Musicais fazem parte de um gênero de filmes que costuma dividir os
espectadores entre aqueles que amam, e os que odeiam. Contudo, Tick, Tick...
Boom! chegou à Netflix mês passado com o intuito de quebrar esse estigma ao
contar uma estória tão envolvente quanto cativante.
Em primeira análise, convém salientar que Tick, Tick... Boom!, como
musical, funciona muito bem. As músicas são inoculadas desde o princípio e as
letras abrangem desde temas aleatórios até mensagens catárticas que exprimem o
conflito dos personagens. Nesse sentido, o roteiro demonstra sagacidade ao
entreter o público com canções que nada têm a dizer, porém são suficientes para
gerar diversão e expor a engenhosidade de Jonathan Larson como compositor. Vale
ressaltar que as faixas do longa, respaldadas pela montagem, se aliam
organicamente aos eventos em tela, originando uma incrível dinâmica que
concilia todos os semblantes em cena até o cenário em si e os objetos que o
compõem.
No entanto, para que tais blocos tenham eficiência é imprescindível que
o elenco esteja tão afiado quanto os elementos supracitados. Felizmente, os
atores apresentam uma sintonia vibrante que corrobora a energia das músicas e
permite que cada rosto tenha o seu talento devidamente enaltecido. O destaque
fica por conta de Andrew Garfield que transmite com veemência toda a paixão que
a sua persona sente por aquele universo, dando vida à uma performance de muita
entrega tanto nos palcos quanto no âmbito dramático. Em outras palavras, o ator
transita por finas nuances que separam o comprometimento da obsessão e loucura,
criando, portanto, um personagem complexo.
Dito isso, o carisma natural do ator e a familiaridade dos dilemas que
ele enfrenta estabelecem de início um forte laço com os assistentes que os
impulsiona a torcer e sofrer junto com o indivíduo em questão, sobretudo. Esse
elo é fortificado a partir da utilização de voice over que possibilita
que o interlocutor contextualize o espectador sobre o que está ocorrendo em
tela e faça comentários adicionais acerca das circunstâncias vigentes. Ademais,
tal afinidade semeia o terreno para que os debates propostos pelo texto sejam
mais palatáveis ao público, tais como processo criativo, desafios de carreira,
sonhos e envelhecimento.
Ambientado nos anos 90, o período retratado também serve como base para
o script maturar questões relacionadas à explosão de casos de HIV que
assombraram o mundo nos 80 e 90. É importante frisar que essa vertente
narrativa sustenta o arco do Michael e fomenta os principais confrontos entre
ele e o protagonista, o que auxilia, por conseguinte, o desenvolvimento até mesmo
do núcleo do Jonathan. Por outro lado, o plot da Susan não é privilegiado
da mesma forma, visto que a sua subtrama é explorada muito mais sob a
perspectiva do personagem central do que pelos próprios olhos, como acontece
com Michael, por exemplo. Deve-se enfatizar que o subnúcleo do amigo do
Jonathan no hospital é pincelado aos primórdios da película e depois só retorna
ao fim, o que denuncia a negligência do roteiro para com o respectivo arco.
Em linhas gerais, Tick, Tick... Boom! é um filme divertido, enérgico e
tocante que consegue equilibrar com a mesma eficácia suas diferentes abordagens
tonais.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
Comente,
Compartilhe e Siga Nosso Blog
Ficha Técnica:
Data de lançamento (Netflix): 19 de novembro de
2021
Direção: Lin-Manuel Miranda
Elenco: Andrew Garfield, Vanessa Hudgens,
Bradley Whitford...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA
Sinopse
(Netflix):
Prestes a completar 30
anos, um compositor promissor lida com o amor, a amizade e a pressão para criar
algo incrível antes que o tempo acabe.
Avaliação:
IMDb: 7,6
Rotten: 88%
Metacritic: 74%
Filmow (média geral):
3,9
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 3,7/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 8,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário