Embora 2020 tenha sido um ano atípico para o cinema, é incrível como tantas obras boas foram lançadas. Meu Pai, Minari, O Som do Silêncio, QuoVadis, Aida?... a lista não é pequena, e Better Days é mais um que passa a fazer parte do grupo.

Dirigido por Derek Tsang, o filme é um grande estudo sociocultural da China contemporânea. Dito isso, o enredo se desenvolve a partir do suicídio de uma jovem estudante, desencadeando uma série de eventos que colocam Nian como alvo de troça por parte de um grupinho de meninas. Seguindo essa premissa, o longa tece uma importante análise do ambiente escolar que traz à tona discussões acerca do bullying e dos fatores que regem os relacionamentos interpessoais na adolescência. É uma abordagem incisiva, carregada de momentos duros e que não se omite ao apontar o dedo na cara do público e denunciá-lo como elemento conivente dessa problemática.

Outrossim, o palco que sustenta o desenrolar da narrativa expõe uma China dominada por um sistema opressor que se alicerça em valores e conceitos megalomaníacos, onde a pressão em ser o melhor abarca todas as nuances da vida das pessoas. Tal empreitada se manifesta através da concepção cenográfica e do design de produção, este marcado pelo uso de enormes bandeiras vermelhas com frases inspiradoras que preenchem todo o campo de visão do espectador, e carteiras atoladas de livros que delatam uma exaustiva rotina de estudo. Por sua vez, o roteiro ainda reserva espaço para pautas pertinentes à disputa entre classes, sendo este o centro do arco pessoal de Xiao Bei.  

Nesse sentido, a construção dos personagens tem como maior mérito o estabelecimento de laço entre eles e o assistente. Para tal, a câmera se mantém bem próxima aos seus astros, capturando as mínimas expressões dos atores e criando uma atmosfera de intimidade entre o espectador e as figuras em cena. No entanto, apesar da acometida ser um tanto quanto manipulativa em determinados segmentos e ter a trilha como aliada da respectiva abordagem, é muito fácil torcer e simpatizar com os protagonistas, sofrer com as dificuldades que eles enfrentam e comemorar suas pequenas vitórias.

Posto isto, a composição idiossincrática dos personagens é antagônica, servindo como base para o desenvolvimento conjunto de ambos em sincronia com a crescente dramática do texto. É um relacionamento que progride de forma orgânica, respaldado pela capacidade do script em transmitir emoções e dialogar com os sentimentos do público. Desse modo, muitos trechos são engendrados visando realçar a paixão entre o casal; são sequências genéricas, mas difíceis de desgostar, considerando que após tanto martírio os personagens merecem um pouco de divertimento.

Atinente aos aspectos técnicos, a maquiagem, além da cenografia e do design de produção já mencionados, se destaca como um dos âmbitos mais primorosos da película. Entretanto, a inserção de flashbacks é mal-ajambrada, assim como a estratégia escolhida para difundir informações que é confusa e deixa muitas coisas narrativamente não esclarecidas. Ademais, a performance do elenco merece nota. Dongyu Zhou está ótima como Nian, uma menina tímida, meiga e inócua que é obrigada a lidar com os espinhos da vida. Concernente ao Jackson Yee (intérprete de Xiao), ele faz um jovem endurecido por uma infância e adolescência cruéis; ele é sagaz, audacioso, sarcástico e faz o que pode para aproveitar o máximo com o que tem. Por último e não menos importante, Fang Yin incorpora com consentaneidade um policial inteligente, justo e perspicaz; é um papel relevante que possui sua parcela de influência na evolução da trama.

Em linhas gerais, Better Days entrelaça todos os seus temas em uma enorme esfera de debate que auxilia o espectador a ter uma perspectiva mais abrangente sobre o atual cenário sociopolítico do país. Não é um filme irretocável, mas felizmente suas qualidades sobressaem às imperfeições.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (China): 25 de outubro de 2019

Direção: Derek Tsang

Elenco: Jackson Yee, Jue Huang, Xinyi Zhang...

Gênero: Drama

Nacionalidade: China

Sinopse:

Após sua amiga de classe se suicidar, Nian se torna o novo alvo de um grupo de meninas na escola, até que seu caminho se cruza com Xiao, que passa a protegê-la das valentonas do colégio.

