Filmes com o selo "baseado em fatos" se proliferam aos montes
na indústria cinematográfica. Responsáveis pelo retrato de grandes histórias de
superação, tais obras geralmente são marcadas por tramas com forte apelo
emocional que tendem a agradar espectadores descompromissados, mas não
apresentam um enredo consistente. Infelizmente esse é o caso de King Richard,
longa estrelado por Will Smith que chega com a intenção de angariar uma indicação
ao Oscar na categoria de Melhor Ator.
Em primeiro lugar, independente se os acontecimentos em tela são cem por
cento autênticos ou não, a película tem o dever de fazer o público comprar a
ideia que está sendo proposta. Tendo em vista que a produção opta por uma
abordagem mais "pé no chão" ao tecer o seu relato, o entrecho não
consegue convencer os assistentes de que as decisões tomadas pelos personagens
são reais dentro da trama. Isso ocorre devido à construção de situações que não
se sustentam narrativamente, seja por conta da falta de argúcia na concepção cênica,
como pela ausência de espirituosidade na performance de Saniyya Sidney, que
protagoniza essas sequências.
Destarte, a atriz supracitada é completamente insípida e esboça reações
artificiais quando o texto exige demonstrações de emoção por parte dela, o que
afeta, sobretudo, a torcida do espectador pelo sucesso da garota. Ainda que o
filme não consiga imprimir sentimento durante os momentos teoricamente mais
dramáticos - como ao longo da partida final -, a jovem intérprete também
fracassa ao receber a atenção dos holofotes negligenciados pela direção fria de
Reinaldo Marcus Green, que termina apostando no uso de uma trilha genérica para
extrair energia de onde sua capacidade de condução não obtém êxito. Vale
ressaltar que o roteiro pouco colabora para a evolução do longa, visto que o
seu tom manipulativo dificulta a criação de uma experiência genuína.
Outrossim, o script comete outros deslizes que devem ser citados.
O fato de o Richard ser negro é lembrado a todo instante por meio de diálogos
rasos na tentativa de enaltecer os seus feitos, e a falta de naturalidade com
que o tema surge corrobora a ineficácia do debate. Por sua vez, o plot do
menino que assedia uma das filhas do protagonista é desnecessário, ocupa um
tempo demasiado longo e tem um desfecho assaz conveniente para o desenrolar do
enredo. Em contraparte, apesar de somente o Richard ter o seu arco
desenvolvido, o texto não pode ser acusado de ignorar os demais membros da família
de forma irracional, pois essa estratégia permite que a película mantenha o seu
foco em apenas um rosto e possa trabalhá-lo com propriedade, afinal, essa é uma
obra sobre Richard Williams.
Nesse sentido, a figura do indivíduo mencionado tem os seus ideais
maturados de um modo que o público compreende suas ações, contudo as condena
pela maneira que são efetuadas. Posto isto, a atuação de Will Smith é fundamental
para que essa ambiguidade aconteça, ou seja, o ator dá vida a um homem
perseverante e teimoso, entretanto fiel à própria ideologia; o assistente pode
sentir o cansaço e o peso que ele carrega, assim como o afeto, orgulho e
preocupação pelas filhas, sem deixar de expressar aversão pelas controversas
atitudes do personagem. Servindo de contraponto à forte personalidade de
Richard está Brandi Williams, esposa do protagonista que conta com um poderoso
desempenho cênico de Aunjanue Ellis e dita a dinâmica que mantém a família unida. Ademais, convém
destacar a performance de Jon Bernthal como Rick Macci, o semblante mais
cativante em cena que enlouquece com as decisões de Richard.
Em síntese, King Richard tem uma estrutura convencional, problemas de
roteiro e somente a atuação central de Will Smith impede que a produção seja um
desastre total.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 02 de dezembro de
2021
Direção: Reinaldo Marcus Green
Elenco: Will Smith, Saniyya Sidney, Demi
Singleton...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse
(Adoro Cinema):
King
Richard: Criando Campeãs é um filme biográfico inspirado em Richard Williams,
pai das famosas tenistas Serena Williams e Venus Williams.
Avaliação:
IMDb: 7,6
Rotten: 91%
Metacritic: 76%
Filmow (média geral):
3,7
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 3,3/4,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 3
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