Durante o período eleitoral, nada mais justo
que assistir a um filme de pautas políticas, certo? Embora não estejamos na
União Soviética ou nos anos 50, ademais do longa em questão não ser dos
melhores, a experiência é válida consoante o contexto em que se desenvolve.
A Morte de Stalin é uma produção satírica.
Focada em um cenário que se dá após a morte do ditador soviético, a película
aposta na acidez de suas acometidas para contar sua estória. Para tal, utilizam-se,
geralmente, reações e conjunturas absurdas derivadas de circunstâncias comuns
do cotidiano. A obra também é eficaz em sua concepção de jocosidade irônica
pertinente a negligência com que os homens de poder lidam com assuntos de
Estado e são facilmente distraídos por eventuais frivolidades, bem como na
comicidade consequente da hipocrisia presente em determinados segmentos, como,
por exemplo, quando alguém está deturpando a imagem de uma pessoa e esta
repentinamente adentra o recinto, o que faz com que o sujeito mude
descaradamente de perspectiva e passe a elogiá-la (há uma sequência específica,
envolvendo o Steve Buscemi, que é hilária). Todavia, o mesmo não se pode dizer
de algumas passagens pretensiosamente engraçadas que mais remetem filmes do
Adam Sandler; são simplesmente toscas.
As principais críticas do longa - como é
constantemente apregoado - estão vinculadas ao egocentrismo dos governantes e a
defasagem que há entre eles e os governados, seja nas futilidades e abundâncias
em que os estadistas se esbaldam, seja na miséria e sofrimento em que a
população vive que é banalizada pelo roteiro com intuito de transparecer o
verdadeiro posicionamento dos governamentais frente a situação. A concepção do
personagem Malenkov igualmente é bastante incisiva, visto que este reflete a
incompetência de um político tolo permeado pelo poder que serve de marionete a
segundos. Como adendo, praticamente os últimos vinte minutos de produção pendem
exclusivamente para o drama em empreitadas que se saem bem, apesar de destoarem
das várias bizonhices até então apresentadas, ou seja, A Morte de Stalin não é
nem uma película de humor negro, uma comédia pastelona e muito menos uma obra
séria. Sintetizando, acaba por ser uma mixórdia que investe em demasia, porém
jamais encontra singela consonância.
No decurso das ocorrências mais chatas, o filme
é severamente afetado, torna-se modorrento e exaustivo; não há uma consistência
rítmica. Em contraparte, os atores são bons e fazem o possível para sustentar
os respectivos momentos, com destaque especial para três rostos: Jeffrey Tambor
incorpora com consentaneidade um homem ingênuo que pateticamente procura impor
sua vontade; Simon Russell Beale brilha na pele de um ser insaciável por poder,
odiável e repulsivo, enquanto Steve Buscemi esbanja a carisma de sempre e tenta
esboçar complacência e solidariedade.
Mesmo com as ínfimas aparições de Stalin, o
longa é hábil ao impor sua postura maléfica, considerando que, após seu
falecimento, a temeridade e a tirania causadas por sua imagem ainda pairam sobre
o povo e os personagens. A partir de então, as figuras recorrentes do entrecho
passam a ser introduzidas, de forma eficiente e recreativa, deve-se dizer, com
enfoque individual em slow motion com nome e cargo em destaque. Corroborando,
frequentemente se sobressai a trilha sonora, ora com toques marciais, ora
lúdicos e ora clássicos em tonalidades graves. No mais, a caracterização da
época retratada é formidável: vistosa, rebuscada e rica em detalhes.
Em suma, A Morte de Stalin é visualmente
faustoso, tem cenas divertidas e propõe importantes reflexões, mas é arrastado
e nunca encontra o calibre de seu tom.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 7 de
junho de 2018
Direção: Armando Iannucci
Elenco: Steve Buscemi, Simon
Russell Beale, Jeffrey Tambor...
Gêneros: Comédia
Nacionalidades: EUA, França e
Reino Unido
Sinopse (Google):
União Soviética, 1953. Após a morte de Josef
Stalin, o alto escalão do comitê do Partido Comunista se vê em momentos
caóticos para decidir quem será o sucessor do líder soviético.
Avaliação:
IMDb:
7,2
Rotten:
96%
Metacritic:
88%
Filmow
(média geral): 3,7
Adoro
Cinema (usuários/adorocinema): 3,1/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.):
6,5
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