Nos últimos anos, movimentos de representatividade
têm se manifestado com frequência cada vez maior. A despeito da imane
importância social que tais manobras possuem, a indústria cinematográfica
encontrou nesse debate uma fonte prolífica de boas estórias a serem contadas.
Felizmente esse é o caso de CODA, aposta da Apple TV+ para a temporada de
premiações que se iniciam em janeiro.
Primariamente, convém realçar que muito da eficiência
do filme provém da capacidade que seus personagens têm de cativar o público. Apresentados
desde o princípio com muito carisma, os membros que compõem o núcleo familiar
de Ruby possuem excentricidades que são usadas em prol do texto para o
espectador criar simpatia por eles. É um relacionamento que evolui
organicamente com o passar do longa e corrobora o grau de imersão nos conflitos
de cada um, o que gera impasses ao assistente sobre qual lado se posicionar
durante os momentos de confronto, haja visto que todas as perspectivas foram
maturadas junto ao público e são válidas.
Nesse sentido, a dinâmica que rege o convívio entre
os indivíduos consanguíneos é palpável. Apesar dos atritos que esporadicamente
irrompem entre eles, o script reitera frequentemente o amor que há ali e a
importância de cada familiar na vida um do outro. Convém ressaltar que os
coadjuvantes são inseridos para expandir o arco dos semblantes supracitados e
complementar o que foi previamente estabelecido. Dito isso, a performance do
elenco se manifesta como responsável pelo impacto emocional das sequências mais
intensas da película, com destaque para Emilia Jones como Ruby, que interpreta
uma garota tímida e retraída, mas que sabe impor sua voz quando necessário.
Concernente ao roteiro, os rumos que o filme toma são
clichês, porém condizentes com a proposta da trama e, sobretudo, pertinentes às
decisões que a protagonista faz. Entretanto, um dos pilares da narrativa, que é
a paixão da personagem pela música, surge fortuitamente na vida da jovem e se
afirma como grande objetivo de sua jornada, todavia sem tempo suficiente e
desenvolvimento adequado para o espectador comprar a ideia. Outra incongruência
do texto diz respeito à necessidade constantemente frisada que a família tem de
um intérprete, no entanto o enredo é finalizado antes que esse arco seja concluído.
Acima de tudo, CODA é uma estória sobre inclusão.
Dessa forma, o entrecho é bastante hábil ao suscitar questões relacionadas à pauta
vigente apenas com a exposição de situações cotidianas que representam
empecilhos para essas pessoas, tanto no trabalho quanto em ambientes de lazer,
por exemplo. Trata-se de uma abordagem sensível que opta por mostrar em vez de
falar, trazendo à tona debates importantes que permeiam a carência de recursos
para a inclusão de cidadãos surdos dentro da sociedade. Vale salientar que
algumas das cenas mais cômicas estão relacionadas a equívocos utilizando a
linguagem de sinais, o que revela uma crítica velada do roteiro à falta de
preparo que a maioria das pessoas tem para lidar com a comunidade surda.
Portanto, CODA é uma produção leve, tocante e
bem-humorada que compreende os dilemas de seus personagens e discute com
sagacidade a participação social ativa de grupos segregados.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (EUA): 13 de agosto de 2021
Direção: Siân
Heder
Elenco: Emilia
Jones, Marlee Matlin, Eugenio Derbez...
Gênero: Drama
Nacionalidade:
EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
No Ritmo do Coração conta a história de uma família com deficiência
auditiva que comanda um negócio de pesca em Gloucester, nos Estados Unidos.
Avaliação:
IMDb: 8,1
Rotten: 96%
Metacritic: 75%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários): 3,5
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 8
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