Segundo o historiador estadunidense James Truslow Adams, o "sonho
americano" é a idealização de uma terra em que a vida deve ser melhor,
mais rica e plena com oportunidades iguais para todos, prevalecendo, em decorrência,
a meritocracia. Sendo assim, as terras do Tio Sam costumam atrair anualmente
milhares de imigrantes ludibriados pela falsa promessa de prosperidade, sendo
este, em paralelo, o cenário em que se desenvolve o enredo de Minari.
Como o próprio subtítulo nacional grifa, Minari é sobre a busca da
felicidade por parte de uma família de imigrantes coreanos. Posto isto, o filme
apropria-se de uma série de circunstâncias para contar a estória desejada,
abordando desde a inospitalidade do ambiente até a questionável recepção de
alguns moradores locais. Em linhas gerais, trata-se de um longa que
desmistifica a falaz concepção imagética dos Estados Unidos como a "terra
da oportunidade".
Para tal, o espectador é convidado a acompanhar de perto a vida das
figuras em tela. Nesse sentido, dez minutos de produção já são suficientes para
o diretor imprimir seu estilo de filmagem e narração mesclados a um breve
contexto do que se seguirá. Em outras palavras, é uma forma dinâmica de iniciar
o longa e estabelecer, concomitantemente, um sólido elo entre público e
personagens, fazendo, desse modo, que os sucessivos eventos diegéticos alcancem
o efeito visado.
Outrossim, é muito fácil simpatizar com as personas, o que também
justifica o rápido investimento do assistente na trama. Jacob e Monica representam
os elementos circunspectos do entrecho, David é a personificação do carisma e
Soonja funciona como alívio cômico. Entretanto, aqui há uma ressalva importante
a se fazer. Anne, a irmã mais velha, é uma personagem insípida que não
apresenta evolução alguma ao correr da película. Apesar da presença constante
em tela, o script não canaliza essa participação em prol de um arco
produtivo, fazendo-a destoar dos demais e tornando suas aparições irrisórias.
Ademais, a construção das figuras em cena exala assaz verossimilhança.
As atitudes dos personagens, reações e distintas emoções com base nas
adversidades situacionais agrega muita veracidade ao enredo, salientando, por
conseguinte, o fator da imprevisibilidade do roteiro. Dito isso, Lee Isaac
Chung encara o drama de seus personagens com um olhar sensível, resultando em
dilemas que não possuem respostas e conflitos onde o espectador não pode
simplesmente tomar o lado de uma persona ou outra.
O controle rítmico é outro tópico a se exaltar. Tal equilíbrio tonal se
origina através da estrutura de três atos que evidencia a consistência com que
Chung cadencia a obra, expondo, primordialmente, uma série de aspectos introdutórios
sucedidos por uma crescente dramaticidade narrativa que culmina em um clímax viçoso.
Sinergicamente, as atuações são consentâneas, a trilha dita a intensidade das
sequências e a cinematografia, por sua vez, é límpida, o que corrobora as
nuances panglossianas, mas sem ser demasiadamente lustrosa ao ponto de se
tornar artificial.
Em síntese, Minari é um filme belo, delicado e harmonioso que tem como
grande apogeu a maneira arguta encontrada para discutir e desnudar o
"sonho americano".
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 22 de abril de 2021
Direção: Lee Isaac Chung
Elenco: Steven Yeun, Ye-Ri Han, Alan S. Kim...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse
(Adoro Cinema):
Minari se passa nos anos
80. David (Alan S. Kim), um menino coreano-americano de sete anos de idade, se
depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob
(Steven Yeun), muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas.
Entediado com a nova rotina, David só começa a se adaptar com a chegada de sua
vó. Enquanto isso, Jacob, decidido a criar uma fazenda em solo inexplorado,
arrisca suas finanças, seu casamento e a estabilidade da família.
Avaliação:
IMDb: 7,6
Rotten: 98%
Metacritic: 89%
Filmow (média geral):
4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
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