Quarta série live-action da Marvel em 2021, Hawkeye chegou às
telinhas com o intuito de encerrar o ano com chave de ouro. Mais modesto que
seus antecessores, como WandaVision e Loki, o programa aposta na ludicidade da
trama e na energia de seus personagens para engendrar uma estória cativante.
De início, convém dizer que Hawkeye é, sobretudo, uma série natalina. Além
do design de produção característico e as várias menções ao feriado, o
espírito da comemoração é o que rege o tom da obra, sendo encontrado na química
entre os semblantes em tela, na concepção de novos rostos inoculados ao
Universo Marvel e até na construção de sequências inteiras, como quando Clint
participa de uma sessão de LARP. Atinente ao que foi mencionado, Jack é o
principal exemplo de descontração e bom-humor, visto que as suas cenas são hilárias
e a performance cômoda do ator corrobora o efeito desejado. Contudo, essa
jocosidade não funciona quando aplicada aos membros da Gangue do Agasalho,
considerando que eles são criminosos e as tentativas de torná-los cômicos os
faz caricatos. É a partir dessa brecha narrativa que o enredo não consegue
imprimir tensão quando deveria, pois a idiotização dos inimigos impede a existência
de um perigo real aos protagonistas.
A respeito do laço que une a Kate e o Clint, o roteiro estabelece de
forma progressiva o relacionamento entre os dois. Isto é, trata-se de uma
amizade que começa pontuada por sentimentos adversos, com uma forte admiração
sendo contraposta por sarcasmo e rabugem, mas que logo ganha contornos afetivos
e origina uma sintonia refletida nas habilidades conjuntas durante os blocos de
combate e nos pensamentos em comum. Essa dinâmica cresce naturalmente ao longo
dos episódios e serve para respaldar o contraste que há entre as perspectivas
de ambos sobre o que é ser herói, tendo em vista que esse ofício excede o
entretenimento e carrega consigo perigos e responsabilidades, como é frisado
pelo texto. Vale ressaltar que as atuações de Hailee Steinfeld e Jeremy Renner
permitem que a relação da dupla flua de maneira autêntica, com destaque para a
jovem atriz que esbanja carisma e está super confortável no papel.
No que concerne ao Gavião em si, o script é bastante atencioso ao
conceber um personagem conflituoso sem menosprezar os eventos passados de sua
jornada. Desde aspectos físicos - como o problema auditivo proveniente das inúmeras
explosões e pancadas - até questões emocionais, a série explora sentimentos
como luto, para salientar o elo que havia entre ele e Natasha, e culpa, para
investigar as ações efetuadas pelo herói sob o manto de Ronin. (SPOILERS A SEGUIR) Nesse sentido, a inserção de Eco
no entrecho tem como intuito apresentar os impactos que as atitudes de Clint
como Ronin tiveram sobre a vida de terceiros, sendo este um modo orgânico e
plausível de introduzir uma nova figura ao escopo de perfis da Marvel.
Outrossim, a inclusão de Yelena condiz com o desfecho de Viúva Negra, porém a
conclusão de seu arco com Clint acontece por meio de uma facilitação narrativa
que desconstrói as suas motivações; em resumo, é pouquíssimo convincente.
Ainda pertinente aos novos semblantes em tela, o Rei do Crime, para quem
não está familiarizado com o personagem, não desperta temor e não justifica o
receio que Clint teve ao correr de todo o programa em se manter distante de sua
atenção. Dito isso, a aparição do mafioso se alicerça na reputação que ele
construiu na série do Demolidor, mas que não repete o efeito aqui, terminando
por ser um mero fan-service que irá agradar somente quem assistiu a
produção da Netflix. (FIM DOS SPOILERS) Outro
rosto a fazer sua primeira participação no UCM é Eleanor, a mãe de Kate que,
embora interpretada pela renomada Vera Farmiga, tem um plot pouco
engajante e preguiçosamente expositivo.
Por fim, a direção também demonstra a sua parcela de talento. Começando
pela sequência inicial do episódio 1, o espectador é convidado a revisitar um
dos momentos de Vingadores (2012) sob outro ponto de vista, o que denota um
cuidado por parte dos criadores na reconstrução exata da situação. A habilidade
dos diretores é igualmente exaltada durante as cenas de luta, estas inteligíveis
e incrementadas com elementos que atribuem um charme adicional, como a execução
de planos-sequência, uso de slow-motion - tanto em prol de segmentos
mais ágeis quanto para efeito cômico -, rimas visuais e movimentos de câmera
que revigoram as passagens em questão.
Hawkeye, em suma, é uma série leve e divertida, tem um ótimo elenco e,
apesar das muitas piadas fora de tempo e dos deslizes narrativos, consegue
fechar o ano deixando os fãs com um sorriso na boca.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Primeiro episódio: 24 de novembro de 2021
Criada por: Jonathan Igla
Com: Jeremy Renner, Hailee Steinfeld, Alaqua
Cox…
País: EUA
Gênero: Ação
Status: Indefinido
Duração: 40 - 62 minutos
Sinopse
(Adoro Cinema):
Após anos dedicados ao seu
alter ego de Gavião Arqueiro, Clint Barton (Jeremy Renner) agora precisa passar
a tocha adiante. A escolhida para ocupar o posto de heroína é Kate Bishop
(Hailee Steinfeld), uma arqueira de apenas 22 anos. Quando uma imponente
presença do passado de Barton ameaça acabar com sua família, os dois arqueiros
são forçados a trabalhar juntos.
Avaliação (1ª Temporada):
IMDb (2021- ): 8,1
Rotten: 91%
Metacritic: 66%
Filmow (média geral):
3,6
Adoro Cinema
(usuários): 3,6
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
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