Após o lançamento de sucessos como A Chegada e Blade Runner 2049, Dennis
Villeneuve decidiu se aventurar novamente dentro do gênero sci-fi com a
adaptação do livro Duna. Segunda versão cinematográfica da obra de Frank
Herbert, o romance é considerado inadaptável por muitos leitores, com a
alegação de que a grandiosidade da mitologia elaborada pelo escritor seria
impossível de ser transmitida às telonas. Entretanto, Villeneuve apresentou um
resultado que, ao menos em nível estético, não frustrará os fãs da franquia.
Introdutoriamente, a concepção do universo de Duna é magnificente. Cada
equipamento inoculado, máquina, aparelho, lugar e até seres de raças diversas
possuem suas particularidades, o que denota a imane atenciosidade do filme com
o design de produção e o figurino. Nesse sentido, o contraste existente
entre as gigantescas naves e os seus tripulantes é filmado sob panoramas amplos
com o intuito de exaltar a opulente concepção cenográfica. Por sua vez, as
distinções de coloração entre os planetas realçam a belíssima fotografia
utilizada, ao passo que a recorrência de CGI não satura o visual. Ademais, vale
mencionar que os efeitos sonoros são a principal ferramenta de imersão durante
os momentos mais épicos.
Diferente de outros renomados sci-fi, tais como Star Wars e Star
Trek, Duna pode ser considerado uma ficção mais "pé no chão". Isso
porque os elementos fantásticos são pouco absurdos e não é difícil imaginar o
nosso mundo com algumas mudanças como a própria realidade retratada. Essa
familiaridade permite que os fatores menos comuns saltem aos olhos quando
presentes, sendo este o caso do antagonista Vladimir, por exemplo. Em outras
palavras, a sua caracterização ímpar enseja tanto perguntas quanto temor,
fazendo com que o espectador se mantenha intrigado e apreensivo em sua presença.
Com relação aos demais semblantes, a grande quantidade de figuras
entrando e saindo de tela impossibilita que o enredo tenha tempo suficiente
para criar e desenvolver o elo entre público e personagens. Dito isso, a ausência
de vínculo entre os interlocutores afeta o engajamento do assistente e inibe o
impacto de determinadas mortes quando elas ocorrem. (SPOILERS
A SEGUIR) Desse modo, apesar do carisma do ator, o falecimento do Duncan
não enternece os espectadores, tanto pelo frágil relacionamento supracitado
quanto pela cena clichê em que a circunstância se desenrola. (FIM DOS SPOILERS)
Sobretudo, alguns dos grandes problemas do longa são a dependência que a
estória tem de uma continuação e a necessidade de um sólido background
por parte do público. Ou seja, muitas coisas acontecem sem contextualização, o
que pode deixar os assistentes confusos e ainda menos estimulados. Posto isto,
a inserção de sequências oníricas, embora estilosas ao usufruírem com
ludicidade do slow motion, são usadas à exaustão e trabalham em campo
especulativo ao apenas semear detalhes que poderão ser destrinchados no futuro,
mas nada fornecem agora. De maneira similar se destaca o segmento final
que, além do desfecho óbvio, não possui relevância para a trama da película atual e existe somente para acrescentar emoção ao clímax e gerar potenciais
consequências ao protagonista.
Outrossim, o roteiro sofre com o excesso de conveniências. (SPOILERS A SEGUIR) Quando Paul e sua mãe são
sequestrados, o script não demonstra vergonha ao fazer com que apenas
Jessica seja amordaçada, permitindo que o seu filho use a Voz para libertá-los.
Outro exemplo de coincidência se passa durante o bloco em que
a dupla está fugindo da estação de testes ecológicos e há uma nave com dois
lugares esperando por eles, o que evidencia novamente a persistência do texto
em usar facilitações narrativas para contornar os dilemas de seus personagens. (FIM DOS SPOILERS)
Em linhas gerais, Duna é um filme visualmente sofisticado, porém a
demasia de coincidências, o elevado número de rostos mal desenvolvidos e a
imposição de aspectos dependentes de um conteúdo auxiliar prejudicam a experiência
como um todo.
Matheus J. S.
Assista e
Kontamine-se
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Brasil): 21 de outubro de
2021
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson,
Oscar Isaac...
Gênero: Ficção científica
Nacionalidade: EUA
Sinopse
(Filmow):
A vida do jovem Paul
Atreides (Timothée Chalamet) está prestes a mudar radicalmente. Após a visita
de uma mulher misteriosa, ele é obrigado a deixar seu planeta natal para
sobreviver ao ambiente árido e severo de Arrakis, o Planeta Deserto.
Avaliação:
IMDb: 8,2
Rotten: 83%
Metacritic: 74%
Filmow (média geral):
3,9
Adoro Cinema
(usuários/adorocinema): 4,1/4,5
Kontaminantes (Matheus J. S.): 5
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