíngica até então estabelecida. Outro problema da produção se
concentra na previsibilidade das ocorrências, não que o entrecho esteja
desprovido de surpresas, muito pelo contrário, porém, desde que um certo
personagem passa a repetir suas atitudes, o assistente já sabe pelo que
esperar, o que ofusca o glamour inopinado do início do filme. Os grandes
momentos de Noite de Lobos são aqueles delineados pela paciência, onde as
figuras em cena podem interagir com calma e os palratórios ganham notoriedade,
momentos estes cada vez mais extintos ao decorrer da obra que deixam de ser
paulatinos e tornam-se modorrentos.
Considerando os temas abordados pela película
concernentes a vingança e a cru e despropositada violência, a cenografia gélida
e escura reflete a idiossincrasia das personas em tela. A agressividade
impudica do script, aliada a contida trilha sonora calcada somente em toques
instrumentais, faz sua parte reiterando o caráter acabrunhado da produção.
Igualmente vale ressaltar o uso de planos-detalhe que intensificam a relação
público-estória, muitas vezes arrefecida pelo esporádico marasmo do roteiro.
Como adendo, o título brasileiro, apesar de distinto do original (Hold the Dark), se mantém simbólico e
enigmático.
A falta de exposição do enredo não deve ser
esquecida, visto que os eventos simplesmente acontecem e cabe ao espectador
fazer sua interpretação e mensurar o que é e o que não é relevante. Entretanto,
ainda que o filme não se submeta a explicações, algumas metáforas ficam bem
explícitas, especialmente aquelas voltadas aos lobos que são exaltadas pela
constante presença e menção a tais criaturas, tanto de uma forma, quanto de
outra. No mais, as atuações merecem nota, seja Jeffrey Wright, que está muito
bem ao incorporar um homem confuso e perplexo, seja Alexander Skarsgård
interpretando com bastante segurança uma pessoa impassível, fria e implacável.
Noite de Lobos, em suma, é um longa
tecnicamente exímio e conceitualmente empolgante, mas que peca em sua conceição
rítmica.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 28
de setembro de 2018
Direção: Jeremy Saulnier
Elenco: Jeffrey Wright, Alexander Skarsgård, Riley
Keough…
Gênero: Suspense
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Netflix):
No
inverno sombrio do Alasca, um naturalista procura por lobos que supostamente
mataram um menino. Logo ele se vê envolvido num mistério arrepiante.
Avaliação:
IMDb: 5,7
Rotten:
69%
Metacritic:
63%
Filmow
(média geral): 2,5
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 1,4/2,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
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