Dentre os títulos que mais se repetiram nas listas menos populares de
favoritos do ano, Shiva Baby pode ser encontrado junto com eles. Embora o filme
não esteja sendo prestigiado pelas premiações cinematográficas de início de
ano, a obra foi abraçada pela seara cinéfila. Contudo, resta saber se essa
ampla aceitação se justifica.
Em primeira análise, o longa é proficiente ao estabelecer a relação
entre o espectador e a protagonista. Mesmo sabendo pouco a seu respeito, o público
se sente conectado desde o princípio com ela em função do sentimento de deslocação
apresentado, ou seja, o espectador assimila facilmente essa característica por
ser algo que todos já experimentaram ao menos uma vez na vida. Instituído tal
elo, a película consegue construir de forma palpável o desconforto vivenciado
pela personagem ao longo da trama; a trilha se acentua, os sons do ambiente se
misturam em uma cacofonia retumbante e a câmera se aproxima dos semblantes em
tela com movimentos lestos e propositadamente confusos.
O fato de o enredo se passar dentro de uma casa possibilita que as angústias
de Danielle se manifestem cenograficamente. Em outras palavras, a concepção de
um palco narrativo claustrofóbico serve como pano de fundo para a apresentação
de personagens que agem como comensais e criam, em decorrência, uma atmosfera
enervante. Nesse sentido, as incessantes abordagens dos coadjuvantes
questionando sobre trabalho, faculdade e orientação sexual preenchem a vida de
uma jovem que deseja apenas viver, pois Shiva Baby é, sobretudo, a estória de
uma menina sufocada pelas amarras sociais de um sistema que a consome
gradualmente. Logo, a performance de Rachel Sennott é essencial para a confecção
de uma persona inquieta e incomodada que busca libertação acima de tudo.
Outrossim, vale dizer que o entrecho se desenvolve durante um velório, o
que propicia ao roteiro a oportunidade de brincar com distintas acometidas
tonais. Dessa maneira, a produção utiliza situações concisas para engendrar
cenas que são cômicas e apreensivas ao mesmo tempo, revestindo a urdidura com
uma camada de humor que não a permite se tornar demasiado densa e enseja um
desfecho incerto para o filme. Tais sequências são majoritariamente constituídas
por diálogos muito bem escritos que, salvo uma ou outra fala mais expositiva,
fornecem ao script a organicidade requerida. Ademais, convém salientar
que, devido ao longa se desenrolar sob a perspectiva de Danielle, os rostos
adjacentes são tratados de modo superficial.
No mais, Shiva Baby não é a obra mais intrépida ou eficiente de 2021,
mas cumpre com suficiente competência o que se propõe a explorar.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 11 de junho de
2021
Direção: Emma Seligman
Elenco: Rachel Sennott, Molly Gordon, Dianna
Agron…
Gênero: Comédia
Nacionalidade: EUA
Sinopse
(Filmow):
Atendendo a um velório
judeu, Danielle (Rachel Sennott) precisa lidar com sua ex-namorada, a pressão
de seus pais e o aparecimento inesperado de seu sugar daddy.
Avaliação:
IMDb: 7,2
Rotten: 96%
Metacritic: 79%
Filmow (média geral):
3,8
Adoro Cinema
(usuários): 2,8
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8,5
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