23 de abril de 2021

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Quo Vadis, Aida?


Chamar Quo Vadis, Aida? de um filme de guerra seria um exagero descomunal. Ao se apropriar de um recorte histórico conhecido como o maior genocídio pós-guerra em solo europeu, o longa tece um acutilante retrato da barbárie humana.
Em primeira análise, a direção de Jasmila Žbanić é marcada pela angústia com que o enredo se desenrola. A premência situacional é estabelecida de modo lesto, ao passo que o conhecimento histórico do público sobre a estória contada é manipulado para concepção de uma atmosfera que premedita a hecatombe. A vigência dessa apreensão é responsável por manter o espectador sempre tenso se martirizando com as possibilidades do que poderá vir a acontecer, ruminando não com a resolução dos eventos, mas em como eles chegarão ao ponto em que devem chegar. Nesse sentido, a adição de semblantes fictícios permite que o roteiro trabalhe com elementos de imprevisibilidade narrativa, fazendo com que o assistente possa se envolver com as figuras em tela em detrimento de uma abordagem totalmente documental.
Dito isso, a relação entre Aida e o público cresce organicamente de acordo com o desenvolvimento do texto. O senso de empatia é gerado a partir da gradação do entrecho, ao passo que a escala macro se afunila em um intimista drama familiar que visa representar a aflição de todas as pessoas que tiveram seus entes queridos friamente assassinados. Ainda pertinente à Aida, a película dedica alguns minutos para destrinchar sua idiossincrasia, o que se manifesta, além da performance estrondosa de Jasna Đuričić, através de uma sequência onírica na qual o filme executa uma bem-vinda quebra tonal. Em outras palavras, tal trecho fortifica o elo entre espectador e protagonista e atribui profundidade à persona em destaque, além de atenuar momentaneamente a densidade temática incumbida pelo script.
Concernente aos demais personagens, é imprescindível realçar o comandante sérvio e o coronel e o major dos capacetes azuis. Começando por estes, o longa consegue imprimir autenticidade às suas ações, colocando-os em uma posição de impotência frente à uma situação desesperadora que, por sua vez, denuncia a omissão da ONU e de países vizinhos com as atrocidades acometidas em solo bósnio; o assistente sente o fardo sobre o ombro desses homens, o que é acentuado pela ótima performance dos intérpretes. No que diz respeito ao general do exército inimigo, sua confecção é unilateral, o que não é um demérito do roteiro, visto que a película é baseada em fatos e a realidade pode ser muito mais simples e hedionda do que a ficção.
Ademais, Jasmila Žbanić assina sua obra com traços detalhistas que evocam uma agonia sem jamais recorrer a aspectos verborreicos visuais. Pelo contrário, a diretora aposta em uma perspectiva mais sugestiva, deixando o público especular com a insinuação de ideias e se molestar com o potencial imaginativo de sua própria mente. Posto isto, os segmentos dialógicos corroboram a tensão vigente, ao passo que o silêncio é articulado visando retratar o abalo emocional das personagens e a amarga absorção das circunstâncias por parte destas. Vale ressaltar, no mais, a trilha como um catalisador da melancolia diegética que, aliada ao incremento de blocos em slow motion, salienta o tom soturno apregoado pelo texto.
Em síntese, Quo Vadis, Aida? é um filme devastador, pungente e revoltante que, acima de tudo, faz uma incisiva crítica a um dos maiores massacres em massa da contemporaneidade.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 20 de abril de 2021
Direção: Jasmila Zbanic
Elenco: Jasna Djuricic, Izudin Bajrovic, Boris Isaković...
Gênero: Drama
Nacionalidade: Bósnia-Herzegovina

Sinopse (Adoro Cinema):
Quo Vadis, Aida? é a história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Elá está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. 

Avaliação:
IMDb: 7,8
Rotten: 100%
Metacritic: 97%
Filmow (média geral): 4,1
Adoro Cinema (adorocinema): 4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 10

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