Avaliação:

IMDb: 7,5

Rotten: 96%

Metacritic: 83%

Filmow (média geral): 3,9

Adoro Cinema (usuários): 3,3

Kontaminantes (Matheus J. S.): 8

Better Days

Embora 2020 tenha sido um ano atípico para o cinema, é incrível como tantas obras boas foram lançadas. Meu Pai, Minari, O Som do Silêncio, QuoVadis, Aida?... a lista não é pequena, e Better Days é mais um que passa a fazer parte do grupo.

Dirigido por Derek Tsang, o filme é um grande estudo sociocultural da China contemporânea. Dito isso, o enredo se desenvolve a partir do suicídio de uma jovem estudante, desencadeando uma série de eventos que colocam Nian como alvo de troça por parte de um grupinho de meninas. Seguindo essa premissa, o longa tece uma importante análise do ambiente escolar que traz à tona discussões acerca do bullying e dos fatores que regem os relacionamentos interpessoais na adolescência. É uma abordagem incisiva, carregada de momentos duros e que não se omite ao apontar o dedo na cara do público e denunciá-lo como elemento conivente dessa problemática.

Outrossim, o palco que sustenta o desenrolar da narrativa expõe uma China dominada por um sistema opressor que se alicerça em valores e conceitos megalomaníacos, onde a pressão em ser o melhor abarca todas as nuances da vida das pessoas. Tal empreitada se manifesta através da concepção cenográfica e do design de produção, este marcado pelo uso de enormes bandeiras vermelhas com frases inspiradoras que preenchem todo o campo de visão do espectador, e carteiras atoladas de livros que delatam uma exaustiva rotina de estudo. Por sua vez, o roteiro ainda reserva espaço para pautas pertinentes à disputa entre classes, sendo este o centro do arco pessoal de Xiao Bei.  

Nesse sentido, a construção dos personagens tem como maior mérito o estabelecimento de laço entre eles e o assistente. Para tal, a câmera se mantém bem próxima aos seus astros, capturando as mínimas expressões dos atores e criando uma atmosfera de intimidade entre o espectador e as figuras em cena. No entanto, apesar da acometida ser um tanto quanto manipulativa em determinados segmentos e ter a trilha como aliada da respectiva abordagem, é muito fácil torcer e simpatizar com os protagonistas, sofrer com as dificuldades que eles enfrentam e comemorar suas pequenas vitórias.

Posto isto, a composição idiossincrática dos personagens é antagônica, servindo como base para o desenvolvimento conjunto de ambos em sincronia com a crescente dramática do texto. É um relacionamento que progride de forma orgânica, respaldado pela capacidade do script em transmitir emoções e dialogar com os sentimentos do público. Desse modo, muitos trechos são engendrados visando realçar a paixão entre o casal; são sequências genéricas, mas difíceis de desgostar, considerando que após tanto martírio os personagens merecem um pouco de divertimento.

Atinente aos aspectos técnicos, a maquiagem, além da cenografia e do design de produção já mencionados, se destaca como um dos âmbitos mais primorosos da película. Entretanto, a inserção de flashbacks é mal-ajambrada, assim como a estratégia escolhida para difundir informações que é confusa e deixa muitas coisas narrativamente não esclarecidas. Ademais, a performance do elenco merece nota. Dongyu Zhou está ótima como Nian, uma menina tímida, meiga e inócua que é obrigada a lidar com os espinhos da vida. Concernente ao Jackson Yee (intérprete de Xiao), ele faz um jovem endurecido por uma infância e adolescência cruéis; ele é sagaz, audacioso, sarcástico e faz o que pode para aproveitar o máximo com o que tem. Por último e não menos importante, Fang Yin incorpora com consentaneidade um policial inteligente, justo e perspicaz; é um papel relevante que possui sua parcela de influência na evolução da trama.

Em linhas gerais, Better Days entrelaça todos os seus temas em uma enorme esfera de debate que auxilia o espectador a ter uma perspectiva mais abrangente sobre o atual cenário sociopolítico do país. Não é um filme irretocável, mas felizmente suas qualidades sobressaem às imperfeições.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (China): 25 de outubro de 2019

Direção: Derek Tsang

Elenco: Jackson Yee, Jue Huang, Xinyi Zhang...

Gênero: Drama

Nacionalidade: China

Sinopse:

Após sua amiga de classe se suicidar, Nian se torna o novo alvo de um grupo de meninas na escola, até que seu caminho se cruza com Xiao, que passa a protegê-la das valentonas do colégio.

Avaliação:

IMDb: 7,5

Rotten: 96%

Metacritic: 83%

Filmow (média geral): 3,9

Adoro Cinema (usuários): 3,3

Kontaminantes (Matheus J. S.): 8