29 de dezembro de 2021

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O Último Duelo

Pôster

A imagem da mulher sempre esteve subjugada ao homem ao correr da História. Ainda que hoje diversos movimentos tenham ganhado força em prol dos direitos femininos, é patente que inúmeras mulheres permanecem oprimidas por algum tipo de figura masculina, seja física e/ou psicologicamente. Em face disso, Ridley Scott se apropria de eventos reais ocorridos na França centenas de anos atrás para traçar paralelo com a contemporaneidade e engendrar lancinantes críticas socioculturais.
Em primeira análise, convém mencionar que as circunstâncias retratadas abrangem uma escala de vários anos. Essa organização narrativa caracteriza uma montagem dinâmica que não perde tempo com frivolidades e se dirige sempre aos pontos que culminarão no principal confronto da película. Pode-se dizer, portanto, que a trama clama pela estrutura escolhida, visto que as distintas perspectivas abordadas e as consecutivas situações responsáveis por desencadear o conflito final comportam um espaço bastante grande no enredo.
Nesse sentido, os diferentes pontos de vista explorados, apesar dos intervalos temporais, permitem que a personalidade dos personagens seja traçada a partir das semelhanças entre as versões contadas. O público também tem a oportunidade de melhor se contextualizar com os jogos políticos e os interesses que regem ambas as partes do duelo, podendo, por conseguinte, tirar suas próprias conclusões acerca das motivações de cada um dos semblantes envolvidos. Esse método de contar a estória expande o escopo de participantes e subnúcleos do entrecho, o que é essencial para o espectador compreender como o desenrolar dos acontecimentos afeta pessoas de divergentes círculos no longa.
Posto isto, o filme utiliza as reações da população sobre a acusação de estupro para alfinetar os valores da época, visto que, mesmo no lugar de vítima, a mulher era desacreditada e considerada culpada. As similaridades com os incontáveis casos assistidos diariamente na televisão não são por acaso, pois o roteiro se respalda nessa vertente para dialogar com a realidade e propor reflexões que englobam a autonomia e o papel da mulher em sociedade, objetificação do corpo feminino e patriarcalismo. É pertinente observar como o terceiro bloco (sob a percepção de Marguerite) apregoa hábitos do período que denunciam a impotência de moças e senhoras perante o homem, tais como a falta de independência na escolha da própria roupa e a completa submissão entre quatro paredes. Vale ressaltar, sobretudo, que as cenas de teor sexual são extremamente repulsivas e transmitem com genuinidade a angústia de Marguerite.
A reconstrução da Idade Média é, por sua vez, assaz convincente. O figurino realça os trajes opulentos vestidos pelos nobres do período, enquanto as infindáveis camadas de couro e ferro atribuem verossimilhança às armaduras usadas no campo de batalha. Não obstante, a maquiagem se encarrega de conferir aos soldados as cicatrizes que eles acumularam ao longo dos anos, ao passo que a sonoplastia enseja uma experiência sensorialmente imersiva ao imprimir o tilintar de aço contra aço durante a contenda e causar arrepios com os sons de guerreiros sendo mortos brutalmente. Dito isso, as sequências beligerantes, apesar da câmera trêmula em certos momentos, são violentas e conseguem evocar a selvageria e o caos da guerra.
Atinente às atuações, Jodie Comer faz uma lady a princípio tímida, mas que demonstra ser doce e gentil, além de tenaz para defender o seu posicionamento. Cabe salientar que é um trabalho de muita entrega e coragem, pois encenar as situações humilhantes pelas quais a sua persona repetidamente passa não é fácil. No que lhe concerne, Matt Damon vive um escudeiro bronco e impetuoso que tem a maquiagem (já mencionada) como auxílio para a caracterização de seu caráter obtuso. Ademais, Alex Lawther, embora com pouco tempo de tela, incorpora com proficiência um monarca sádico e perverso. Em contrapartida, Adam Driver, ainda que interprete um dos protagonistas da obra, apresenta uma performance engessada que pouco convence como um indivíduo mulherengo.
No mais, O Último Duelo, mesmo que não extraia a melhor performance de um de seus atores, possui um discurso relevante sobre a função da mulher na História que se entrelaça às pautas feministas dos dias atuais.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 14 de outubro de 2021
Direção: Ridley Scott
Elenco: Jodie Comer, Matt Damon, Adam Driver...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Filmow):
Em plena Idade Média francesa, sob pena de ser condenada à fogueira por injúria e falso testemunho, Marguerite de Carrouges (Jodie Comer) acusa Jacques LeGris (Adam Driver), o melhor amigo de Jean de Carrouges (Matt Damon), seu marido, de estuprá-la.

Avaliação:
IMDb: 7,5
Rotten: 85%
Metacritic: 67%
Filmow (média geral): 3,9
Adoro Cinema (usuários/adorocinema): 3,8/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 9
Avaliação


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