16 de abril de 2021

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O Homem que Vendeu sua Pele

 

Analisando-se a premissa do longa, pode-se inferir que se trata de um ponto de partida audacioso concebido a partir de muita engenhosidade. Entretanto, o público em geral certamente se surpreenderá ao receber a informação, ao fim da obra, de que tal estória é baseada nas vidas de Tim Steiner e o artista belga Wim Delvoye, sendo que muitos trechos da película reproduzem exatamente os fatos como ocorreram. Posto isto, o elemento da criatividade adentra o roteiro no que diz respeito a capacidade deste debater temas atuais, como a crise de refugiados e a objetificação do corpo humano.
Dirigido por Kaouther Ben Hania, O Homem que Vendeu sua Pele apresenta características que tão logo saltam aos olhos. A recorrente utilização de espelhos como parte de um requintado design de produção, além de possibilitar que o diretor esbanje sua proficiência técnica ao brincar com a inserção destes nas cenas, se alia a uma fotografia marcada pelo uso de cores neon que evocam uma atmosfera elitista. Nesse sentido, a confecção de ambientes faustosos exerce um persistente contraste com o status social do protagonista, criando uma opressão visual que jamais permite que o espectador se sinta confortável com a situação em tela.
O foco narrativo reside plenamente em Sam, o que impossibilita que subnúcleos e inúteis personagens secundários tenham ênfase, felizmente. Todavia, não é instantaneamente que o assistente se sente engajado pela trajetória de Ali, haja visto que o primeiro ato contempla algumas manobras pouco articuladas e a atuação apática de Yahya Mahayni não colabora para que esse elo seja prontamente estabelecido. Em contraparte, o desdobramento da trama e a irrupção de conflitos ensejam um laço orgânico entre público e personagem que afere essencialmente a habilidade do roteiro em efetuar esse vínculo. Dito isso, a insistência do filme em salientar a presença de Abeer na vida de Sam serve para agregar camadas a este e extrair o máximo de afinidade por parte do espectador.
Outrossim, o script é bastante competente ao encadear seu escopo com a discussão de temáticas socialmente relevantes. O fato de Sam ser um refugiado está sempre presente, fazendo o assistente questionar os motivos que o levaram a atual situação e refletir acerca do sistema político sírio e do hodierno cenário sociocultural enfrentado pelos cidadãos do país. Embora presente, tal pauta poderia ser mais incisiva, considerando que o longa a pretere para se concentrar majoritariamente nas indagações levantadas pela venda do corpo do protagonista. Por sua vez, é uma vertente que propicia intensos debates, tais como a definição de arte, o corpo como instrumento de trabalho, desigualdade entre classes e exploração.
Por outro lado, o texto não dispõe dessa sagacidade em alguns outros aspectos. A forma com que muitos tópicos são inoculados é mal-ajambrada, como se a película simplesmente quisesse simplificar a introdução de seu entrecho para rapidamente chegar ao que importa; não funciona, visto que as informações se atropelam e facilitações narrativas são usadas. Desse modo, a construção e evolução do relacionamento entre Sam e Jeffrey acontece permeada por relapsos diegéticos, sendo que o mesmo pode ser dito sobre a estrutura que compõe o ato final da obra. Porém, nada se compara aos últimos minutos, estes anticlimáticos (inibem totalmente o impacto da cena anterior), frustrantes e forçados. Um bom desfecho é importante para se deixar uma impressão positiva em qualquer experiência fílmica, e nesse quesito, a produção peca lamentavelmente.
Candidato da Tunísia ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, O Homem que Vendeu sua Pele provavelmente não será reconhecido na premiação, mas ainda assim merece atenção como um exemplar curioso de um cinema tão distante do nosso.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 15 de março de 2021
Direção: Kaouther Ben Hania
Elenco: Yahya Mahayni, Dea Liane, Monica Bellucci...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Tunísia

Sinopse (Adoro Cinema):
O Homem que Vendeu sua Pele é a história de Sam Ali (Yahya Mahayni), um jovem e impulsivo sírio que deixou seu país, pelo Líbano, para escapar da guerra. Almejando viajar para a Europa e viver com o amor de sua vida, ele aceita ter suas costas tatuadas por um dos artistas contemporâneos mais cultuados do mundo, transformando seu próprio corpo em uma linda e prestigiosa obra de arte.
 
Avaliação:
IMDb: 7,0
Rotten: 97%
Metacritic: 67%
Filmow (média geral): 3,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7

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