Filmes de terror se
proliferam aos montes na indústria cinematográfica. Felizmente, todos os anos o
espectador é presenteado com produções que fogem dos padrões do gênero, como
aconteceu com Saint Maud recentemente. Dito isso, é gratificante poder
dizer que outro longa se junta ao grupo, ou seja, A Casa Sombria.
De início, pode-se
dizer que a película se apropria de elementos comuns da safra integrante para
engendrar uma estória consciente de si. Nesse sentido, a obra possui diversos
momentos que poderiam facilmente pender para abordagens genéricas, entretanto,
a narrativa se contém e subverte as expectativas do público. Essa acometida possibilita
que quando o audiovisual finalmente utilize recursos típicos de produções
similares, eles exerçam efeito por conta da concisão de seu uso e o timing
perfeito. Logo, A Casa Sombria é um filme que recorre a métodos normativos para
pautar temas como luto, perda e assuntos inacabados.
Posto isto, é de
suma importância o desenvolvimento da protagonista. Em face disso, desde o
princípio o roteiro inocula sutis elementos que causam incômodo à personagem e
deixam o assistente questionando se são ou não reais. A partir desse aspecto o
longa adota uma amálgama de gêneros para lidar com os conflitos de Beth, tanto
no que concerne ao drama de ter que enfrentar o suicídio do marido, quanto o
terror de viver uma vida assombrada pelo passado e o suspense que permeia as
incógnitas referentes ao falecido esposo. Dessa maneira, o enredo confere a ela
um misto de sentimentos sem jamais soar expositivo, ou seja, este permite que
suas emoções fluam naturalmente como resposta ao recente episódio traumático.
Sobretudo, A Casa
Sombria não funcionaria sem uma atuação competente de sua atriz central. Em
outras palavras, Rebecca Hall transmite com autenticidade a instabilidade
mental e emocional de sua persona, assim como as oscilações de humor que
enfatizam a personalidade desestabilizada; ela finge estar bem, expressa surpresa
com as revelações com que se depara e consegue ser ameaçadora quando quer ser,
todas nuances de um envoltório que recobre uma paranoia crescente. Por sua vez,
os coadjuvantes, também interpretados de forma consentânea, são ajambrados ao
texto de modo pertinente, seja para acrescentar informações cruciais ao
progresso da trama ou para servir como suporte à protagonista.
Outrossim, a trilha
funciona como ferramenta de construção atmosférica para elevar o tom das cenas,
sendo que o destaque fica com “Calvary Cross”, de Richard Thompson, que
possui uma conotação ambígua e casa perfeitamente com o script. Vale
ressaltar que a fotografia da película, ainda que majoritariamente límpida, dedica
espaço a um vermelho-sangue sinistro que corrobora a ambientação vigente. Ademais,
o fato de o antagonista não se materializar ao longo do entrecho o torna mais
intimidante e subjetivo, pois um mal que não se enxerga pode estar em qualquer
lugar a qualquer momento, ou sequer existir.
Por fim, os
problemas da obra se encontram todos durante os últimos minutos. Tendo em vista
que muito do charme da urdidura se concentra no estímulo propiciado em função dos
mistérios acerca da figura do marido de Beth, o desfecho peca ao ser mais
expositivo que o necessário. Todavia, enquanto algumas questões são respondidas,
outras se mantém ocultas, o que somente reforça a teoria de que nada deveria
ter sido mastigado ao público, considerando que o filme termina com a sensação de
que ele tentou agradar todo mundo e não abraçou nenhuma de suas abordagens
integralmente. Convém salientar que o corte final também é demasiado abrupto, ou
seja, ocorre sem a preparação adequada do terreno.
Em linhas gerais, A
Casa Sombria não é revolucionário, mas funciona dentro do que se propõe.
Matheus J. S.
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Ficha Técnica:
Data de
lançamento (Brasil): 23 de setembro de 2021
Direção: David
Bruckner
Elenco: Rebecca
Hall, Sarah Goldberg, Vondie Curtis-Hall…
Gênero: Terror
Nacionalidade:
EUA
Sinopse (Filmow):
Lutando por conta da morte inesperada de seu marido, Beth (Rebecca
Hall) vive sozinha em sua casa à beira do lago. Ela tenta o melhor que pode
para se manter bem, mas possui dificuldades por conta de seus sonhos: visões
perturbadoras de uma presença na casa a chama, acenando com um fascínio
fantasmagórico.
Avaliação:
IMDb: 6,5
Rotten: 87%
Metacritic: 68%
Filmow (média geral): 3,4
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,1/3,5
Kontaminantes (Matheus
J. S.): 8
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