25 de outubro de 2018

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Noite de Lobos

Pôster


Sempre que uma produção Netflix estreia, se criam muitas expectativas, seja com uma possível bomba ou uma potencial obra-prima. Noite de Lobos, um dos mais recentes lançamentos do serviço de streaming, chegou ao catálogo com assaz estardalhaço, alardeado por adjetivos como complexo e indecifrável. Embora o filme realmente trabalhe com aspectos herméticos, o que se sobressai em Noite de Lobos é um thriller atmosférico com problemas de ritmo.
O primeiro ato do longa é impecável. Optando por um cadenciamento lento, ambientações álgidas e pelo prezar de diálogos, os minutos incipientes da película imprimem um suspense palpável enaltecido pelo desenvolvimento da relação sublinhada (Russell e Medora) e pelo semear de mistérios que instigam a atenção do público. A personagem Medora é uma grande responsável por inocular tal clima, o que se ratifica por sua personalidade intrigante, emocionalmente letárgica e atitudes estranhas (o pouco tempo de tela da personagem é lamentável, visto que o desempenho de sua intérprete é admirável e a dinâmica que se exerce com o Russell é orgânica e merecia maior textura). Os elementos técnicos, principalmente no que se refere à meticulosa sonoplastia que atribui ênfase a sons ambientais e a confecção de cenários pouco iluminados, também corroboram com a áurea labiríntica do limiar do enredo e com o envolvimento do espectador.
Todavia, a partir do segundo ato, quando há uma guinada na trama, a película começa a patinar. O roteiro, de imediato, começa a flertar com vários gêneros, dentre os quais, além do suspense, se realçam o drama, thriller e ação. Esta maleabilidade funciona avulsamente (destaque para uma extensa sequência envolvendo um tiroteio), mas não exerce o mesmo efeito quanto ao conteúdo completo, já que muitos dos respectivos segmentos rompem a tônica esfíngica até então estabelecida. Outro problema da produção se concentra na previsibilidade das ocorrências, não que o entrecho esteja desprovido de surpresas, muito pelo contrário, porém, desde que um certo personagem passa a repetir suas atitudes, o assistente já sabe pelo que esperar, o que ofusca o glamour inopinado do início do filme. Os grandes momentos de Noite de Lobos são aqueles delineados pela paciência, onde as figuras em cena podem interagir com calma e os palratórios ganham notoriedade, momentos estes cada vez mais extintos ao decorrer da obra que deixam de ser paulatinos e tornam-se modorrentos.
Considerando os temas abordados pela película concernentes a vingança e a cru e despropositada violência, a cenografia gélida e escura reflete a idiossincrasia das personas em tela. A agressividade impudica do script, aliada a contida trilha sonora calcada somente em toques instrumentais, faz sua parte reiterando o caráter acabrunhado da produção. Igualmente vale ressaltar o uso de planos-detalhe que intensificam a relação público-estória, muitas vezes arrefecida pelo esporádico marasmo do roteiro. Como adendo, o título brasileiro, apesar de distinto do original (Hold the Dark), se mantém simbólico e enigmático.
A falta de exposição do enredo não deve ser esquecida, visto que os eventos simplesmente acontecem e cabe ao espectador fazer sua interpretação e mensurar o que é e o que não é relevante. Entretanto, ainda que o filme não se submeta a explicações, algumas metáforas ficam bem explícitas, especialmente aquelas voltadas aos lobos que são exaltadas pela constante presença e menção a tais criaturas, tanto de uma forma, quanto de outra. No mais, as atuações merecem nota, seja Jeffrey Wright, que está muito bem ao incorporar um homem confuso e perplexo, seja Alexander Skarsgård interpretando com bastante segurança uma pessoa impassível, fria e implacável.
Noite de Lobos, em suma, é um longa tecnicamente exímio e conceitualmente empolgante, mas que peca em sua conceição rítmica.
Matheus J. S.

Assista e Kontamine-se

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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 28 de setembro de 2018
Direção: Jeremy Saulnier
Elenco: Jeffrey Wright, Alexander Skarsgård, Riley Keough…
Gênero: Suspense
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Netflix):
No inverno sombrio do Alasca, um naturalista procura por lobos que supostamente mataram um menino. Logo ele se vê envolvido num mistério arrepiante.

Avaliação:
IMDb: 5,7
Rotten: 69%
Metacritic: 63%
Filmow (média geral): 2,5
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 1,4/2,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
Avaliação

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