Conhecer o cinema de outras partes do mundo é uma das formas mais
eficientes de expandir o acervo cinematográfico. Posto isto, mesmo que Souad não
seja um exemplo de qualidade, é um exercício interessante assistir uma obra
vinda do Egito.
Primariamente, Ayten Amin se apropria de uma estética crua para contar
sua estória. Em outras palavras, a diretora usa uma câmera manual bastante
movimentada, geralmente mantendo-se próximo dos personagens e apostando na
construção dialógica em espaços simples para o desenrolar dos eventos. Tal
estratégia tem como intuito estreitar a relação entre os interlocutores e
atribuir um tom documental ao filme, o que salienta a genuinidade das ações em
tela e reitera o impacto das mais cenas mais fortes.
Nesse sentido, os primeiros quarenta minutos são responsáveis por
apregoar um ritmo hodierno que visa inocular o público à rotina de Souad e
familiarizá-lo com as peças que a constituem. (SPOILERS
A SEGUIR) Desse modo, quando a morte de Souad efetivamente acontece, o
assistente é pego de surpresa e sente o impacto de sua despedida, visto que já havia
se estabelecido um laço com a protagonista. (FIM DOS
SPOILERS) Dito isso, o longa realiza com proficiência a transmissão de
informações sem se deixar levar por facilitações narrativas, preterindo a
exposição de dados ao espectador em prol da insinuação e o estudo
comportamental de seus principais semblantes.
Em face do exposto, ainda que a película administre o campo cogitativo na
maior parte do tempo com eficiência, ela se esquece de fornecer embasamento
para as situações perpetradas ao longo do entrecho. (SPOILERS
A SEGUIR) Citando novamente o suicídio de Souad, o roteiro pincela
pistas sobre os eventuais motivos que podem tê-la levado a tirar a própria
vida, contudo, tais indícios se concentram somente sob a perspectiva da
falecida. Em outras palavras, a segunda metade da produção carece de um rumo
narrativo ao focar em personagens que não foram previamente trabalhados e, consequentemente,
se alicerçam em conceitos demasiadamente abstratos. Dessa maneira, mesmo que a
relação entre as irmãs consiga difundir o afeto ali existente, por exemplo, o
impacto da perda de Souad na vida de Rabab é atenuado em função da ausência de estofo
concernente ao desenvolvimento da persona até então. (FIM
DOS SPOILERS)
Outrossim, a trama é recheada de rostos que entram e saem ao léu, sendo
que muitas vezes o público não sabe nem mesmo quem são ou qual a relevância
deles dentro da estória. Essa nequice aliada aos outros problemas destacados
enseja como resultado uma obra inconsistente que falha ao tentar atrair os
holofotes do cenário audiovisual para a indústria cinematográfica do Egito; é uma experiência curiosa, mas pouco produtiva.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de lançamento (mundial): 2020
Direção: Ayten Amin
Elenco: Bassant Ahmed, Bassant Ahmed, Hussein
Ghanem…
Gênero: Drama
Nacionalidade: Egito
Sinopse
(TMDB):
Souad tem 19 anos, vive com sua família conservadora na cidade de
Zagazig e com sua irmãzinha Rabab.
Avaliação:
IMDb: 6,5
Rotten: 88%
Filmow (média geral):
3,1
Kontaminantes (Matheus J. S.): 5
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