11 de abril de 2021

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Wolfwalkers


Soul é indiscutivelmente a animação com maior hype da temporada. Entretanto, longe dos luxuosos holofotes da Pixar existe um outro filme animado que também merece atenção: Wolfwalkers.
A priori, o longa logo de cara se realça pela forma singular com que Tomm Moore e Ross Stewart o conduzem. Ambos constantemente brincam com o formato de tela, diminuindo-a, mostrando cenas distintas simultaneamente e apresentando o feudo que compõe o cenário da trama sob uma extensa amplitude panorâmica. O jogo de luz e sombra igualmente se destaca criando enquadramentos simbólicos que dizem muito acerca do âmago das figuras em tela. São, sobretudo, fatores que atribuem uma assinatura à obra, além de fugirem de padrões clássicos do gênero.
O ritmo tonal da película também atesta a proficiência da direção. O primeiro ato é bastante hábil ao expor, de forma ágil e inteligível, a riqueza de detalhes que compõem a mitologia do enredo, ao passo que apresenta os personagens centrais e os parâmetros que irão ditar os principais conflitos subsequentes. Outrossim, Tomm e Ross são certeiros na concepção de momentos épicos que remetem a renomadas produções audiovisuais em live-action, e no equilíbrio de pontuais curvas dramáticas que não destoam do tom panglossiano que fundamenta o entrecho.
Por sua vez, os traços do filme são característicos de desenhos feitos à mão, o que contrasta com a estética popular das animações de grandes estúdios. Dito isso, a identidade visual deste é projetada através da confecção de cenários tomados por uma aura onírica corroborando a ambientação bucólica do século XVII. Nesse sentido, o longa tem uma roupagem medieval que se manifesta no estilo de vida dos personagens e faz alusão a séries de época, tal como Game of Thrones. Ademais, o elemento fantasioso não deve ser esquecido, haja visto que os aspectos imagéticos sofrem influência da atmosfera fantástica que, por conseguinte, engendram sequências belíssimas.
Acima de tudo, Wolfwalkers é uma ode à cultura irlandesa, tendo como pano de fundo importantes debates sobre a posição social feminina e a estrutura da comunidade feudal. O folclore irlandês serve de alegoria à temas mais encorpados, podendo-se traçar paralelos à famigerada caça às bruxas da Idade Moderna e as diversas perseguições lideradas pela Igreja Católica.
Posto isto, cada personagem exerce um papel significativo para ilustrar um dos períodos mais sombrios da história da humanidade: a plebe simboliza o medo irracional de um povo oprimido pelo clero; os lobos são a personificação do desconhecido; o vilão incorpora a tirania e o fanatismo religioso; Mebh corresponde às "bruxas" (não à toa seu cabelo é ruivo, considerando que esta classe foi majoritariamente caçada durante a Inquisição) e Robyn representa as milhares de mulheres que cresceram submetidas à uma vida de servidão e afazeres domésticos. Como adendo, o fogo é utilizado como arma pelos antagonistas em referência às fogueiras usadas para queimar os condenados por bruxaria na época.
Por fim, Wolfwalkers desperdiça a oportunidade de arquitetar manobras arrojadas em momentos cruciais da trama, optando, em contraparte, por alternativas mais passivas que irão agradar o público de modo geral. Todavia, sua estória enternecedora repleta de significâncias e um fecho otimista fazem desta uma obra relevante que certamente não deve ser perdida.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 11 de dezembro de 2020
Direção: Tomm Moore e Ross Stewart
Elenco: Sean Bean, Simon McBurney, Maria Doyle Kennedy…
Gênero: Animação
Nacionalidade: Reino Unido, Irlanda e França

Sinopse (Adoro Cinema):
Em uma época de superstição e magia, quando os lobos são vistos como demoníacos e a natureza um mal a ser domado, Robyn, uma jovem caçadora aprendiz, vai para a Irlanda com seu pai na tentativa de eliminar um último bando. Quando a jovem salva uma garota nativa selvagem, sua amizade a leva a descobrir o mundo dos Wolfwalkers, transformando-a na mesma coisa que seu pai tem a tarefa de destruir.
 
Avaliação:
IMDb: 8,1
Rotten: 99%
Metacritic: 87%
Filmow (média geral): 4,3
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9


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