Fazer comédia não é uma tarefa simples. A partir dessa asserção, pode-se inferir que o criador tem que conhecer o seu público-alvo e ter preestabelecida a abordagem que será utilizada. Nesse sentido, Adam McKay, após os sucessos de A Grande Aposta e Vice, retorna ao posto atrás das câmeras para contar de modo divertido a estória de um cometa que está prestes a atingir a Terra. No entanto, será que o diretor acertou novamente?

Em primeira análise, Não Olhe Para Cima se inicia com uma frase tragicômica do humorista Jack Handey que apregoa logo de cara o tom satírico que irá viger ao longo de toda a obra. Outro traço que de imediato salta aos olhos, é a edição frenética mesclada ao uso de iconografias que caracteriza o filme como uma produção autêntica de Adam McKay. Essa montagem é marcada pela recorrência de planos-detalhe e cortes em sequência que possuem como objetivo evocar a sensação de caos com a nova descoberta e projetar o nervosismo de seu personagem principal (Dr. Randall Mindy). Posto isto, o primeiro ato demonstra eficiência ao arrancar risos por meio do contraste existente de reações entre os cientistas e as pessoas de poder.

Outrossim, o longa se alicerça em temas atuais para estreitar o relacionamento com os espectadores e criticar a realidade que se vive hoje. Programas televisivos sensacionalistas, memes e desafios da internet, negacionismo, discurso de ódio, polarização política, espetacularização da tragédia e capitalismo são algumas das pautas escarnecidas pelo enredo. Sobretudo, o impacto provém do quão ridículo as situações surgem e tamanha a semelhança que elas apresentam com o mundo a nossa volta, gerando, em decorrência, um vislumbre assustadoramente genuíno de como a sociedade se comportaria em circunstâncias similares as do filme.

No que concerne ao elenco, os artistas que o integram formam uma equipe estelar. Entretanto, poucos dos rostos são realmente essenciais ao entrecho, visto que os personagens de Ron Perlman, Jonah Hill e Timothée Chalamet são completamente descartáveis. Por sua vez, o papel de Mark Rylance até possui relevância na trama, contudo a sua personalidade caricata dificulta a aceitação do público pela figura em questão. Ademais, a concepção do subnúcleo entre Brie e o Dr. Randall, apesar de expor o quão suscetível as pessoas podem se tornar com um pingo de fama, ocupa muito espaço narrativo. Destarte, deve-se mencionar que a ineficácia do arco e dos semblantes supracitados é também fruto de piadas bobas que se tornam cada vez mais saturadas, como frisado pelas burlescas e desnecessárias cenas pós-créditos.

Atinente às atuações, os atores podem ser definidos pelas características que as suas personas apresentam. Leonardo DiCaprio interpreta um professor inteligente e ansioso, Jennifer Lawrence é audaciosa e beligerante, enquanto Rob Morgan é o mais contido do grupo. Com relação aos intérpretes secundários, Meryl Streep faz uma presidente cínica, ao mesmo tempo em que Cate Blanchett incorpora a vulgaridade de uma repórter exibida. Em geral, são performances convincentes, mas que não exigem elevado grau de complexidade dramática.

Aproveitando o gancho, embora até esboce tentativas, o longa não tem espaço para o amadurecimento do drama individual de seus protagonistas. Em outras palavras, além dessa empreitada destoar da concepção tonal escolhida, sua inserção demasiado brusca afeta a assimilação dos assistentes pela nova acometida. A exceção fica por conta dos minutos finais, em que a iminência do cometa com o planeta desperta a solidariedade do público para com os personagens que o acompanharam por mais de duas horas, e a tensão oriunda da incógnita se o Apocalipse irá realmente acontecer ou não.

Em síntese, Não Olhe Para Cima é uma obra cáustica que dialoga mais do que nunca com a realidade. Todavia, o elenco inchado e o humor pastelão sem vínculo com o sarcasmo proposital do enredo impedem que a notoriedade da película seja maior.

Matheus J. S.

 

Assista e Kontamine-se

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Netflix): 24 de dezembro de 2021

Direção: Adam Mckay

Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep...

Gênero: Comédia

Nacionalidade: EUA

Sinopse (Netflix):

Dois astrônomos descobrem um cometa mortal vindo em direção à Terra e partem em um tour midiático para alertar a humanidade. Só que ninguém parece dar muita bola.

