Uma vasta gama da população jovem ama filmes de
terror, seja pela adrenalina que os respectivos proporcionam ou pelas convencionalidades
facilmente digestivas de blockbusters do gênero. Apesar de ser provável que a
maioria do pessoal dessa faixa etária rejeite o longa conforme sua tônica
gradativa e a escassez de sustos baratos, isso não quer dizer que Apóstolo é
necessariamente bom.
Os principais méritos de Apóstolo estão em seus
atributos técnicos. De visual apurado, ambientação minuciosa, vestuários
característicos, maquiagem acurada, efeitos práticos irrefutáveis e fotografia
funesta predominantemente preta, marrom e cinza, Apóstolo é uma produção de cenografia
rebuscada e meticulosidade gráfica que é marcada pela intensa imersão diegética
do espectador. Reiterando, a estética grotesca dos monstros é aterradora, as
cenas mais violentas são viscerais e angustiantes, os flashbacks são eficientes
e narrativamente funcionais, e a trilha sonora, ainda que por vezes sature e
impeça que outros aspectos ganhem destaque, calibra e mantém o enervante tom do
enredo optando pelo prezar de um cacófato violino desafinado.
Embora o ritmo da película só deslanche a
partir do segundo ato, as respostas cedidas ao público não fazem jus ao pretexto
com que se desenvolvem. Contudo, se a isenção de criatividade se sobressai no
roteiro, o mesmo não acontece com a câmera em mãos, visto que a obra é repleta
de engenhosos travellings; há planos de ponta cabeça, que distorcem a perspectiva,
que acompanham - de forma manual - a movimentação dos personagens, e até em
primeira pessoa. Como adendo, vale ressaltar o desempenho de Dan Stevens, que,
sem ele, vários dos fatores técnicos citados não teriam a mesma eficácia. Além
de protagonista, sua performance transita principalmente por áreas insânias,
onde a persona, perturbada por algo que jamais vem a tona, possui crises que
realçam sua instabilidade, esta incorporada com proficiência por gestos e maneirismos
que o ator imprime em sua interpretação.
Ainda concernente a Thomas (Dan Stevens), se
fazem várias pinceladas sobre o passado do mesmo, mas nada a respeito se esclarece.
Sua relação com a irmã, respaldo do entrecho, não possui tempo de tela ou
camadas que possam fornecer informações e respostas ao assistente, acaba por
ser só mais um elemento de impulso narrativo que não é explorado. Neste âmbito,
que se refere ao embasamento dos personagens, o script é fraco, o que se ratifica
pelo raso molde do antagonista Quinn, figura de motivações comuns e arco
previsível. Ffion e Jeremy não fogem destes parâmetros, personas
individualmente irrelevantes que formam um casal de subnúcleo ainda mais pífio.
No mais, o filme até ensaia investidas que possam remeter a fé, fanatismo
religioso, crenças ferrenhas e ocultismo, mas que, de modo geral, pouco têm a
dizer e servem somente para concepção atmosférica.
Apóstolo, mesmo que plante algumas
interrogativas na cabeça do espectador e não decepcione em suas sequências mais
sanguinárias, permanece sendo uma estória genérica que terá maior impacto sobre
novos ingressantes do gênero do que sobre adeptos de bagagem mais extensa.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 12
de outubro de 2018
Direção: Gareth Evans
Elenco: Dan Stevens, Michael
Sheen, Lucy Boynton...
Gênero: Suspense
Nacionalidade: EUA
Sinopse (Netflix):
Em 1905, durante a perigosa missão de resgate
da irmã raptada, um homem se envolve com o sinistro culto religioso de uma ilha
isolada.
Avaliação:
IMDb: 6,5
Rotten:
80%
Metacritic:
62%
Filmow
(média geral): 3,1
Adoro
Cinema (usuários): 2,9
Kontaminantes (Matheus J. S.): 6
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