28 de dezembro de 2021

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Apresentando os Ricardos

Pôster

Após a parceria com a Netflix em 2020 para o lançamento de Os 7 de Chicago, Aaron Sorkin se alia ao concorrente Prime Video para entregar seu mais novo filme: Apresentando os Ricardos. Ao focar na vida de Lucille Ball e Desi Arnaz, o longa aposta no talento de seu elenco para contar uma estória que ninguém pediu, porém que funciona com ressalvas.
Em primeiro lugar, as entrevistas de indivíduos que participaram de algum modo dos eventos retratados são o que de imediato chama a atenção. Ainda que tais sequências forneçam perspectivas distintas ao que está sendo visto e atribuam um frescor às convenções estruturais utilizadas, a inserção destas é avulsa e pouco agrega ao enredo de maneira holística. Por outro lado, o diretor é preciso ao brincar com a imaginação de sua protagonista ao transmitir à tela as divagações criativas da personagem com o intuito de emular os trechos de um sitcom. Ademais, Sorkin também demonstra proficiência ao engendrar sequências em que diversas pessoas discutem, fazendo-o sem perder a naturalidade do texto ou permitir que se note a mão do roteirista por trás de tais construções dialógicas.
No que lhe concerne, as atuações são um dos pontos altos da película. Javier Bardem, primordialmente, faz um homem desenvolto e carismático que conquista facilmente a simpatia do público. Por sua vez, Nicole Kidman, com mais tempo em cena, pode transitar entre as distintas facetas de sua persona. Sua camada superficial é mais firme e intrépida, ao passo que os desdobramentos do seu arco revelam gradualmente um caráter marcado pela dúvida e por conflitos internos. Cabe frisar que devido à cineasta incorporar uma atriz dentro da trama, ela precisa muitas vezes atuar como se estivesse interpretando, o que resulta em uma nuance adicional pontuada por leveza e jocosidade. Além, vale mencionar a participação de J. K. Simmons que apresenta a acidez, o sarcasmo e a rabugem de seus melhores papeis, mas que não deixam de revestir o coração de um atencioso e gentil senhor.
Em função do exposto, a influência da performance do trio sobre o entrecho é tamanha que o filme perde toda a energia quando nenhum dos três se encontra em evidência. Dessarte, Bardem e Nicole têm uma química magnética em tela, o que possibilita que o espectador se mantenha imerso no enredo ainda que o script não esteja tão afiado. O mesmo se aplica a dinâmica orgânica que rege os momentos de contato entre Lucille (Kidman) e William (Simmons). Posto isto, é perspícuo que a figura da Nicole possui maior realce na trama, o que relega o seu marido a um papel praticamente secundário e impede, por conseguinte, que os assistentes desenvolvam um laço mais profundo com o plot do personagem e o ator tenha o seu próprio espaço para brilhar.
Atinente aos aspectos técnicos, o figurino e o design de produção trabalham em conjunto para projetar com fidelidade a ambientação estadunidense dos anos 50. Dito isso, os destaques ficam por conta da recorrência de cigarros que representam um hábito comum da época, e a predominância de tons marrons nas vestimentas e nos objetos cenográficos que evocam as tendências de moda do período em questão. Nesse sentido, o longa se aproveita da data em que a estória ocorre para criticar os valores conservadores da sociedade americana, como a ideia de que uma mulher grávida na televisão seria ultrajante aos bons costumes e a inadmissibilidade de se ter um homem não nascido nos Estados Unidos em algum cargo de poder. Sobretudo, são pautas que surgem com naturalidade e progridem sem parecer piegas ou forçadas.
No mais, a edição da obra é problemática. Em outras palavras, a película faz uso de flashbacks para explorar o passado do casal principal, contudo os saltos temporais são efetuados de forma tão confusa que o público leva alguns minutos para compreender o que está havendo e ser fisgado novamente pelo texto. A maquiagem, de similar modo, tem peso negativo sobre a caracterização da protagonista, visto que é patente o fato de a atriz estar coberta de produtos e se distanciar da verdadeira fisionomia de Lucille Ball. Outrossim, é pertinente sublinhar o clímax que, até certo ponto, caminhava para um desfecho bobo e genérico, quando o roteiro enfim arquiteta uma manobra que culmina no estopim de um confronto que vinha sendo até então apenas cultivado. É, portanto, um encerramento amargo aos personagens, mas que foge do óbvio e propicia uma inesperada subversão de emoções.
Apresentando os Ricardos é, em suma, um filme imperfeito que se apoia na habilidade de seus atores para tecer o recorte de um importante momento da vida de dois artistas famosos.
Matheus J. S.
 
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Ficha Técnica:
Data de lançamento (Amazon): 21 de dezembro de 2021
Direção: Aaron Sorkin
Elenco: Nicole Kidman, Javier Bardem, J. K. Simmons...
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

Sinopse (Adoro Cinema):
Em Being the Ricardos, Lucille Ball (Nicole Kidman) e Desi Arnaz (Javier Bardem) são ameaçados por chocantes acusações pessoais, uma difamação política e tabus culturais no drama de bastidores.

Avaliação:
IMDb: 6,7
Rotten: 70%
Metacritic: 60%
Filmow (média geral): 3,1
Adoro Cinema (usuários): 3,0
Kontaminantes (Matheus J. S.): 7
Avaliação


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