Avaliação:

IMDb: 7,3

Rotten: 55%

Metacritic: 50%

Filmow (média geral): 3,9

Adoro Cinema (usuários): 4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 7

Não Olhe Para Cima

Fazer comédia não é uma tarefa simples. A partir dessa asserção, pode-se inferir que o criador tem que conhecer o seu público-alvo e ter preestabelecida a abordagem que será utilizada. Nesse sentido, Adam McKay, após os sucessos de A Grande Aposta e Vice, retorna ao posto atrás das câmeras para contar de modo divertido a estória de um cometa que está prestes a atingir a Terra. No entanto, será que o diretor acertou novamente?

Em primeira análise, Não Olhe Para Cima se inicia com uma frase tragicômica do humorista Jack Handey que apregoa logo de cara o tom satírico que irá viger ao longo de toda a obra. Outro traço que de imediato salta aos olhos, é a edição frenética mesclada ao uso de iconografias que caracteriza o filme como uma produção autêntica de Adam McKay. Essa montagem é marcada pela recorrência de planos-detalhe e cortes em sequência que possuem como objetivo evocar a sensação de caos com a nova descoberta e projetar o nervosismo de seu personagem principal (Dr. Randall Mindy). Posto isto, o primeiro ato demonstra eficiência ao arrancar risos por meio do contraste existente de reações entre os cientistas e as pessoas de poder.

Outrossim, o longa se alicerça em temas atuais para estreitar o relacionamento com os espectadores e criticar a realidade que se vive hoje. Programas televisivos sensacionalistas, memes e desafios da internet, negacionismo, discurso de ódio, polarização política, espetacularização da tragédia e capitalismo são algumas das pautas escarnecidas pelo enredo. Sobretudo, o impacto provém do quão ridículo as situações surgem e tamanha a semelhança que elas apresentam com o mundo a nossa volta, gerando, em decorrência, um vislumbre assustadoramente genuíno de como a sociedade se comportaria em circunstâncias similares as do filme.

No que concerne ao elenco, os artistas que o integram formam uma equipe estelar. Entretanto, poucos dos rostos são realmente essenciais ao entrecho, visto que os personagens de Ron Perlman, Jonah Hill e Timothée Chalamet são completamente descartáveis. Por sua vez, o papel de Mark Rylance até possui relevância na trama, contudo a sua personalidade caricata dificulta a aceitação do público pela figura em questão. Ademais, a concepção do subnúcleo entre Brie e o Dr. Randall, apesar de expor o quão suscetível as pessoas podem se tornar com um pingo de fama, ocupa muito espaço narrativo. Destarte, deve-se mencionar que a ineficácia do arco e dos semblantes supracitados é também fruto de piadas bobas que se tornam cada vez mais saturadas, como frisado pelas burlescas e desnecessárias cenas pós-créditos.

Atinente às atuações, os atores podem ser definidos pelas características que as suas personas apresentam. Leonardo DiCaprio interpreta um professor inteligente e ansioso, Jennifer Lawrence é audaciosa e beligerante, enquanto Rob Morgan é o mais contido do grupo. Com relação aos intérpretes secundários, Meryl Streep faz uma presidente cínica, ao mesmo tempo em que Cate Blanchett incorpora a vulgaridade de uma repórter exibida. Em geral, são performances convincentes, mas que não exigem elevado grau de complexidade dramática.

Aproveitando o gancho, embora até esboce tentativas, o longa não tem espaço para o amadurecimento do drama individual de seus protagonistas. Em outras palavras, além dessa empreitada destoar da concepção tonal escolhida, sua inserção demasiado brusca afeta a assimilação dos assistentes pela nova acometida. A exceção fica por conta dos minutos finais, em que a iminência do cometa com o planeta desperta a solidariedade do público para com os personagens que o acompanharam por mais de duas horas, e a tensão oriunda da incógnita se o Apocalipse irá realmente acontecer ou não.

Em síntese, Não Olhe Para Cima é uma obra cáustica que dialoga mais do que nunca com a realidade. Todavia, o elenco inchado e o humor pastelão sem vínculo com o sarcasmo proposital do enredo impedem que a notoriedade da película seja maior.

Matheus J. S.

 

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Ficha Técnica:

Data de lançamento (Netflix): 24 de dezembro de 2021

Direção: Adam Mckay

Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep...

Gênero: Comédia

Nacionalidade: EUA

Sinopse (Netflix):

Dois astrônomos descobrem um cometa mortal vindo em direção à Terra e partem em um tour midiático para alertar a humanidade. Só que ninguém parece dar muita bola.

Avaliação:

IMDb: 7,3

Rotten: 55%

Metacritic: 50%

Filmow (média geral): 3,9

Adoro Cinema (usuários): 4,0

Kontaminantes (Matheus J. S.): 7