Após a parceria com
a Netflix em 2020 para o lançamento de Os 7 de Chicago, Aaron Sorkin se alia ao
concorrente Prime Video para entregar seu mais novo filme: Apresentando os Ricardos.
Ao focar na vida de Lucille Ball e Desi Arnaz, o longa aposta no talento de seu
elenco para contar uma estória que ninguém pediu, porém que funciona com
ressalvas.
Em primeiro lugar,
as entrevistas de indivíduos que participaram de algum modo dos eventos
retratados são o que de imediato chama a atenção. Ainda que tais sequências
forneçam perspectivas distintas ao que está sendo visto e atribuam um frescor às
convenções estruturais utilizadas, a inserção destas é avulsa e pouco agrega ao
enredo de maneira holística. Por outro lado, o diretor é preciso ao brincar com
a imaginação de sua protagonista ao transmitir à tela as divagações criativas da
personagem com o intuito de emular os trechos de um sitcom. Ademais, Sorkin
também demonstra proficiência ao engendrar sequências em que diversas pessoas discutem,
fazendo-o sem perder a naturalidade do texto ou permitir que se note a mão do
roteirista por trás de tais construções dialógicas.
No que lhe concerne,
as atuações são um dos pontos altos da película. Javier Bardem,
primordialmente, faz um homem desenvolto e carismático que conquista facilmente
a simpatia do público. Por sua vez, Nicole Kidman, com mais tempo em cena, pode
transitar entre as distintas facetas de sua persona. Sua camada superficial é mais
firme e intrépida, ao passo que os desdobramentos do seu arco revelam gradualmente
um caráter marcado pela dúvida e por conflitos internos. Cabe frisar que devido
à cineasta incorporar uma atriz dentro da trama, ela precisa muitas vezes atuar
como se estivesse interpretando, o que resulta em uma nuance adicional pontuada
por leveza e jocosidade. Além, vale mencionar a participação de J. K. Simmons que
apresenta a acidez, o sarcasmo e a rabugem de seus melhores papeis, mas que não
deixam de revestir o coração de um atencioso e gentil senhor.
Em função do
exposto, a influência da performance do trio sobre o entrecho é tamanha que o
filme perde toda a energia quando nenhum dos três se encontra em evidência. Dessarte,
Bardem e Nicole têm uma química magnética em tela, o que possibilita que o
espectador se mantenha imerso no enredo ainda que o script não esteja tão
afiado. O mesmo se aplica a dinâmica orgânica que rege os momentos de contato
entre Lucille (Kidman) e William (Simmons). Posto isto, é perspícuo que a figura da
Nicole possui maior realce na trama, o que relega o seu marido a um papel
praticamente secundário e impede, por conseguinte, que os assistentes desenvolvam
um laço mais profundo com o plot do personagem e o ator tenha o seu próprio
espaço para brilhar.
Atinente aos
aspectos técnicos, o figurino e o design de produção trabalham em conjunto para
projetar com fidelidade a ambientação estadunidense dos anos 50. Dito isso, os
destaques ficam por conta da recorrência de cigarros que representam um hábito
comum da época, e a predominância de tons marrons nas vestimentas e nos objetos
cenográficos que evocam as tendências de moda do período em questão. Nesse
sentido, o longa se aproveita da data em que a estória ocorre para criticar os valores
conservadores da sociedade americana, como a ideia de que uma mulher grávida na
televisão seria ultrajante aos bons costumes e a inadmissibilidade de se ter um
homem não nascido nos Estados Unidos em algum cargo de poder. Sobretudo, são pautas
que surgem com naturalidade e progridem sem parecer piegas ou forçadas.
No mais, a edição
da obra é problemática. Em outras palavras, a película faz uso de flashbacks para
explorar o passado do casal principal, contudo os saltos temporais são
efetuados de forma tão confusa que o público leva alguns minutos para
compreender o que está havendo e ser fisgado novamente pelo texto. A maquiagem,
de similar modo, tem peso negativo sobre a caracterização da protagonista, visto
que é patente o fato de a atriz estar coberta de produtos e se distanciar da
verdadeira fisionomia de Lucille Ball. Outrossim, é pertinente sublinhar o clímax
que, até certo ponto, caminhava para um desfecho bobo e genérico, quando o
roteiro enfim arquiteta uma manobra que culmina no estopim de um confronto que
vinha sendo até então apenas cultivado. É, portanto, um encerramento amargo aos
personagens, mas que foge do óbvio e propicia uma inesperada subversão de
emoções.
Apresentando os
Ricardos é, em suma, um filme imperfeito que se apoia na habilidade de seus
atores para tecer o recorte de um importante momento da vida de dois artistas
famosos.
Matheus J. S.
Assista e Kontamine-se
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Ficha
Técnica:
Data de
lançamento (Amazon): 21 de dezembro de 2021
Direção: Aaron
Sorkin
Elenco: Nicole
Kidman, Javier Bardem, J. K. Simmons...
Gênero: Drama
Nacionalidade:
EUA
Sinopse (Adoro Cinema):
Em Being the Ricardos, Lucille Ball (Nicole Kidman) e Desi Arnaz
(Javier Bardem) são ameaçados por chocantes acusações pessoais, uma difamação
política e tabus culturais no drama de bastidores.
Avaliação:
IMDb: 6,7
Rotten: 70%
Metacritic: 60%
Filmow (média geral): 3,1
Adoro Cinema (usuários): 3,0
Kontaminantes
(Matheus J. S.): 7
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